Prof.Dr.HC João Bosco Botelho
No livro “Das Epidemias”, produzido na Escola de Cós, no século 4 a.C., a estrutura sustentadora da Medicina, como especialidade social, mantendo a vida, está clara: “A arte do médico consiste em eliminar o que causa dor e em sarar o homem, afastando o que o faz sofrer. A natureza pode por si própria conseguir isto. Se sofro for estar sentado, não é preciso mais que levantar-se; se sofre por se mover, basta descansar. E tal como neste caso, muitas coisas da arte do médico a natureza as possui em si própria”. .
Existem outros relatos, o século 4 a.C. associando a adequada ação médica com a noção de global da natureza, inclusive com recomendações da qualidade e quantidade da dieta, da prática de esportes e de atividades culturais. No livro “Das Epidemias” é reafirmado a relação da boa prática médica com os conceitos de harmonia e medida: “O esforço físico é o alimento para os membros e para os músculos, o sono é para as entranhas. Pensar é para o homem o passeio da alma”.
Alguns filósofos gregos cuidaram para sistematizar o discurso sobre a manifestação da natureza com suficiente coerência para que permanecesse válido mesmo quando aplicado sobre a infinita manifestação da multiplicidade das formas no mundo percebido.
Aqui também brotaram, com maravilhosas facetas, as contradições entre o particular e o universal, o invisível e o visível, contribuindo para a questão fundamental do conhecimento: a reprodução do saber médico como verdade. Neste caso, o médico representava o homem que nunca separava a parte do todo.
Daí, surgiu a consciência para conceituar a medida na prática médica. O médico passou a ser chamado para recompor a justa medida, oculta dos não médicos, quando a doença alterava. Ao mesmo tempo, utilizando essa compreensão como instrumento de leitura da natureza, como a justa medida da saúde.
Hipócrates e os seguidores da Escola de Cós já possuíam a consciência desse fato e afirmaram no livro “Da Medicina Antiga” que nenhum médico pode tratar os doentes sem conhecer a natureza do homem. Essa harmonia pressuporia que sendo a natureza harmônica em si mesma, preenchendo na medida exata e com simetria adequada as necessidades de cada um, a saúde deve ser procurada neste contexto de normalidade.
É nessa compreensão que Platão entendeu a saúde como a ordem do corpo (“Fédon”, 93e; “Leis”, 773a; “Górgias”, 504c) e Aristóteles (“Ética a Nicômaco, X 1180b 7) ao analisarem o comportamento moral utilizou os exemplos de dietas prescritas pelos médicos para as febres, mas não para todas as febres.
A tendência do pensamento grego de agrupar em classificações gerais o todo e as partes, estimulou as tentativas de ordenar as doenças em grupos que apresentassem alguma semelhança no diagnóstico, no tratamento e no prognóstico.
A literatura médica destinada ao público letrado com recomendações específicas das normas que deveriam ser obedecidas para obter a saúde e evitar a doença, iniciou outra importante contribuição para consolidar da Medicina como paidéia: a manutenção da saúde pela dieta adequada, pelo exercício físico contínuo e pela higiene do corpo. Foi aberto um novo espaço nas relações da Medicina com o público, os médicos passam a atuar também como educadores.
O novo espaço da Medicina, voltado à educação profilática está atado as mais importantes obras médicas destinadas ao público não médico: “Da Dieta”, “De um Regime de Vida Saudável” e “Da Natureza do Homem” contendo fantásticas recomendações para a conservação da saúde incluindo o exercício físico.