João Bosco Botelho, Doutor Honoris causa, Universidade Toulouse III-Paul Sabatier.
O encantamento pela astrologia, como prática de adivinhação, consolidou-se nos primeiros núcleos urbanos, em torno de cinco mil anos. Não há como separar a astrologia das antigas crenças e idéias religiosas. Os vestígios dessa intrincada dependência podem ser rastreados em alguns registros de escrita cuneiforme.
O sinal gráfico, nessa linguagem, correspondente ao divino, elemento incomensurável e todo poderoso do passado e do futuro, é o mesmo que designa a palavra estrela. Os deuses babilônicos, Schamasch, Sin e Ischtar, eram os guardiões do céu sob a forma do Sol, da Lua e do planeta Vênus, os três astros mais destacados do céu.
Muitas expressões atuais estão repletas de significado astrológico. O prefixo latino “menstruo”, que originou a palavra menstruação, está ligado ao processo repetitivo de vinte e oito dias do mês lunar.
Como algumas culturas pressupuseram os astros mais próximos das divindades, pode-se pensá-los como representações físicas de deuses e deusas. Em muitos processos civilizatórios, os poderes instalaram tempos em montanhas: chineses, no Himalaia; japoneses, na Fuji; gregos, no Olimpo e hebreus, no Sinai. Onde não existiam montanhas, construíram montes artificiais. Os mais antigos exemplos, os zigurates, na Mesopotâmia, com o topo dedicado às moradas de especialistas da astrologia e adivinhação e culto dos deuses.
No Império de Augusto, em Roma, foi adotada a semana planetária de sete dias. De acordo com a crença no poder dos astros, cada dia era dedicado a um planeta, ao Sol e à Lua.
Com a gradativa cristianização, os primeiros teóricos iniciaram forte resistência contra o culto do Sol, identificado com o deus egípcio Mitra. O intento era desfazer a possível associação alegórica entre a adoração solar com a de Jesus Cristo. A preocupação está clara no Evangelho de São Paulo, repreendendo os Gálatas (Gl 4,8-10) que continuavam adorando as mesmas divindades do politeísmo para identificar os dias e os meses.
Em pleno século XVII, a certeza coletiva de que os planetas determinavam o rumo da vida era de tamanha solidez que a estatística de mortalidade da cidade de Londres, no ano de 1632, registrou treze mortes por “planet” ou pela influência do planeta.
A astrologia, como no passado, continua sendo utilizada pelos adivinhos, atuando como curadores, para diminuir a insegurança em relação ao futuro desconhecido e à morte temida.
Influência dos astros com doenças no medievo europeu
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