Dr. HC. João Bosco Botelho
Os diagnósticos estão firmados sobre as alternativas abertas pelo pensamento micrológico, iniciado no século 17, com as publicações do médico italiano Marcelo Malpighi (1628-1694), e pelas imagens – endoscopias, tomografia computadorizada e ressonância magnética, pet-scan – cada vez melhores, extraordinários avanços da tecnologia médico-hospitalar, após os anos 1950.
Dessa forma, nos dias atuais, o tratamento e o prognóstico, consequências do diagnóstico, são estruturados nos resultados do exame micrológico, no nível celular, identificando o tipo de tumor ou a bactéria responsável pela infecção, e nas imagens.
Os países do Primeiro Mundo e alguns outros, inclusive o Brasil, avançaram além célula e trabalham no nível molecular (dentro de uma célula existem milhares de moléculas), por meio da biotecnologia e da engenharia genética.
O Projeto Genoma é parte importante desse processo!
Por outro lado, persistem incontáveis dúvidas, porque os avanços não são suficientes para saber em qual dimensão da matéria viva o normal se transforma em doença (se é que a doença existe na compreensão atual da medicina).
Nessa esteira, a medicina continua sem compreender com clareza os caminhos pelos quais as emoções causam as doenças ou melhoram a saúde!
A dúvida entre o pouco identificado suscita a crítica rebelde e favorece a dissociação entre o conhecido-aceito e o imaginado-pretendido como a mais fantástica capacidade interagente do conhecimento, firmando a absoluta construção do novo pensar, harmonizando os domínios da ciência aos saberes historicamente acumulados.
A entronização da máquina, após a II Guerra Mundial, forçou a absoluta supremacia do corpo sobre a mente. Quem afirmasse ser o estado emocional capaz de causar doença, sofria o rigor da intolerância ideológica, no mínimo, colocado no rol dos desajustados. Algo parecido como ter mantido, em alto e bom tom, na década de setenta, nos meios universitários brasileiros, a dúvida sobre as vantagens do comunismo-socialismo como solução política.
Depois da publicação dos conceitos imunológicos, vindos com os saberes moleculares, muitos baseados em hipóteses ainda não demonstradas, a comunidade científica começou a admitir as emoções, ocasionando mudanças na defesa orgânica e, com isso, causando doença ou piorando a existente.
Sem necessitar recorrer às fontes técnico-científicas, a história da destruição das culturas indígenas, perpetrada pelo elemento colonial, no Brasil, está repleta da demonstração cabal de que a emoção, ligando ambiguamente o sagrado ao profano, pode ocasionar a morte ou, pelo menos, a perda da vontade de viver.
Era suficiente o pajé, principal agente da coesão social indígena, prever a morte de alguém. Mesmo com saúde, o autocondenado deixava-se morrer no fundo da rede, sem que nada ou ninguém o convencesse do contrário. Essa evidência constituiu um dos fatos mais significativos, para estimular o processo de descrédito, imposto pelos padres, mensageiros da nova ordem cristã, contra a pajelança.
Por outro lado, nessa mesma esteira, a busca do alimento em torno da posse do território e a continuada fuga da dor têm levado o homem a diferentes caminhos, unindo como gêmeos xifópagos uni-cefálicos, o sagrado ao profano. Os mais antigos registros escritos, deixados pelas parcelas dominantes das sociedades, afirmam a leitura da vida e da morte nessa conjunção. Parece que esse aspecto da construção social, unindo sagrado ao profano e vice versa, tem sido a mais tenaz luta, de caráter descontínuo e heterogêneo, para possuir o corpo, dominar as emoções e prolongar a vida, interferindo nos diagnósticos e tratamentos.
Desde a antiguidade remota, encontramos sinais reforçando essa afirmação. A resistência aos infortúnios e o ímpeto de viver mais levaram os homens e as mulheres à premência de desvendar o escondido atrás da pele e, particularmente, o misterioso conteúdo tão bem protegido pelos ossos da cabeça. O conhecido culto ao crânio, mencionado pelos historiadores da pré-história, é uma das marcas mais claras.
Um dos primeiros sinais da busca da doença nas emoções pode ter sido a trepanação do crânio (craniotomia). Quaisquer que tenham sido os motivos que levaram o homem abrir os ossos cranianos, no Neolítico, há dez mil anos, não podem estar dissociados, sob nenhum argumento, da vontade de compreender as emoções localizadas no cérebro.
Até hoje, biopsias e imagens, não são suficientes para esclarecer o que todos sabem desde os primeiros registros escritos: as emoções melhoram a saúde a causam doenças!