João Bosco Botelho, Doutor Honoris causa, Universidade Toulouse III-Paul Sabatier
Desde os primeiros registros, homens e mulheres aliaram-se aos panteões, para entender a finitude da vida, mas, também se organizaram para viver mais e melhor desafiando o tirânico determinismo divino da morte e, sempre, todo o tempo, aderiram às divindades curadoras.
A Medicina como paideia é um dos marcos dessa epopeia, onde está transparente o conflito de competência entre as práticas de curas e as ideias e crenças religiosas, objetivando ampliar os limites da vida.
É possível teorizar as práticas de curas em três conjuntos, mais claros desde os primeiros registros, sob as respectivas influências predominantes[1]:
– Empírica, conhecimentos historicamente acumulados
– Divina, ideias e crenças religiosas.
Essas se interligaram ao mágico, não mensurável, impossível de identificar a cronologia, antes dos registros.
– Oficial, laica, evidentemente atrelada às instituições sob os poderes sociopolíticos e econômicos dominantes;
Esse processo complexo alcançou o esplendor na Grécia do século IV a.C.
Desde lá, permanece o ponto diferencial: a oficial, única que organizou as estruturas teóricas para sustentar as práticas de curas às etiologias das doenças e empurrou os limites da vida.
Do outro lado, os poderes nos primeiros núcleos urbanos, ora mais, ora menos, ampararam todas, na proporção em que resolviam os conflitos sociais provocados pelo medo coletivo da morte prematura que enfraquece a ordem social.
A divina, mágica em si mesma, ancorada em práticas divinatórias; a empírica, nos saberes historicamente acumulados. Ambas, tratam o diagnóstico, o tratamento e o prognóstico de modo casual, ametódico, sem compromisso para desvendar a origem das moléstias e as causas das mortes.
Tanto a divina quanto a empírica permaneceram guardadas pelos especialistas da coisa sagrada, que representaram ásperos obstáculos para reproduzir os saberes fora dos restritos grupos dos representantes das divindades, enclaustrados nos silêncios que calam as críticas.
Essas evidências ficam claras nas civilizações-culturas que se desenvolveram no Oriente Médio, Mesopotâmia e nas margens dos rios Indo e Nilo.
Apesar do notável senso empírico, as práticas de cura divina e empíricas permaneceram contidas nas amarras do sagrado, assinaladas no Antigo Testamento com três argumentos:
- O incrível poder do curador divino sobre a vida e a morte de tudo e de todos:
Dt 32: 39 E agora, vede bem: eu, sou eu, e fora de mim não há outro Deus! Sou eu que mato e faço viver. Sou eu que firo e torno a curar (e da minha mão ninguém se livra).
- Os saberes empíricos como dádivas divinas:
Sb 17: 20 Ele me deu um conhecimento infalível dos seres para entender a estrutura do mundo, a atividade dos elementos, o começo, o meio e o fim dos tempos, a alteração dos solstícios, as mudanças de estações, os ciclos do ano, a posição dos astros, a natureza dos animais, a fúria das feras, o poder dos espíritos, os pensamentos dos homens, a variedade das plantas, as virtudes das raízes.
- O médico como representante reconhecido e festejado do divino:
Eclo 38: 1-2 Rende ao médico as honras que lhe são devidas, por causa de seus serviços, porque o Senhor o criou. Pois é do Altíssimo que vem a cura, como um presente que se recebe do rei. A ciência do médico o faz trazer a fronte erguida, ele é admirado pelos grandes.
A cultura grega, no século IV a.C., absorveu os saberes anteriores das curas divinas e empíricas, mas, espetacularmente, iniciou o processo de separação de ambas da pratica oficial.
Sem abandonar a influência do divino sobre a vida e a morte, os cantos homéricos mostraram claro destaque do médico como representante da oficial e o principal agente na luta contra os agravos à saúde:
Máxima glória dos povos arquivos, Nestor de Gerena, toma o teu carro depressa; ao teu lado coloca Macáon, e para as naves escuras dirige os velozes cavalos, pois é sabido que um médico vale por muitos guerreiros, que sabe dardos extrair e calmantes deitar nas feridas (Ilíada XI, 510).
É possível entender o médico homérico também inserido no espaço sagrado das relações sociais por meio dos filhos de Asclépio, de Macaão, médico, e Podalírio, cirurgião, que se destacaram na guerra de Tróia, mencionado por Homero, e das são, o deus protetor da Medicina grega, e das filhas Hígia, a saúde perfeita, e Panaceia, remédio para todos os males.
Essa ambiguidade, com as três praticas, possivelmente, reproduzindo herança sociocultural anterior à cultura grega está exposta na genialidade de Homero, expos no Ilíada nos Cantos II, IV, culminando no Canto XI: Pois um médico é homem que vale por muitos outros…
O deus Asclépio, filho do poderoso Apolo com a mortal Corônis conquistou fama inimaginável, celebrado em grandes festas populares, nos dias 17 e 18 de outubro[2], data em que, até hoje, se comemora o dia do médico. Esse conjunto de informações somadas ao determinismo dos teóricos cristãos, no século II, para anularem as fortes influências do politeísmo greco-romano, resultou no espetacular sincretismo religioso: a mudança do deus grego Asclépio para São Lucas, o Evangelista médico, como o expoente aderido ao dia 18 de outubro.
Ambos, Asclépio, século IV a. C., e São Lucas, século II, nos respectivos tempos, transbordavam de prestígio junto aos poderes e credibilidades populares.
Asclépio além de médico famoso, ressuscitou alguns mortos, e por essa razão foi fulminado por Zeus com os raios das Ciclopes porque temia que a ordem natural fosse subvertida pelo retorno à vida dos mortos.
São Lucas, grego, médico, nasceu da Antioquia, comunidade cristã, na Síria antiga, próxima à costa do Mediterrâneo, hoje, no sudeste da Turquia. Possivelmente filho de família rica, autor do terceiro evangelho e dos Atos dos Apóstolos, considerados os de maior expressão literária do Novo Testamento.
Muitas esculturas e afrescos retratando Asclépio e a filha Panaceia, entre os anos 400 e 100 a. C., contêm a serpente enrolada em um bastão, como símbolo do renascimento. O poder da divindade mantendo a primazia da vida sobre a morte, foi revigorado pela gradativa consolidação do cristianismo como religião dominante.
A serpente de Asclépio se enrolou na cruz cristã e formou um dos mais belos sincretismos religiosos da história das religiões.
Não é sem razão nem simples coincidência que os médicos comemoram, muitos sem saberem porque, o dia 18 de outubro como marco da resistência à morte inevitável.
Também naquele século IV a.C., na Grécia, a medicina-oficial era compreendida como arte e apresentava-se com clareza na estrutura dos saberes empenhados em desvendar a natureza visível e invisível. A profissão sedimentada em sistemas de aprendizados, influenciou profundamente até os dias atuais, os caminhos da medicina-oficial no Ocidente.
A Medicina grega. concebida como ciência e, nessa condição, valorizou a etiologia, exposta no texto Leucipo de Mileto[3]: Nenhuma coisa se engendra ao acaso, mas todas a partir da razão e por necessidade.
A etiologia da doença, estendida ao diagnóstico e à terapêutica mostrou-se clara: a busca da compreensão de como o corpo funcionava amparava a prática dessa prática de cura ligada aos pré-socráticos, especificamente, aos filósofos jônicos, intérpretes da natureza circundante mensurável ou não por meio da tékhne.
Um dos fatos que torna essa reflexão fascinante é que sem rupturas, as práticas da medicina-oficial em torno da crença no poder de cura dos deuses e deusas, mas buscando as origens das enfermidades e as causas das mortes, seguiram fortes no universo cultural grego.
Os heróis gregos, essencialmente curadores, continuaram associados à proteção pessoal e coletiva, em especial, às curas de enfermidades e, consequentemente, ampliando os limites da vida. Essa característica compunha o senso comum: deuses e deusas, diversos dos mortais, possuidores de atributos extraordinários[4]: sarar doenças e feridas de guerra:
Por conseguinte, afirmaremos que também Asclépio sabia isto, e que, para os que gozam de saúde física, graças a sua natureza e à sua dieta, mas têm qualquer doença localizada, para os que têm essa constituição, ensinou a Medicina, que expulsa as suas enfermidades por meio de remédios e incisões, prescrevendo-lhes a dieta a que estão habituados, a fim de não prejudicarem os negócios políticos.
Contudo, o médico atuava além do espaço sagrado das relações sociais, exercendo a arte de adivinhar, porém sobre sistema teórico coerente que observava e interpretava os sinais e sintomas das doenças, projetados na natureza visível.
A associação entre as ideias da Escola Médica de Cós à filosofia jônica, possibilitou o avanço gigantesco — Medicina como paideia — estabelecendo a ponte que ligaria, para sempre, a busca da etiologia das doenças ao diagnóstico, tratamento e prognóstico.
Desse modo, a Medicina como paideia interferiu profundamente na relação entre as três práticas de curas, impondo o predomínio da oficial sobre as outras.
Os conceitos jônicos se tornaram essenciais à medicina-oficial. As normas alcançaram os significantes das enfermidades entendendo-as como desvios da natureza e em maior amplitude, mudança na physis do homem.
É possível compor cinco alicerces da physis embutidos na Medicina como paideia:
– Universalidade e individualidade: todas as coisas têm a sua physis própria, os astros, os ventos, as águas, os medicamentos, o homem com as suas partes e as doenças.
O texto hipocrático Epidemias, distinguiu[5]: “…a physis comum de todas as coisas, da physis própria de cada coisa”.
– Princípio: a physis é o princípio (arkhé) de tudo que existe.
O texto hipocrático Sobre os Lugares e o Homem[6]: “A physis do corpo é o princípio da razão da Medicina”.
– A natureza é harmoniosa e produz harmonia.
– A natureza é racional em si mesma. Por esta razão existe uma fisiologia: a ciência na qual o logos do homem se harmoniza diretamente com os logos da natureza.
– Divindade: a physis é em si mesma divina.
É possível que o caráter divino da physis estivesse transparecendo a necessidade de o consenso comum manter a pratica de cura oficial ligada às divina e empírica ou, sob outra perspectiva, não ser possível a separação.
Esse é um dos aspectos mais interessantes na Medicina grega, no século IV a.C.: mesmo sem ataque ao panteão protetor da saúde, em especial, ao deus Asclépio, os médicos de Cós e os filósofos estabeleceram elos duradouros entre o binômio saúde-doença à natureza circundante, pressuposto presente na introdução do manuscrito Dos Ventos, Águas e Regiões[7], de autor desconhecido, do século IV
“Quem quiser aprender bem a arte de médico deve proceder assim: em primeiro lugar deve ter presentes as estações do ano e os seus efeitos, pois nem todas são iguais, mas diferem radicalmente quanto a sua essência especificada e quanto as suas mudanças. Deve ainda observar os ventos quentes e frios, começando pelos que são comuns a todos os homens e continuando pelas características de cada região. Deve ter presente também os efeitos dos diversos gêneros de Águas. Estas distinguem-se não só pela densidade e pelo saber, mas ainda por suas virtudes. Quando um médico chegar a uma cidade desconhecida para ele, deve determinar, antes de mais nada, a posição que ela ocupa em relação as várias correntes de ar ao curso de sol (…) assim como anotar o que se refere as águas (…) e a qualidade do solo (…). Se conhecer o que diz respeito a mudança das estações e do clima, o nascimento e o ocaso dos astros, conhecerá antecipadamente a qualidade do ano. Pode ser que alguém considere isto demasiadamente orientado para a ciência, mas quem pensar assim pode convencer-se, se alguma coisa for capaz de aprender, que a astronomia pode contribuir essencialmente para a Medicina, pois a mudança nas doenças do homem, está relacionada com a mudança do clima”.
As doenças melhores compreendidas compuseram a busca da etiologia. Essa nova realidade é um ponto fundamental da prática de cura oficial grega, do século IV, marcando a união entre a filosofia jônica e os conceitos hipocráticos de saúde e doença.
Entre as muitas consequências é possível identificar:
– Cada doente ficou compreendido como unidade, diferente de todos os outros;
– Desaparecimento gradual da receita médica que valia como fórmula de bolo.
O centro de confluência dessa nova estrutura aproximou-se da teoria dos Quatro Elementos, do filósofo e médico Empédocles (495-435 a.C.). Segundo o magistral filósofo de Agrigento, os corpos são formados por quatro elementos eternos que permanecem em constante movimento: fogo, terra, água e ar.
Estava em curso, pela primeira vez, a proposta teórica para explicar a origem das doenças divorciada de deusas e deuses. Não muitos anos após, no manuscrito Da Natureza do Homem, Políbio[8], médico da Escola de Cós, descreveu a teoria dos Quatro Humores, idealizando a etiologia das enfermidades como consequências do desequilíbrio entre um ou mais humores, sem nominar deuses e deusas, portanto trazendo as doenças à materialidade, sendo possível nominar e quantificar.
Políbio construiu um dos mais marcantes legados da Medicina como paideia: a teoria dos Quatro Humores, neste processo teórico, considerada o primeiro corte epistemológico da Medicina, unindo elementos reconhecidos da Filosofia à Medicina: cada elemento de Empédocles ficou associado à categoria de um humor de Políbio, resultando impressionante coerência as qualidades da natureza com as do corpo.
A Medicina como paideia saltou do domínio casual e ametódico para o método construído em torno da busca da etiologia nos desequilíbrios dos humores[9]:
…o corpo humano contem sangue, fleuma, bílis amarela e bílis negra, que estes elementos constituem a natureza do corpo e são responsáveis pelas dores que se sentem e pela saúde que se goza. A saúde atinge o seu máximo quando estas coisas estão na devida proporção em relação umas às outras, no que toca a sua composição, força e volume além de estarem devidamente misturadas. A dor surge quando há excesso ou falta de uma destas coisas, ou quando uma delas se isola no corpo em vez de estar misturadas com as outras.
O diagnóstico acompanhava o prognóstico e a terapêutica para identificar o excesso ou da falta do humor desequilibrado. Como consequência, os tratamentos se voltaram para excretar os responsáveis pelas doenças por meio de vomitórios, sudoreses, diureses, diarreias e sangrias. O prognóstico se materializava na boa ou na ausência de resposta à terapêutica.
Como toda mudança profunda nos saberes, a passagem das práticas de curas divina e empírica, ambas ametódicas, mágicas, à prática oficial, metódica, unindo o diagnóstico, prognóstico e o tratamento valorizando a busca da etiologia da doença e às causas de mortes, encontrou resistência. Para contornar esses estorvos, os médicos expunham, como os sofistas, perante o público, os problemas determinados pelas doenças que poderiam causar a morte e a dor fora de controles.
Não é demais repetir que Platão[10] descreveu a nova postura do médico e do político. Ambos, baseados nos respectivos saberes, deveriam sempre que necessário, intervir na sociedade para promover melhoras. O diálogo platônico estabelece alguns parâmetros da nova posição social do médico atuando como agente da Medicina como paideia no magistral Político (296a-b-c):
“Estrangeiro: — É interessante. Dizem, com efeito, que se alguém conhece leis melhores que as existentes não tem o direito de dá-las à sua própria cidade senão que for necessário para promover melhoras na sociedade.
Sócrates, o Jovem: — Muito bem! Não estarão eles certos?
Estrangeiro: — Talvez. Em todo o caso, se alguém dispensa esse consentimento e impõe a reforma pela força, que nome se dará a esse golpe? Mas, espera. Voltemos primeiro aos exemplos precedentes.
Sócrates, o Jovem: — Que queres dizer?
Estrangeiro: — Suponhamos um médico que não procura persuadir seu doente, senhor de sua arte, impõe a uma criança, a um homem ou uma mulher o que julga melhor, não importando os preceitos escritos. Que nome se dará a essa violência? seria por acaso o de violação da arte e erro pernicioso? E a vítima dessa coerção não teria o direito de dizer tudo, menos que foi objeto de manobras perniciosas e ineptas por parte de médicos que as impuseram.
Sócrates, o Jovem: — Dizes a pura verdade.
Estrangeiro: — Ora, como chamaríamos aquele que peca contra a arte política? Não o qualificaríamos de odioso, mal, injusto?”
A autoridade de Platão não foi suficiente para estancar as resistências dos curadores atrelados aos panteões, muito mais numerosos se comparados aos médicos de Cós, criticaram a nova teorização a Medicina como Paideia.
O corte separando o antes e o depois, nos saberes da Medicina como paideia, encontra-se também no livro Das Doenças Sagradas[11], de autor desconhecido, do século IV a.C. porque pela primeira vez está registrado a dúvida de existir sacralidade nas doenças e o desprezo ao milagre, portanto, desmanchando a sustentação das práticas de curas empíricas e divinas:
Sobre a enfermidade que chamam de sagrada sucede o seguinte. Em nada me parece que seja algo mais divino nem mais sagrado do que as outras, senão que tem sua natureza própria, como as demais enfermidades, e daí se origina. Porém seu fundamento e causa natural o consideram os homens como coisa divina por sua inexperiência e assombro, já que em nada se assemelha às outras.
Também inaugurando o caminho sem volta do entendimento das enfermidades assentadas no domínio da tékhne, após ser retirada do comando de deuses e deusas curadoras.
Não é demais repetir: o século IV a.C, na ilha de Cós, marcou o ápice da Medicina grega. O genial Hipócrates, o principal representante da Escola de Medicina de Cós, foi reconhecido como o marco nos saberes médicos por Platão[12] e, posteriormente, por Aristóteles[13].
A aceitação da teoria dos Quatro Humores por parte de alguns médicos da Escola de Cós, não atenuou o embate com filósofos, defensores das práticas empírica e divina, ambas livres das medidas de mensurações impostas pelo entendimento jônico da natureza.
Esses conflitos aparecem em dois textos:
– Heráclito[14] (540-470), de genialidade exclusiva, é contundente na antipatia aos médicos: Os médicos, quando cortam, queimam, e de todo o modo torturam os pacientes, ainda reclamam um salário que não merecem, por efetuarem o mesmo que as doenças.
– No texto Sobre a Medicina Antiga, da mesma época, de autor desconhecido[15], mas da Escola de Cós, testemunhou o repúdio de filósofos, ao negarem de maneira enfática, a ideia de todas as doenças estarem estritamente ligadas somente aos quatro elementos de Empédocles:
“1. Que no caso de um doente afetado por uma alimentação crua e curado por uma alimentação cozida, não é possível dizer o que foi eliminado da direita, se o calor, se o frio, se a umidade ou a secura;
2. Que não existe um quente absoluto que possa ser misturado para curar o frio, uma pessoa tem de tomar água quente ou vinho quente ou lente quente e a água o vinho e o leite tem propriedades diferentes que serão mais eficazes do que o calor”.
Em alguns trechos da mesma obra, também sustenta que o corpo humano é composto por grande número de coisas de naturezas diversas: salinas, amargas, doces, ácidas, adstringentes, insípidas, etc. e não só de quatro componentes. Essa posição hipocrática é intrigante porque pode ser entendida como resistência à teoria dos Quatro Humores de Políbio.
É possível que os médicos da Escola Médica de Cós tenham sofrido influência de Alcméon[16], filósofo e médico de Crotona, no Sul da Itália, que admitia um grande número de forças atuando nos corpos porque no livro DA NATUREZA DO HOMEM[17], atribuído a Políbio, na mesma época, enfatiza a construção teórica de Alcméon, o defensor da ideia de a saúde ser dependente do equilíbrio de múltiplas forças dinâmicas e a doença seria o predomínio de uma sobre as outras.
É importante assinalar que Platão[18] adotou o modelo médico dos tempos homéricos. É possível que essa leitura platônica tenha contribuído para ativar o conflito de competência entre os médicos ativistas das práticas de curas oficial voltadas à interpretação da natureza por meio da tékhne sem desprezar as ideias e crenças religiosas. Contudo, em aparente contradição, o eminente filósofo retoma a Medicina como tékhne ao distinguir as diferenças entre as práticas de curas que são realizadas de modo diferente entre pobres e ricos. Platão criticou de modo contundente como os médicos dos escravos correm de um paciente para outro e dão instruções rápidas, comparando-os com os que tratavam os homens livres[19]:
Se um deles ouvisse falar um médico livre a pacientes livres, em termos muito aproximados das conferências científicas, explicando como concebe a origem da doença e elevando-se a natureza de todos os corpos, morreria de rir e diria no que a maioria das pessoas chamadas médicos replica prontamente em tais casos: — O que fazes, néscio, não é curar o teu paciente, mas ensiná-lo como se a tua missão não fosse devolver-lhe a saúde, mas fazer dele médico.
Em certos aspectos, médicos e filósofos estavam de acordo. Tanto Platão[20] quanto Aristóteles[21] e Hipócrates[22] reconheceram como insofismável a obrigação de o médico esclarecer o doente de todos os aspectos da enfermidade, cuidado essencial à assistência médica ética e competente, mas, vai além ao distinguir o médico do homem culto, estabelecendo os espaços para que cada um possa ocupar as funções específicas.
Por outro lado, Sólon[23] trouxe nova discussão, que permaneceria acesa até os dias atuais, ao descrever os elos entre as doenças coletivas, especialmente, as epidemias e pandemias, com a desorganização social. Baseado nesta relação, o legislador e poeta grego fundamentou outro pensamento político ao afirmar que as crises políticas interferiam na qualidade da saúde da população. Por meio da Lei Seisachtheia, aboliu a escravidão por dívidas e dividiu a sociedade por meio da renda anual.
Platão[24] utilizou parte da estrutura teórica da Medicina praticada na Escola Médica de Cós como instrumento para compor algumas linhas mestras da sua concepção ético-filosófica. Nesse genial processo, estabeleceu valor significante à verdadeira tékhne, como forma de conhecimento na natureza do objeto destinado a servir ao homem.
Os conceitos platônicos confirmaram o médico como a pessoa que ao saber a natureza do homem sadio, conheceria também o contrário, o doente, e, por essa razão teria competência para encontrar os meios para restituí-lo à saúde.
Com base neste modelo, Platão traçou a imagem do filósofo tendo a mesma função no trato da alma. Existiu, neste ponto do pensamento platônico, uma semelhança viva entre o médico e o filósofo, ao se completarem na busca da harmonia plena com a natureza.
Os médicos gregos interpretaram um dos mais complexos problemas do diagnóstico: as múltiplas formas como a mesma doença pode se manifestar. Para superar o estorvo, os teóricos das escolas de Knido e Cós viabilizaram classificações descrevendo essas manifestações, mas reconhecendo-as como doença[25]. O genial dessa nova interpretação, nunca antes usada, é o fato de ter evitado o erro cometido na prática médica oficial anterior, praticadas nas primeiras cidades da Mesopotâmia e dos Orientes Médio e Próximo, onde as muitas manifestações clínicas da mesma moléstia eram consideradas doenças diferentes. Esse método foi identificado por Platão como dissecação ou divisão dos conceitos universais nas suas diferentes classes[26].
A Medicina como paideia também contribuiu para que Platão reconhecesse as três virtudes do corpo ¾ saúde, beleza e força ¾ que harmonizariam com as quatro virtudes da alma ¾ piedade, valentia, moderação e justiça.
As atitudes educadoras da Medicina como paideia incluíram a massagem, prática dos esportes, música, dança, teatro e os banhos coletivos na busca da saúde. No texto Das Epidemias[27], da Escola de Cós, esse conceito está claro:
“A arte do médico consiste em eliminar o que causa dor e em sarar o homem, afastando o que o faz sofrer. A natureza pode por si própria conseguir isto. Se sofro for estar sentado, não é preciso mais que levantar-se; se sofre por se mover, basta descansar. E tal como neste caso, muitas coisas da arte do médico a natureza as possui em si própria”.
Também é possível sentir, ao longo do século III a.C., o vigor da ação médica ligada à natureza jônica. O livro Das Epidemias[28] confirma os conceitos de harmonia e medida.
Nesse sentido, o médico era chamado para recompor a saúde, por meio de técnicas desconhecidas dos não médicos. Para esse fim, utilizava os saberes como instrumento de leitura da natureza, como a justa medida da saúde. Hipócrates e os médicos da Escola de Cós, na obra Da Medicina Antiga[29], seguiram esse pressuposto ao afirmarem que o médico não pode saber de Medicina nem tratar os seus doentes sem conhecer a natureza do homem.
A concepção teórica de saúde dos gregos também envolveu a harmonia. Sendo de natureza harmônica em si mesma, isto é, preenchendo na medida e simetria exatas as vicissitudes individuais, a saúde deveria ser entendida nesse contexto. Sob essa perspectiva, Platão[30] entendeu a saúde como a ordem do corpo e Aristóteles[31] associou a multiplicidade do comportamento moral às muitas dietas prescritas pelos médicos para as febres, mas não para todas as febres.
A tendência classificatória do pensamento grego, especialmente o aristotélico, estimulou as tentativas de ordenar as doenças em grupos que apresentassem alguma semelhança tanto no diagnóstico quanto no tratamento e prognóstico, que, continua vigorosamente no século XXI.
Com a literatura médica contendo as recomendações específicas das normas que deveriam ser obedecidas para evitar a doença, a Medicina grega da Escola de Cós, inicia outra importante contribuição para consolidar-se como paideia ¾ a saúde não dependeria só de médicos, inclui a qualidade da dieta, higiene, laser, cultura e esporte, são partes fundamentais do corpo são.
Os hospitais construídos naquele período refletem a abordagem das práticas de curas voltadas à saúde: grandes construções e possuíam divisões destinadas aos médicos e enfermos. O hospital da Escola Médica, na ilha de Cós, possuía salas de salas de exames, alojamentos individuais para os doentes, salas de banhos coletivos, praça de esportes e anfiteatro para dez mil pessoas. É um dos muitos exemplos de como a arquitetura grega amparava o discurso teórico da harmonia com a natureza na busca da saúde.
O novo espaço da Medicina como Paideia junto aos conceitos jônicos com objetivos educadores, contribuíram ao surgimento das mais importantes obras médicas destinadas ao público não médico. Essas obras: Da Dieta, De um Regime de Vida Saudável e Da Natureza do Homem[32], contêm fantásticas sugestões de como deve ser a vida das pessoas para evitar as doenças. Entre muitos aspectos, descrevem detalhes da caminhada após cada refeição dependendo da idade e das condições físicas de cada pessoa nas diferentes estações do ano.
A palavra higiene se impõe no sentido regulador não só da alimentação, mas também como caráter educador. A ginástica passou a fazer parte da manutenção da saúde. Por esta razão, os ginastas permaneceram independentes frente ao crescente poder médico nas relações sociais e também conquistaram papel importante no aconselhamento do corpo sadio.
O texto De um Regime de Vida Saudável[33] se propõe servir de guia ao público. O autor desconhecido estabeleceu os parâmetros da cultura médica mínima que todos deveriam ter para permanecerem saudáveis. O objetivo central seria estabelecer, pela lei, o caminho que as pessoas deveriam seguir para evitar a doença.
O propósito parece ser o mesmo do autor do livro Da Dieta que aborda a teoria dos Quatro Humores e argumenta se as patologias eram causadas pelo desequilíbrio dos humores ¾ o sanguíneo, o linfático, o bilioso amarelo e o bilioso negro ¾ e relacionadas ao cotidiano das pessoas, é necessário estabelecer normas alimentares com o intuito de evitar os males da alimentação.
A estrutura teórica da Medicina como paideia, na Grécia, no século III a.C., estava tão bem elaborada que chegou e se sedimentou na sociedade romana.
No século II d.C., o médico Galeno, o mais conhecido representante da prática de cura oficial romana, acoplou aos humores da Escola de Cós as novas categorias denominadas temperamentos. Os escritos galênicos, valorizados durante mais de quinze séculos, no Ocidente cristão, valorizava a sangria, sudorese e diarreia como forma preferencial de tratamento para muitas doenças, isto é, eliminar o humor desequilibrado. Para cada humor haveria um temperamento que ditaria as condições de saúde e de doença:
Humor Temperamento |
Sanguíneo Sanguíneo |
Fleuma Linfático |
Bilioso preto Melancólico |
Bilioso amarelo Colérico |
Desatrelada das ideias e crenças religiosas, especificamente, da intolerância eclesiástica da Igreja, a teoria dos Quatro Elementos possibilitou flexibilidade à Medicina como paideia, mas acabou ferida novamente no medievo europeu, pela intolerância restritiva exaltando a medicina-divina, onde Jesus Cristo e os Santos ao substituírem os deuses e deusas greco-romanos, tornaram-se a única terapêutica requerida pelos incontáveis doentes sem esperanças, nos milagres obtidos nos incontáveis santuários, especialmente em nos de Jerusalém e Compostela.
A compreensão cirurgiões-barbeiros como médicos, com reconhecimento na ordem social, efetivada em Paris, em 1723, teve repercussão no Brasil colônia, com a chegada, nas décadas seguintes, dos poucos cirurgiões diplomados, especialmente em Coimbra, que começaram a substituir gradualmente os antigos cirurgiões-barbeiros e os padres-sangradores, em obediência sem limites à teoria dos Quatro Humores.
Especialmente os jesuítas, tiveram grande participação na difusão das sangrias para tratamento das doenças, ao trazerem a prática da Europa, logo nos primeiros anos de colonização. O conflito gerado pela desobediência às recomendações conciliares, que limitava a presença de sacerdotes como curadores, foi facilitada pela distância dos instrumentos de fiscalização.
Se, durante a sangria, algumas vezes executada nas ruas, o cirurgião-barbeiro, por imperícia, cortava algum vaso sanguíneo mais importante, causando hemorragia, a solução era dada pela compressão local com esterco de jumento, que o sangrador sempre tinha na sua bolsa de utensílios. Essa terapêutica em nada diferia da maior parte das recomendações médicas herdadas das práticas populares, que atravessaram incólumes a Idade Média, utilizando excrementos humanos, urina de rato e de burro, ossos e carne de sapo.
A colocação de sanguessugas tinha, na prática, o mesmo significado da sangria. Eram postas várias delas em contato com a pele do paciente e deixadas durante determinado período de tempo. O seu número variava com o tipo e a gravidade da doença. A quantidade de sangue que elas sugavam era desprezível, quando comparada com a retirada pela sangria através da abertura de uma veia periférica, que tirava, no mínimo, um copo de sangue com a ajuda do torniquete. Afora o significado mítico-religioso da sanguessuga, não temos registros disponíveis para avaliar com precisão o início da sua utilização na Medicina. Sabe-se que esses pequenos animais eram empregados com o objetivo de retirar sangue dos doentes, na Roma antiga, provavelmente depois da conquista da Gália, onde este recurso terapêutico era muito difundido entre os povos autóctones. Contudo, antes do século XV, os dados são escassos. Foi muito empregado na Alta Idade Média e recomendado pelos mais famosos médicos da época.
As qualidades atribuídas à chupada desses hirudíneos alcançaram o século XIX, quando a França importou, em 1833, mais de quarenta milhões de sanguessugas para fins medicinais e a Austrália ofereceu para o mercado londrino mais de um milhão delas. Esse comércio acabou estimulando nova procura para descobrir meios mais efetivos para a conservação e aumentar a capacidade de sucção desses animais, objetivando maior motivação entre os consumidores.
A sangria pela aplicação das bichas como forma de tratamento, objetivando a retirada gradativa de certa quantidade de sangue, era feita em todos os doentes, ricos e pobres; só variava a origem do animal sangrador e a forma como era colocado no corpo do doente, isso correndo por conta da fama do curador. As principais, boticas, no Rio de Janeiro, ofereciam sanguessugas da Espanha, Itália, Noruega, Rússia, Suécia, Túnis, Portugal para os que podiam pagar caro e as de preço mais modesto, vindas dos pântanos brasileiros do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Paraíba.
Durante os vinte e três dias de febre e convulsão que antecederam a morte da Princesa Paula Mariana, filha do primeiro imperador do Brasil, ela foi submetida à chupada de quarenta sanguessugas, oito cataplasmas e sete clisteres, prescritos pelos dez médicos da corte, que se revezavam à cabeceira real.
O mesmo tormento foi sofrido por um homem comum, presenciado pelo viajante inglês Lindley, que esteve no Brasil no início do século XVIII, quando viu o doente ser sangrado vinte e uma vezes em nove dias para curar uma dor de estômago e testemunhado por outros historiadores que registraram mais de duas dezenas de sangrias realizadas em curtos intervalos de tempo, na Colônia, como instrumentos legais, para curar todas as doenças, de acordo com os preceitos da teoria dos Quatro Humores.
As autorizações para que os cirurgiões-barbeiros pudessem trabalhar no Brasil, suprindo a falta de médicos reclamadas pelos colonos, continuaram sendo notificadas pela autoridade médica de Lisboa, como a publicada, em 13 de janeiro de 1787, e apresentada às autoridades coloniais por Joaquim da Silva Ramalho. Com esse documento, podia sangrar, sarjar, amputar e colocar bichas.
A obstetrícia era exercida quase exclusivamente pelas parteiras e comadres conhecedoras dos mistérios da gestação. Eram identificadas pela grande cruz branca sobre a porta da casa. Antes de começar o acompanhamento do trabalho de parto, era entoada a ladainha evocando a ajuda do Anjo Gabriel.
A influência da teoria dos Quatro Humores, de Políbio, trazida pelos médicos formados em Coimbra, esteve claramente presente no Brasil Colonial, em vários momentos, mas dois ficaram particularmente evidentes: quando a princesa Paula Mariana, filha do primeiro imperador do Brasil, sob os cuidados dos mais importantes médicos da corte, faleceu após ser submetida às muitas sangrias e clisteres para expurgar os “maus humores” e no século XIX, o viajante Von Martius[34] descreveu o temperamento dos índios:
Por todas as qualidades inatas e habituais dos brasis, tanto psicológicas como físicas até aqui enumeradas, devemos necessariamente concluir serem estes homens de temperamento linfático. Tendo pouco sangue nas veias, pouco calórico e turgor no corpo, limitado em todas as suas atividades intelectuais, que tanto influem para a vivacidade, vivem constantemente mergulhados na monotonia; nutrindo-se de alimentos grosseiros, pesados, mal cozidos e não adubados, além de terem fraco sistema nervoso, devem os brasis superabundar em humores crus. Esses homens são de natureza pesada e fria e, por assim dizer, quase anfíbios humanos. A pouca excitabilidade da sua fibra que é animada só por poucas paixões, o languido movimento do seu sangue frio, a vagarosa assimilação de pouca substância proveniente da abundância de alimentos grosseiros e ainda mais o silêncio e abatimento da alma, são os elementos determinantes de uma constituição linfática. A isto corresponde o predomínio da fleuma e da melancolia no temperamento do índio.
[1] BOTELHO, João Bosco. Medicina e religião: conflito de competência. 2 ed. Manaus. Valer. p. 381-456.
[2] BRANDÃO, Junito de Souza. Mitologia Grega. 2 Ed. Petrópolis. Vozes. 1986. p. 298.
[3] Os Pré-Socráticos: fragmentos, doxografia e comentários. 2. ed. São Paulo. Abril Cultural. 1978. p. 297:
[4] Platon. Oeuvres Complètes. Paris. Ed. Gallimard. Bibliothèque de la Pléiade. 1950. v.1, v.2. Rep. 407d:
[5] HIPÓCRATES. Epidemias. In: Tratados Hipocráticos. v. 5. Madri. Gredos. 1986. p. 74: Estas eram as circunstâncias relativas às enfermidades, a partir das causas diagnosticadas, havendo aprendido a natureza comum a todas e a particular de cada um, da enfermidade, do enfermo, do tratamento prescrito…
[6] HIPÓCRATES. Sobre os ares, água e lugares. In: Tratados Hipocráticos. v. 2. Madri. Gredos. 1986. p. 39- 97.
[7] Daremberg. Oeuvres Choisies d’Hippocrate. Paris. Labe Éditeur. 1855. p. 1050):
[8] DAREMBERG. Oeuvres Choisies d’Hippocrate. Paris. Labe Éditeur. 1855.
A teoria dos Quatro Humores, de Políbio, está descrita no manuscrito Da Natureza do Homem: “O corpo humano contem sangue, fleuma, bílis amarela e bílis negra, que estes elementos constituem a natureza do corpo e são responsáveis pelas dores que se sentem e pela saúde que se goza. A saúde atinge o seu máximo quando estas coisas estão na devida proporção em relação umas às outras, no que toca a sua composição, força e volume além de estarem devidamente misturadas. A dor surge quando há excesso ou falta de uma destas coisas, ou quando uma delas se isola no corpo em vez de estar misturadas com as outras”.
[9] HIPPOCRATE. La Consultation. Paris. Hermann. 1986. p. vii-xviii:
[10] OEUVRES COMPLÈTES. Paris. Gallimard. Bibliothèque de la Pléiade. 1950. v.1, v.2.
[11] HIPÓCRATES. Sobre a enfermidade sagrada. In: Tratados Hipocráticos. v. 1. Madri. Gredos. 1986. p. 399.
[12] PLATON. Protágoras 313b-c e Fedro 270c.
[13] ARISTOTE. La Politique. Paris. J. Vrin. 1989. p. 484.
[14] OS PRÉ-SOCRÁTICOS: fragmentos, doxografia e comentários. 2. ed. São Paulo. Abril Cultural. 1978. p. 297.
[15] DAREMBERG. Oeuvres Choisies d’Hippocrate. Paris. Labe Éditeur. 1855.
[16] THIVEL, Antoine. Cnide et Cós? Paris. Les Belles Lettres. 1981. p. 289-383.
[17] JOUANNA, J. Hippocrate et l’École de Cnide. Paris. Les Belles Lettres. 1974. p. 137- 174.
[18] PLATÃO. República. 407b-c-d-e.
[19] ______. Leis. 720a-b-c-d-e.
[20] ______. Oeuvres Complètes. Paris: Ed. Gallimard. Bibliothèque de la Pléiade. 1950. v.1, v.2. Banquete, 186-187.
[21] ARISTÓTELES. La Politique. Paris: J. Vrin. 1989. 11, 1282.
[22] DAREMBERG. Oeuvres Choisies d’Hippocrate. Paris. Labe Éditeur. 1855.
[23] JAEGER, Werner. Paideia: a formação do homem grego. São Paulo: Martins Fontes, 1986. p. 689..
[24] PLATÃO. Górgias. 464b, 465a, 501.
[25] THIVEL, Antoine. Cnide et Cós? Paris. Les belles Lettres. 1981.
[26] CORNFORD, F. M. Principium Sapientiae: as origens do pensamento filosófico grego. 2. ed. Lisboa. Fundação Calouste Gulbenkian, 1981.
[27] DAREMBERG. Oeuvres Choisies d’Hippocrate. Paris. Labe Éditeur. 1855.
[28] Idem: A arte do médico consiste em eliminar o que causa dor e em sarar o homem, afastando o que o faz sofrer. A natureza pode por si própria conseguir isto. Se sofro for estar sentado, não é preciso mais que levantar-se; se sofre por se mover, basta descansar. E tal como neste caso, muitas coisas da arte do médico a natureza as possui em si própria.
[29] Idem: “…os argumentos deles apontam para a Filosofia tal como a de Empédocles e de outros que escreveram sobre a natureza e descreveram o que o homem é desde a origem, como primeiro surgiu e de que elementos é constituído”.
[30] PLATON. Fédon, 93e; Leis 773a; Górgias 504c.
[31] ARISTOTE. Ética a Nicômaco. X 1180b.
[32] DAREMBERG. Oeuvres Choisies d’Hippocrate. Paris: Labe Éditeur. 1855.
[33] Idem.
[34] VON MARTIUS, Carlos F. p. Natureza, doenças, Medicina e remédios dos índios brasileiros. São Paulo. Nacional. 1939. p. 51.