Prof.Dr.HC João Bosco Botelho
A mitologia grega capturou o olhar maligno da imortal Medusa, com a cabeça coberta de serpentes, que transformava em pedra quem ousasse fixá-lo, trouxe a discussão coletiva o ancestral medo do réptil.
Na Bíblia, não é sem razão ou simples coincidência que a serpente afastou o homem da bondade e da inocência.
O medo das serpentes não alcança só os humanos, os símios igualmente identificam os répteis como ameaças à vida. Alguns estudos da neurociência, realizados em macacos-japoneses, na Universidade de Toyama, no Japão, analisaram a atividade cerebral na área envolvida com a atenção visual e imagens ameaçadoras. Os animais responderam agressivamente em frente das fotografias das serpentes. O mais interessante é o fato de os animais dos experimentos, nascidos e criados em cativeiro controlado, jamais terem visto uma serpente.
Essa constatação pode pressupor que a evolução genética identifica a imagem da serpente, processada no cérebro, como real ameaça à vida, gerando a ofidiofobia como resposta social, um dos mais fortes e constantes fobias planetárias.
Sob a roupagem metafórica do mal causado pela serpente é possível associá-lo ao mau-olhado. Em muitas linguagens-cultura recebem nomes de significâncias próximas: olho de seca pimenteira, malocchio, evil eye, bose blick, mal de ojo, olho grande e olho gordo.
Os relatos mantém similitude: a pessoa atingida pelo mau‑olhado sente, imediatamente ou após algumas horas: apatia generalizada, dores no corpo e na cabeça, alterações na digestão, inapetência, irritação e desânimo. Quando o alvo é a criança, as consequências são mais visíveis: sonolência, pele desidratada, desânimo e olhos encovados.
O mau-olhado não é reconhecido pela medicina universitária. O conhecimento historicamente acumulado, contudo, insiste, há milhares de anos, a veracidade do mau-olhado sugerindo que as emoções, ainda pouco compreendidas pela neurociência, interferem no rumo de certas doenças e na saúde das pessoas.