Prof. Dr. HC João Bosco Botelho
A primeira idéia de propor a inclusão da disciplina História da Medicina no currículo do Curso de Medicina nasceu, entre os anos de 1984 a 1986, na coordenação do Projeto EDEN, financiado pela Universidade do Amazonas.
Naquela ocasião, foram levantados e estudados os dados sociais e nosológicos colhidos no Município de Coari, no centro geodésico do Amazonas, e no bairro Novo Paraíso da periferia urbana de Manaus.
Durante o desenvolvimento dos trabalhos de campo, foi consolidada a certeza de que grande parte da Medicina praticada no Hospital Universitário estava muito distante da compreensão de saúde e doença das três mil pessoas entrevistadas. Por outro lado, os alunos que integraram o projeto EDEN desconheciam o processo de branqueamento da Medicina autóctone.
Com o fundamental apoio dos professores do Departamento de História, em especial, da professora Vânia Nóvoa Tadros, algum tempo após o término da pesquisa, seguiram‑se os encontros com o objetivo discutir o programa, a metodologia e a bibliografia. Inclusive, foi com a ajuda amiga da professora Vânia que transpus os limites da sala de cirurgia e iniciei o longo e complexo caminho para compreender o movimento social em torno da saúde e da doença.
Em 1988, como fruto do trabalho interdepartamental, a disciplina História da Medicina foi oferecida, pela primeira vez, com cinqüenta vagas em caráter optativo e cinco créditos de carga horária. De lá para cá, o número de alunos solicitantes da matrícula têm sido em torno de três vezes mais do que o das vagas.
A análise da atual metodologia do ensino médico mostra que apesar das transformações ocorridas na nossa sociedade, na segunda metade desse século, houve pouca mudança nos currículos das escolas. Continuamos valorizando mais a morfologia das doenças já instaladas e desprezando os componentes socioculturais.
Basta comparar o tipo de doença e morte no mesmo período dos países industrializados com os subdesenvolvidos para se ter certeza de que a saúde é um indicador sociocultural importante, tornado mais evidente depois da Segunda Guerra Mundial, quando o empobrecimento dos povos latino-americanos se tornou mais agudo.
Existe uma tendência para substituir os conceitos positivos da imobilidade da saúde e da doença pela convicção da existência do equilíbrio dinâmico entre ambos, onde a relação do homem com a totalidade social é muito importante.
Essa posição está muito clara na História. A preocupação e a certeza da importância do sociocultural produzindo doença no homem já estava presente nos livros sagrados, escritos há milhares de anos. Naquelas épocas, os legisladores utilizaram os seus poderes disponíveis e interferiram nos hábitos coletivos de populações inteiras. Com essa atitude conseguiram determinar, ao longo dos séculos que se seguiram, modificações na cadeia epidemiológica de muitas doenças.
Afora os patrulhamentos ideológicos patrocinados dos que enchem de vergonha a pluralidade política universitária, a resistência ao imobilismo no ensino médico tem feito progressos para deslocar as barreiras. Novos cursos e disciplinas já foram criadas ajudando o aluno situar historicamente os pontos importantes da saúde pública e fornecer os subsídios capazes de sustentar os marcos teóricos na busca de soluções para os problemas que corroem a saúde de milhões de brasileiros. Só assim evitaremos as posições políticas dogmáticas montadas na fantasia das leituras superficiais das orelhas dos clássicos da ciência política.
A angústia para entender a infinita diversidade do mundo visível acompanhou o homem ao longo do seu processo de humanização. Sob este ponto de vista é possível entendê‑la como uma forma de expressão da vida, onde cada cultura cristaliza ao longo do tempo as suas próprias condições de luta para o superar os riscos da sobrevivência.
Com as pressões impostas pela industrialização acelerada do Ocidente, o ensino da Medicina passou a considerar somente como verdadeiro e produtor de saúde as relações científicas vindas dos laboratórios de pesquisa. Tudo apoiado na certeza de que a utilização de aparelhos para intermediar a ação médica seria responsável, em futuro muito próximo, pela melhoria das condições de saúde do homem.
Os anos que se seguiram mostraram exatamente o contrário. A melhoria da vida coletiva e o aumento da longevidade não está atrelada à parafernália da tecnologia industrial e a medicação e sim às medidas básicas de saneamento, moradia, educação, trabalho e lazer.
Contudo, essa posição inflexível, ditada sob o auspício dos interesses econômicos dos países industrializados, contribuiu para a atual situação de descalabro em que se encontra a prática médica no Brasil.
O abuso dos medicamentos e da tecnologia de alto custo, as cirurgias desnecessárias e profissionais simulando trabalhar em lugares diferentes ao mesmo tempo, são parte da rotina de uma profissão que é cada dia mais criticada e repudiada.
O resultado final foi a entrada definitiva da Medicina no consumismo incontrolável da produção industrial, sem que tenhamos qualquer comprovação de que este fato tenha participado para a melhoria da qualidade da vida.
A doença não existe só em si mesma. É uma entidade abstrata que o homem estabelece nominação, relaciona e classifica. Os sinais e sintomas que ela determina no corpo humano fazem com que a observação da doença no doente seja o ponto de partida para a concretização da nosologia. Esta é um dos pilares que alicerçam a abordagem da enfermidade não somente como um fenômeno biológico, mas principalmente como parte da totalidade sociocultural do homem.
Ao longo da História, o controle das endemias sempre esteve diretamente ligado a essa realidade. O historiador Le Goff é enfático a esse respeito: “A doença não pertence somente à história superficial do progresso científico e tecnológico, mas à história profunda dos saberes e das práticas ligadas às estruturas sociais, às instituições, às representações, às mentalidades.
Aqui reside um dos pontos cruciais do atual entendimento da Medicina enquanto prática social. É preciso que as nossas escolas médicas repensem suas metodologias para os seus alunos compreenderem a dimensão social da doença no conhecimento pluralista.
Acreditamos que a inclusão da disciplina História da Medicina no currículo pode contribuir para os alunos compreenderem melhor a profissão como uma prática social vinculada a totalidade social, econômica e política dos povos.
INTRODUÇÃO
O passar dos olhos no processo histórico que consolidou a Medicina como especialidade social trás à toma o esforço humano para:
- Entender, dominar e modificar a multiplicidade dinâmica das incontáveis formas e funções das partes do corpo humano;
- Estabelecer os parâmetros do normal e do patológico;
- Vencer as limitações impostas pelo determinismo da dor e da morte;
- Manter aceso o conflito de competência com a religião.
A pulsão inata para desvendar o corpo, dotado de propriedades sensíveis de comunicar-se e locomover-se, para fugir da dor e clamar pelo prazer, pode ser considerada uma verdade fundamental (Botelho, 1993), tanto no espaço sagrado quanto no espaço profano das relações sociais.
No espaço profano, o observar empírico do ancestral mais distante iniciou, na medida visível dos sentidos natos, as comparações entre o próprio corpo e os dos outros animais. Por outro lado, essa observação jamais esteve desvinculada dos complexos sentimentos com o sagrado. Em muitas circunstâncias, ainda hoje, é impossível saber onde começa o sagrado e termina o profano.
Na malha dessas emoções interligando sagrado e profano, o antepassado remoto percebeu o quanto diferia dos membros do grupo, a carnalidade da pele, as batidas do coração, o calor do ar expirado e a putrefação da morte. As divergências físicas somaram-se ao confronto entre o real e o imaginário, representado pelas sensações do medo, prazer, coragem, amor e do ódio.
É lógico supor que os nossos antepassados remotos sabiam, através do conhecimento historicamente acumulado (CHA), que uma pancada na cabeça era capaz de matar ou imobilizar a caça ou o inimigo muito mais rápido. Esse primitivo elo entre forma e função pode ter alicerçado o primórdio da consciência do corpo ou da categorização segmentária corporal ¾ a integridade da cabeça como parte mais importante para a sobrevivência do que o dedo amputado ¾ está inserido na mesma textura da precoce observação do quanto os homens e as mulheres são semelhantes e, ao mesmo tempo, diferentes entre si.
Contudo, muito mais do que isto, a consciência do corpo transformou-se, rapidamente, na consciência da vida e da morte. A dicotomia competitiva entre a vida, ligada ao sangue que coagula, e a morte, cercada do mal cheiro da putrefação do corpo, moldou o cortejo das relações socais com o objetivo de prolongar a vida e adiar a morte.
O especialista capaz de adiar a morte ou interromper a dor assumiu importância especial no seio comunitário primitivo.
A recusa da morte como o marco divisor nas relações sociais de competição e cooperação está representado pelo sepultamento ritualístico. A arqueologia sustenta que os neandertalenses, no paleolítico médio, há 400.000 anos, cuidavam dos feridos e enterraram os seus mortos (Leroi-Gourhan, 1985).
As necessidades física e mental da espécie, ao longo de centenas de gerações, moldaram a nível genético, as incontáveis formas e funções do corpo humano para inibir a dor e aceitar o prazer. É transparente o contínuo frenesi para sentir, intensamente, o conforto físico e emocional. O ser é biológico e social; ele não existe sem as trocas e estas não seriam possíveis sem ele.
Nesse contexto, é impossível não pensar em processo muito mais interativo unindo a estrutura genética como o social ¾ a memória sócio -genética (MSG)¾ moldando o corpo humano ao longo de milhares de anos em torno da posse do território como garantia contra a fome e a sede, das liberdades de ir vir, falar e explorar, do abrigo contra o frio e o calor (Botelho, 1993).
Todos fogem da dor e procuram o prazer. Conforto e desconforto são as chaves acionadoras da MSG. Os corpos vivos, dos espongiários aos mamíferos, são recobertos por tecidos especializados, em muitos milhões de anos, para reagir às agressões externas de natureza física, química ou biológica. A ontogênese, repetindo a filogênese, formou-se com a prioridade de enfrentar o sofrimento e receber, com harmonia, as sensações prazerosas.
Por outro lado, é evidente como a dor lacerante contribui para alterar as emoções, deter e amedrontar qualquer bicho.
As relações interpessoais, com ou sem ajuda da técnica, resultando prazerosas, são acatadas pela maioria. Sempre que o poder dominante insiste em limitá-las ocorre a resistência. A rebeldia contra as fronteiras artificiais, o clamor étnico, o sexo limitado, a incrível sedução pelas drogas proibidas, as revoluções milenaristas e a atual ordem internacional voltada para o verde estão contidas na mesma geometria.
A constância transmitida aos descendentes, no patrimônio genético, das mensagens comuns das memórias sócio-genéticas pessoais forma a memória sócio-genética coletiva (MSGC).
As MSGs são competentes para explicar não só os fantásticos dispositivos natos contra a dor que cobrem cada milímetro do corpo, mas também a própria organização social em torno da resistência pessoal e coletiva contra os que atentam contra os limites da suportabilidade.
Quando a morte advém, como antítese da vida, emudece a MSG, descolora o tegumento cutâneo, resfriando-o e tornando-o insensível ao pior dos tormentos: a dor. O movimento respiratório e o coração param. O corpo desfigurado pelo rigor cadavérico enche de sentido a vida dos que choram. É quando o vivo se apercebe da própria existência e rejeita a morte refletida na carne indolor e desmemoriada.
Deste modo, a História da Medicina é uma parte importante do longo processo histórico da humanidade para escapar da dor, aumentar o prazer, prolongar a vida e fugir da morte a partir do desvendar do corpo em todas as dimensões do visível e do invisível.
O processo aconteceu em três cortes (Botelho, 1991):
- O primeiro momento, no século III a. C., na Grécia, quando Hipócrates retirou a epilepsia do domínio divino e iniciou o conflito de competência entre a Medicina e a Religião:
“Quanto à doença que nós chamamos de sagrada, eis o que ela significa: ela não me parece nem mais divina, nem mais sagrada que as outras; ela tem a mesma natureza que as demais doenças e se origina das mesmas causas que cada uma delas. Os homens atribuíram-lhe uma natureza e uma origem divinas por causa da ignorância e do assombro que ela lhes inspira, pois em nada se assemelha às outras”.
E estabeleceu a Teoria dos Quatro Humores (Hipócrates, 1994) para explicar a etiologia das doenças:
“ O corpo humano é constituído de quatro humores: sangue, fleuma, bile amarela e bile preta. São os responsáveis pela natureza, pela saúde e pela doença. ”
- O segundo, no século XVII, com Marcello Malpighi instituindo a mentalidade microscópica para desvendar a multiplicidade das formas escondidas dos sentidos natos.
- O terceiro, no século XIX, com Gregor Mendel, passando da célula à molécula e abrindo as portas para o desvendar das menores porções do corpo humano.
Bibliografia
BOTELHO, João Bosco. Arqueologia do Prazer. Manaus, Metro Cúbico, 1993.
__________. Medicina e Religião: conflito de competência. Manaus, Metro Cúbico, 1991.
HIPPOCRATE. De L’art Médical. Paris, Bibliothèque classique, 1994.
LEROI-GOURHAN, André. As religiões da pré-história. Lisboa, Edições 70, 1985.
OS DEUSES COMO SENHORES DA SAÚDE E DA DOENÇA
- RELAÇÕES MÉDICO-MÍTICAS
As relações médico-míticas transcenderam no tempo e chegaram a nós vivificadas tão intensamente que fica quase impossível dissociá-las.
A própria data de comemoração do dia do médico, o 18 de outubro, corresponde na mitologia grega o dia no qual o deus médico Asclépio, filho de Apolo, era celebrado na Grécia Antiga, há 2.300 anos.
A morte de Asclépio, foi determinada por Zeus, divindade suprema da maioria dos povos indo-europeus, resultante da terceira geração divina da mitologia grega, por temer que a ordem natural do mundo fosse alternada pelo poder de Asclépio, capaz de ressuscitar os mortos, fulminou-o com o raio dos Ciclopes, seres monstruosos com um só olho no meio da testa, representados por Bronte o trovão, Esteropes o relâmpago e Arges o raio. Apolo não tendo poderes suficientes para vingar-se de Zeus, matou os Ciclopes, demônios das tempestades, matadores de Asclépio.
No intervalo de tempo entre esses dois pontos da consciência do tempo, o início e o fim da vida, o homem convive com a certeza da doença e da morte. Nas poucas dezenas de anos que o homem consegue viver, gasta grande parte dormindo e na procura incessante do conforto, da saúde e da justificativa mais coerente da imaginável vida após a morte.
Depois de estabelecer ao longo de milhares de anos as relações dor e prazer, saúde e doença e vida e morte, o homem desenvolveu e acumulou historicamente conhecimentos objetivando vencer a dor, aumentar o prazer e prolongar o tempo de vida.
A grandeza biológica do material genético humano sobre a de todas as outras espécies do planeta se completa com o renascimento após a morte.
* Esta busca da imortalidade é tão antiga quanto os registros paleontropológicos que chegaram dos nossos ancestrais. Pode ter sido a responsável pelo aparecimento da especialização social que deu origem a procura sistematizada do conforto físico e da saúde e também forneceu as bases teóricas da prática médica como nós a entendemos hoje.
A crença no ser-imortal gerou a dualidade matéria-espírito para transpor a inexorabilidade da putrefação do corpo desmemoriado. O espírito intemporal, como ficção, prolonga até o infinito a vida das pessoas queridas. Para dar sentido coerente ao renascimento, foi idealizado uma imagem corpórea – a alma ou o serão tempo – como o elo entre o visível e o invisível, rejeitando a morte.
Como o pensamento está, sem dúvida alguma, dependente do sociocultural, os homens e as mulheres têm grande dificuldade para articular a linguagem fora do conhecimento patrocinado pela MSG. Deste modo, os seres-nos tempo (deuses, duendes, demônios, almas, espíritos), mesmo recheados de variações, são vistos e sentidos com cabeças, braços e pernas. Os seres-nos tempo foram formados à semelhança do corpo visível, dotado de comunicação, movimento, pureza e impurezas.
É impossível imaginar a existência do ser-tempo individual fora da natureza, da História e do social. O homem e a mulher estão há muito, muito tempo, atados ao conjunto gregário, augurando o ideal deslocado, pela força da ficção, para o serão tempo. Nunca deixaram de amar e sofrer, de ligar a reprodução sexuada à fertilidade da terra, olhar e admirar o desconhecido, dar nomes à natureza visível, especular o invisível, acumular e reproduzir saberes.
O cuidado com a saúde pode ter começado em qualquer ponto da escala genealógica e certamente se iniciou na procura do conforto físico. A retirada de espinhos e parasitas da pele em forma individual ou coletivamente com a ajuda de outros membros da comunidade foi a primeira forma de assistência prestada nos nossos ancestrais. Esta assimilação da conduta social foi fundamental para o desenvolvimento e sobrevivência da espécie.
Os nossos parentes mais próximos, os chimpanzés, com 97 % de semelhança genética, são capazes de se tratarem mutuamente lambendo pequenas feridas da pele, retirando parasitas e espinhos que penetram acidentalmente no corpo. Não se trata de simples catação. É indício de verdadeira assistência médica, porque envolve atividade consciente e dirigida a um determinado ponto onde está ocorrendo desconforto físico.
A partir do aparecimento da consciência do tempo no homem, reveladora da sua impotência frente a ocorrência das doenças que levavam à morte, multiplicaram-se as explicações transcendentes, míticas e religiosas a aceitação coletiva do desconhecido. O ponto de convergência deste caminho que moldou o pensamento criativo do homem foi o fantástico número de deuses e outros personagens com poderes de curar e ressuscitar que a história registrou.
Desta forma, sob o ponto de vista histórico é impossível dissociar a história da Medicina das relações médico-míticas.
O ponto de convergência que moldou o pensamento do homem foi o aparecimento da consciência do tempo, reveladora da sua impotência frente a morte inevitável. Em conseqüência, engendrou um fantástico número de deuses e outros personagens com poderes de curar e ressuscitar. Entre os mais famosos, estão:
1) NINID, descendente da trindade divina babilônica ANU, ENLIL e ENKI;
2) CHRISTINA e BUDA, respectivamente a oitava e sétima encarnação de deus indiano VISCHNU;
3) MITRA, deus redentor da Pérsia;
4) BELENHO dos celtas;
5) ASCLÉPIO, filho de APOLO, da mitologia grega;
6) JOEL dos germanos;
8) FO dos chineses;
9) Personagens deificadas do Velho e do Novo Testamento.
Todos esses sem mencionar as pessoas santificadas pela religião cristã, que operaram milagres nos últimos 1900 anos, quase todos envolvendo poderes mágicos, capazes de modificar a relação dor e prazer, vida e morte e saúde e doença.
Essas figuras humanas e míticas carregavam com elas uma capacidade intrínseca capaz de ressuscitar determinados mortos e a cura de alguns doentes. As doenças escolhidas foram sempre as que determinavam impacto nas relações sociais. Já foram lepra, a loucura, a sífilis e a tuberculose. No momento, é a AIDS e os canceres.
Nas intrincadas relações que o homem desenvolveu com essas doenças, sempre as fez porque desconhecia a etiologia e o tratamento. Logo, foi buscar na transcendência a aceitação para o desconhecimento e porque na sua atávica fixação de grandeza biológica é imperativo a compreensão prévia de que tudo que este homem não pode entender ou resolver, será feito pela personagem divina antropomórfica, com poder sobre-humano capaz de resolver todas as aflições da sobrevivência humana.
Como foi possível aos médicos do passado e como é aceito na atualidade essa relação médico-mítica que envolve comportamentos diferentes no trato do ser-tempo e do serão tempo?
Foram as buscas dessas respostas, algumas vezes angustiantes na sua totalidade, passando necessariamente pela história do próprio homem ligada na temporalidade da existência humana os responsáveis pelos pequenos avanços que a humanidade fez na busca da razão da vida com a consciência do tempo.
A dificuldade, quase intransponível, de se alcançar mais rapidamente as explicações, reside no fato de que as crenças e as ideias não são fossilizáveis. Quando a arqueologia escava um túmulo e junto com a paleontologia começa a estudar o esqueleto e os utensílios encontrados, farão importantes conclusões de muitos aspectos relevantes que ajudarão a compreender o grupo social do morto, porém a maior parte dos valores e pensamentos dele continuarão perdidos em mar de conjecturas. Estas dificuldades são proporcionalmente maiores na medida que recuamos no tempo.
A conquista do fogo e as consciências do tempo finito, ligado ao ser-tempo, e do tempo infinito, unido ao serão tempo assinalaram a separação definitiva dos nossos ancestrais dos seus antecessores.
A mais antiga comprovação da utilização do fogo data de 600.000 anos. Os usos racionais do fogo aliado com a busca pelo conforto físico contribuíram decisivamente para o aparecimento e conservação do Homo sapiens, sapiens.
A imaginável vida depois da morte tem acompanhado o homem na sua busca para prolongar ao máximo o seu tempo de vida. Possivelmente esta fantástica busca começou com a idéia religiosa arcaica de que é possível, ao animal, renascer a partir dos ossos.
Neste sentido é conhecida e valorizada a citação do Antigo Testamento (Ezequiel, 37:1-8) *: ”A mão do Senhor veio sobre mim, e me tirou para fora pelo espírito do Senhor: e ela me tirou no meio de um campo, que estava cheio de ossos. E ela me levou por toda a roda deles. Eram, porém, muitos em grande número os que se viam sobre a face do campo, e todos sobremaneira secos. Então me disse o Senhor: Filho do homem, acaso julgas tu que esses ossos possam reviver? E eu lhe respondi: Senhor Deus, tu o sabes. E ele me disse: vaticina na acerca destes ossos, e: Ossos secos ouvi a palavra do Senhor. Isto diz o Senhor Deus a estes ossos: Eis aí vou eu a introduzir em vós o espírito e vós vivereis. E porei sobre vós nervos, e farei crescer carnes sobre vós, e sobre vós estenderei pele: e dar-vos-ei o espírito e vós estenderei pele: e dar-vos-ei o espírito e vós vivereis e sabereis que eu sou o Senhor”.
Esta preocupação com os ossos e o conhecimento da decomposição do corpo após a morte influenciaram decisivamente no comportamento do homem em relação ao processo do sepultamento ritualizado.
Os documentos arqueológicos mais antigos e confiáveis desse estudo são as ossadas. O início do sepultamento ritualizado data entre 70.000 e 50.000 anos. Em esqueletos e restos de ossos deste período, foram encontradas a ocra vermelha (argila colorida pelo óxido de ferro com várias tonalidades pardacentas), que substituiu o ritual do sangue como símbolo da vida, sugerindo a crença, já naquela época, de que a existência de nova vida após a morte era considerada não só possível, mas alcançável através de práticas coletivas que envolviam o tipo de sepultamento das pessoas.
Somente a esperança da imortalidade pode justificar a preocupação que acompanha o homem desde a sua origem na ritualização do sepultamento. Esta suposição pode ser reforçada pela possibilidade do aparecimento dos mortos nos sonhos) nada nos impede de pensar que os nossos ancestrais sonhassem como nós).
Entre os sepultamentos ritualizados, datando entre 70.000 e 50.000 anos, mais bem estudados, constam:
1) no sítio arqueológico LEMOUSTIER, na França, um esqueleto de adolescente do sexo masculino, girado sobre o seu lado direito como se estivesse dormindo, com o crânio repousando sobre pilha de sílex servindo de travesseiro e tendo ao lado um machado de pedra cuidadosamente esculpido próximo a vários ossos de gado selvagem, sugerindo que foi enterrado com grande quantidade de carne para servir de alimentação na sua nova vida após a morte;
2) em TESHID TASH, na Ásia Central, a ossada de criança jazia sobre os ossos de uma rena cujos chifres formavam espécie de coroa ao redor da cabeça;
3) na caverna de SHANIDER, no monte Zagros, no Iraque, o esqueleto de um homem adulto sobre uma enorme quantidade de pólen fossilizado de flores de diferentes espécies vegetais. A análise deste pólen mostrou tratar-se de plantas Medicinais ainda hoje utilizadas pelos habitantes daquela região para tratamento de diversas doenças. É provável que o homem enterrado tivesse sido o médico-feiticeiro do grupo social e as plantas tivessem sido colocadas no túmulo para que ele continuasse o seu trabalho específico na outra vida após a morte;
4) na gruta CHAPELLE-AUXSAINTS, na França, foi encontrado o esqueleto do homem adulto acompanhado de vários utensílios de silex com pedaços de ocra vermelha.
Não pode haver dúvida que a busca da explicação do sentido da vida e da morte sempre acompanhou o homem. A presença de utensílios, que eram enterrados junto com os nossos antepassados distantes, está diretamente relacionada com a crença no renascimento após a morte e não somente isso, mas acompanha a certeza de que o morto continuará a sua principal atividade na nova vida após a morte. A maioria desses corpos foram enterrados voltados para o leste, definindo a intencionalidade de relacionar o renascimento com o curso do sol, símbolo da vida e da interminável renovação da natureza.
Um dos suportes das complexas relações sociais do homem é a capacidade de engendra explicações fantásticas para o desconhecido como primeiro passo na busca da verdade.
Grande parte das doenças sempre se situaram neste contexto. Até hoje, quando a racionalidade dos conhecimentos acumulados desconhece a causa e o tratamento de determinada doença, a responsabilidade pelo desconhecimento tende a ser transferida para um personagem divinizado com poder suficiente para dar ao homem todas as explicações e soluções dos problemas que afligem a sua sobrevivência.
No lento processo que envolveu a Medicina com o mito, estava a relação homem-animal com caráter marcadamente transcendente. Somente no Paleolítico superior é que se tem comprovação desta relação. Foram encontrados vários crânios de diversos animais, principalmente de ursos, em cavernas pré-históricas colocados em lugares de destaque que sugerem tratar-se de altares primitivos.
É possível deduzir que a crença do poder animal, ainda hoje aceita em numerosos grupos sociais, tenha surgido nessa época, quando alguns animais desempenhavam importância fundamental no ritmo da vida do homem. Por esta razão foi que o animal adorado variou de acordo com a situação geográfica da comunidade. Em alguma foi o urso, em outras, o bisão e a rena.
Várias descobertas arqueológicas reforçaram a crença de que nossos ancestrais distantes mantiveram algum tipo de adoração mítica pelo ‘’poder animal”. A gravura paleolítica de uma mulher grávida, na fase final da gravidez, sob uma rena e as pinturas rupestres dos médico-feiticeiros de Afvalingskop e de Trois Frères são alguns exemplos da existência dessa relação homem-animal.
É lícito supor, que no primeiro caso acima, tenha ocorrido alguma forma de dificuldade na resolução natural do parto. A gravura pode ter sido feita memorizar o significado da transferência simbólica da força do animal após a efetivação do parto.
Os médico-feiticeiros da Ásia Central e da França, do segundo exemplo, estão travestidos de animal em movimento de dança, lembrando sob muitos aspectos, diferentes manifestações médico-míticas ainda existentes em diversas partes do Mundo e mais especificamente, o ritual dos bisões elaborado, ainda hoje, por grupos indígenas no norte dos Estados Unidos.
Os estudos arqueológicos a avançam no sentido de fortalecer a idéia de que o universo mítico-religioso do homem é muito mais antigo do que se acreditava anteriormente.
A evidência da localização dessas gravuras e pinturas rupestres em locais de difícil acesso, são demonstrativos que se tratava de lugar incomum para o uso habitual. Um dos exemplos mais marcantes é a caverna de Le Tue dºAudoubert, na França. Neste local, foram encontrados dois bisões esculpidos em argila, com quase um metro de comprimento cada, em espécie de altar, cercados por centenas de impressões de pés de adultos e crianças moldados no solo argiloso. Mesmo hoje, com toda a facilidade de deslocamento, utilizando balsas infláveis e luz elétrica, é difícil o acesso a este altar primitivo. Todas essas amostras contribuem para consolidar a suposição de que o universo mítico-religioso do homem paleolítico era dominado pelas relações transcendentes com os animais associadas com o xamanismo.
Já se associa a prática médica desenvolvida na pré-história com os desenhos em ”raios X” da mesma época, que mostram o esqueleto e os órgãos internos do animal. Estes desenhos são encontrados em número expressivo na França, Noruega, Índia, Malásia, Nova Guiné e Austrália. Em associação com estudos arqueológicos comparativos levam a conclusão da enorme possibilidade de que a idéia religiosa predominante no paleolítico estava impregnada de xamanismo. E somente o médico-feiticeiro, graças a sua visão sobrenatural, que seria capaz de ver através da pele.
Este raciocínio pode ser facilmente transportado até hoje para explicar historicamente a ”visão clínica” do médico moderno é capaz de chegar ao diagnóstico com um simples olhar, não utilizando qualquer recurso lógico do conhecimento. Esta capacidade é reconhecida e muito valorizada como símbolo de competência entre a população leiga.
A demonstração inquestionável da existência no Paleolítico superior de sistema simbólico baseado nas fases lunares é extremamente importante para a compreensão do todo nas relações históricas do homem com a sua compreensão da saúde \ doença e vida \ morte. Este sistema de relação do homem com o tempo-espaço forneceu as bases para a compreensão pelo homem pré-histórico dos processos naturais repetitivos e renováveis como a reprodução do homem e dos vegetais, o movimento de cheia e vazão das águas, as estações do ano, a morte e o imaginável renascimento.
A partir desse ponto ao aparecimento dos ritos de iniciação e da guarda dos segredos deve ter sido um passo curto.
A dança circular é um dos exemplos da existência de ritos nos grupos sociais paleolíticos. Incontestáveis marcas em solo argiloso foram identificadas em alguns sítios arqueológicos. Estas marcas de pés de adultos e crianças formando círculos bem definidos, ficaram definitivamente impressos no chão como testemunhas caladas do universo mítico-religioso dos nossos ancestrais.
Com o início das especializações sociais, isto é, a identificação expontânea no seio do grupo social de afinidades pessoais, é correto o pensamento de que os especialistas do sagrado começaram a aparecer, detentores de conhecimento específico para intervir na explicação do desconhecido.
As comunidades do Neolítico ou as anteriores a ele, por não possuírem estratificação social, tinham na busca pela sobrevivência e na explicação dos fenômenos naturais, grande parte da sua atenção. A preocupação pelo conforto físico e em aumentar o tempo da vida deveriam estar entre elas, já que interferiam na segurança pessoal e coletiva.
Nesta fase, quando o homem começou a aumentar o seu conforto físico e a tentar modificar as relações dos binômios saúde \ doença e vida \ morte em si próprio ou em outro membro da comunidade, fez médico.
Foi provavelmente, graças ao sonho, que o homem paleolítico reconheceu a existência de um ser não-tempo independente do corpo, que nas línguas modernas é conhecido como alma, espírito, duplo etéreo, aura, etc.
Como conseqüência dessa crença primitiva, nasceu um dos mais fantásticos objetos de busca da saúde pelo homem os crânios trepanados no período Neolítico, há mais de 10.000 anos.
Existem dezenas de crânios que foram abertos cirurgicamente e algumas pessoas que foram submetidas a estas cirurgias sobreviveram longo tempo, o suficiente para que as bordas do osso cortado se regenerassem parcialmente.
Essa atitude médica do homem neolítico estava impregnada de sentido mítico-religioso, semelhante ao ainda hoje encontrado entre os nativos do arquipélago Bismark, onde essa cirurgia ainda é realizada com o objetivo de retirar os demônios e os maus espíritos dos doentes que apresentam algum tipo de alternação de comportamento.
Muitos indicativos apontam para admitirmos que na época neolítica, o ato médico era acoplado, com muita determinação, ao mágico-religioso e a cabeça com o seu conteúdo era muito valorizada. Somente assim poderemos explicar o grande número de crânios que foram intencionalmente abertos há mais de 10.000 anos.
Na proporção do aperfeiçoamento da linguagem, aumentou a instrumentalização médico-mítica do homem.
Mesmo antes da linguagem articulada, a voz humana era capaz de transmitir não só a informação, ordens e desejos, mas também, criar coletivamente um universo imaginário de relações do homem com ele mesmo e com o meio, fazendo do desconhecimento a pedra angular da formação das suas relações sociais.
As mudanças climáticas ocorridas nos anos 8000 anos a.C. na Europa, proporcionaram incríveis transformações nas relações sociais do homem. O recuo das geleiras provocou a migração da fauna em direção das regiões setentrionais com substituição das estepes pela floresta, obrigando aos homens adaptarem-se a nova fase.
Os elementos sagrados continuaram a acompanhar o homem na sua trajetória de conquista do espaço, que começou a ser concretizada ao lado dos rios e lagos férteis.
No fundo do lago de Stellmoor, perto de Hamburgo, na Alemanha Ocidental, foi encontrada uma estaca de pinho com um crânio de rena na sua porção mais alta e um tronco de salgueiro com mais de três metros de comprimento, grosseiramente esculpido, percebendo-se a cabeça e o pescoço de um personagem humano, ambos datando com mais de 8000 anos.
Foram sobretudo os iniciadores da cultura natufiana, que optaram pela vida francamente sedentária, ao contrário dos seus antecessores biológicos que mantiveram, durante milhares de anos, o nomadismo.
Essas transformações sociais ficaram conhecidas como Revolução Agropastoril do Neolítico. Sabe-se que ela foi um produto de combinações geográficas e climáticas circunstanciais específicas. Porém, um dos fatos mais interessantes foi que diferentes grupos sociais passaram pelo mesmo processo em épocas distintas, na Mesopotâmia há 10.000 anos, no Egito há 8.000 anos, na Índia há 6.000 anos, na China há 5.000 anos, na Europa há 4.500 anos, na África há 3.000 anos e nas América há 2.500 anos.
A Medicina, já definida como especialidade social nessa fase do desenvolvimento do homem, sofrera a influência da deificação da natureza e incorporara no seu bojo toda a estruturação das práticas míticas que envolviam completamente os homens que iniciavam o irreversível processo de sedentarização das suas relações de produção.
As centenas de milhares de anos que os caçadores-coletores permaneceram em relação direta com a natureza, deixaram traços bem definidos na sua nova adaptação ao meio.
É dispensável reafirmar a importância para o homem do desenvolvimento da agricultura racional. Além de tudo o mais, esta agricultura impôs uma divisão de trabalho que interferiu decisivamente no tipo de doença que o homem passou a ter como uma das conseqüências da modificação dos hábitos sociais.
As relações do homem com o animal que predominaram no universo mítico mesolítico são modificadas com o aparecimento da agricultura dirigida. A ordem religiosa com o mundo animal é substituída pela sociedade mítica entre o homem e o vegetal. O osso e o sangue são substituídos pela terra e pelo esperma.
A antiga dispersão das idéias religiosas é conscientizada em espaço definido, a aldeia. Apareceram os primeiros templos fortemente estabelecidos a partir das idéias religiosas indissociáveis da metalurgia, da urbanização, da realeza e do corpo sacerdotal organizado detentor do conhecimento e capaz de interferir, com a ajuda dos deuses, nas relações saúde \ doença e vida \ morte.
É provável que tenha sido nesta fase do processo de transformação das idéias do homem, que tenha se dado a consolidação da criatividade religiosa, como secundária ao fenômeno empírico do cultivo da terra. Não pode se afastada a possibilidade de ter frutificada a partir do desenvolvimento da consciência pessoal e coletiva do tempo, identificada no ritmo da vida dos vegetais, como indicador da renovação perene da vida.
O estudo das idéias e crenças religiosas do homem mostra uma quantidade enorme de exemplos em todos os continentes de mito de origem a partir da nova relação do homem com a terra como o existente na ilha do Ceram, na Nova Guiné, aonde do corpo retalhado de uma jovem semidivina, Hainuwele, crescem plantas até então desconhecidas que oferecem o alimento necessário para as pessoas viverem e a nossa lenda amazônica do guaraná, do vale dos rios Andirá e Maués, na qual o filho da índia Onhiamuacabe é morto e do seus olhos plantados, originou-se do esquerdo o falso guaraná, Uanará-Hopu e do direito o verdadeiro guaraná, Uaraná-Cécé e do corpo enterrado e ressuscitado deu origem ao primeiro maué.
Milhares de anos depois do processo de elaboração dos mitos de origem, surgiram formas sincretizadas, cujo simbolismo é exatamente o mesmo. No Velho Testamento, o pão passou a ser considerado dom de Deus e fonte de todas as forças (SI 104, 14s), um meio de subsistência tão essencial que a falta do pão significa falta de tudo (Am 4,6 e Gn 28,20).
Após a consolidação da praxis cristã no Ocidente o pão continuou a ter o mesmo significado simbólico, como o desejo de comer no Reino (Lc 14,15), relação entre o pão e a palavra de Jesus (Mc 6,30 – 40) e culminando no rito da eucaristia (Jo 6,48 – 52): ”Eu sou o pão da vida. Vossos pais comeram o maná no deserto e morreram. Aqui está o pão que desceu do céu para que todo o que ele comer, não morra. Eu sou o pão vivo, que desci do céu. Se qualquer comer deste pão viverá eternamente: e o pão que eu darei é a minha carne, para ser a vida do mundo”.
A significação dos mitos ao renascimento a partir da nova relação do homem com os vegetais é clara, os alimentos são sagrados por derivarem do corpo de uma divindade e devem ser utilizados para a conservação da vida.
Foi a partir da consolidação do aldeamento que se tem comprovação da utilização empírica das plantas como agentes intermediários na busca da saúde, provavelmente como fruto das novas relações míticas do homem com a terra.
Com o desenvolvimento e consolidação da Revolução o Urbana, os grupos sociais iniciaram a acumulação rápida de conhecimentos, suficientes para desencadear o assentamento definitivo de comunidades mais numerosas, iniciando-se nova transformação social com a formação dos aldeamentos.
Esse aldeamento se deu inicialmente, próximo das fontes de água em caráter permanente e em terras férteis. No chamado Crescente Fértil, entre os territórios montanhosos de Israel, Jordânia e Síria, compreendendo os rios Tigres e Eufrates e se estendendo do mar morto ao Golfo pérsico, apareceram as primeiras aglomerações humanas urbanas conhecidas, datando em torno de 8.000 anos.
É certo que a Medicina se desenvolveu nessas cidades ao lado de práticas míticas, envolvendo ritos que se coletaram e passaram a ser realizados em épocas de festividades e consagrações.
A circuncisão é um dos exemplos. Ela deve ter sido praticada no Neolítico de modo muito semelhante ao que apareceu na Mesopotâmia e no Egito, 5.000 anos depois.
Foi a interferência do conceito mítico – religioso – A aliança entre Deus e Abraão – (Ge 17,9) ” Disse mais Deus a Abraão: Tu pois guardarás o meu pacto, tu e teus descendentes depois de ti. Todos os machos dentre vós serão circuncidados. E vós circundareis a carne do vosso prepúcio, para que esta circuncisão seja o sinal de concerto, que há entre mim e vós”, o fator histórico responsável pela forma de circuncisão que temos gravada na memória.
A utilização de instrumentos específicos com o objetivo de facilitar a comunicação com o transcendente e intervir no curso das doenças oi consolidada definitivamente na prática médica e serviu para reforçar institucionalmente o poder médico.
Quando o médico sumeriano sacrificava um animal e retirava o fígado para estabelecer o diagnóstico a partir da leitura das mensagens divinas contidas na víscera do animal sacrificado e o médico moderno leu para o doente o diagnóstico de uma ultrassonografia hepática, o simbolismo é semelhante. É claro que não está sendo considerado a evolução tecnológica do diagnóstico. Não se pode duvidar é que em ambos os casos a relação médico-paciente foi estabelecida nos mesmos moldes, isto é, na Babilônia e no hospital atual, o médico e o doente estavam absolutamente convencidos de que naquela instrumentalização centralizava todos os recursos disponíveis para a busca da saúde.
Esses fatos passam a ser de importância fundamental para a historiografia da Medicina se levanta as alternativas que o homem já utilizou, como agentes intermediários, entre a sua prática e o objeto dela, na busca incessante do conforto e da saúde.
O uso de plantas alucinógenas pelas populações nativas americanas do Norte e do Sul, constituem outro exemplo dessa utilização instrumental na prática médica. Em todos os grupos estudados, apesar de pequenas diferenças no ritual, o simbolismo é exatamente o mesmo. As plantas, como dádivas divinas, são utilizadas para facilitar a comunicação entre o pajé os deuses, na busca da cura das doenças.
Todas elas Oloiuhqui, Tlitliltzen, Mescal Beans, Teonanacati, Conocybe, Lycoperdon, Pipiltzintzintli, Peito de Moça, Maikoa, Floripondio, Toloatzin, Estramonio, tabaco, San Pedro, Paricá, Virola, Coca, Epadu, Ayahuasca e a Jurema, são utilizadas os rituais médico-míticos por centenas de grupos indígenas nas Américas. Após a colonização predatória e a cristianização forjada a ferro e fogo pelas hordas européias, o uso das drogas alucinógenas continuou, apesar da implacável perseguição do clero, mas sofreu severas transformações que contribuíram para a desestruturação irreversível do universo mítico de milhões de índios. Sem o simbolismo da explicação da origem primeira, eles se tornaram presa fácil nas mãos exterminadoras do colonizador europeu.
O empirismo racional também foi e continua sendo utilizado ao longo de milhares de anos ao lado dos métodos mágicos na busca da saúde. Os mais conhecidos e usados foram as massagens, administrações de ervas Medicinais sem o prévio conhecimento de seu primeiro ativo, plantas que provocam o vômito e a diarréia, cataplasmas e lavagens intestinais. O uso destes artifícios está profundamente marcado na memória coletiva de todos os povos, independente da organização social de cada um deles.
As relações médico-míticas existentes na atualidade nos grandes centros urbanos estão tão vivas e acesas que fica praticamente impossível se estabelecer limites no tempo. É como se ondas retardatárias das primitivas relações do homem com o animal e com a terra ainda estivessem chegando.
Somente com o embasamento da história da Medicina e da sociologia da saúde e possível compreender a essência da Medicina praticada por milhões de pessoas nos centros de umbanda e candomblé, nos templos kardecistas, nas igrejas de diferentes grupos religiosos e, especialmente, o rito de pajelança dos caciques Raoni e Sepain no cientista Augusto Ruschi, para extrair o veneno do sapo dendrobata que teria sido inoculado no cientista em uma das suas viagens na Amazônia. Este fato foi notificado em todo o mundo como exemplo da relação médico-mítica presente no mundo contemporâneo.
- MEDICINA PRÉ-HISTÓRICA E A PALEOPATOLOGIA
As escavações realizadas em Neandertal, nos arredores de Düsseldorf, em 1854, trouxeram à tona alguma luz sobre os nossos ancestrais mais distantes que viveram no paleolítico médio.
Os recentes estudos da paleopatologia ajudam a compreender, às vezes a partir de pequeno fragmento de osso, as doenças de grupos de homens pré-históricos. É claro que esse parco conhecimento diz respeito às patologias ósseas ou aquelas que deixaram marcas nos ossos.
De modo geral, as doenças que causaram dor aos homens e às mulheres no passado distante estão distribuídas em dois grupos: congênitas e adquiridas.
As lesões hereditárias com sequelas ósseas encontradas foram: bifurcação de costela, formação óssea anômala no úmero, polidactilia e deformidades cranianas. Algumas má-formações raras, quando são encontradas repetidas vezes num sítio arqueológico, podem fortalecer a ideia de que a pessoa sepultadas pertenciam ao mesmo grupo familiar.
Contudo, a maior parte das lesões encontradas são de origem traumática em acidentes de caça ou em luta com outros homens.
As lesões traumáticas cranianas são as mais comuns. Em sítio arqueológico, próximo de Pequim, um grupo de onze indivíduos do grupo de Java, quatro crânios apresentaram perfurações traumáticas fatais. Em outra área de escavação, abrigando uma família do Paleolítico Superior, composta de sete pessoas, o mais velho apresenta fratura com depressão do temporal esquerdo, a mulher adulta tem fratura parietal esquerda e os outros crânios, pertencentes às crianças de diferentes idades, mostram traumatismos mortais na cabeça. No sítio mesolítico de Fonte, na Áustria, foram desenterrados trinta e seis crânios, na maioria de crianças, todos arrancados dos corpos e, na maioria, com esmagamento dos ossos parietais provocados por objeto cortante. Dezenas de esqueletos foram recuperados com setas de sílex encravadas em diferentes ossos.
Os moradores das cavernas, provavelmente muito úmidas, nos períodos que abrangem mais de cem mil anos, sofreram os processos degenerativos causados pela artrite deformadora, conhecida como gota das cavernas, pelas doenças do periodonto e do raquitismo.
A absoluta necessidade de utilização dos dentes como instrumento para apreender e triturar o alimento cru, deixaram marcas profundas no aparelho mastigador. Algumas mandíbulas mostram dentes submetidos a tamanha abrasão que o desgaste alcança a polpa com marcas de abcessos. Por outro lado, a cárie dentária não foi assinalada antes do neolítico.
Não restam dúvidas da existência de estreita cooperação entre os bandos nômades que perambulavam no planeta há 400.000 anos. Um dos relatos mais interessantes da paleopatologia, entre muitos, descreve o esqueleto de um homem, achado na gruta La lave (França), ferido pela frente, com a ponta de uma seta de sílex encravada no sacro. Alguém arrancou a haste, cuidou dos ferimentos e alimentou-o enquanto permaneceu imobilizado.
A cooperação entre ancestrais imobilizados por doenças crônicas, que sobreviveram muitos anos, também é detectável através dos estudos da microscopia. A descoberta, em 1956, de alguns ossos de um Homo sapiens que viveu entre 70.000 e 40.000 anos, apresentando sinais de degeneração artrítica avançada ocasionando muita dificuldade na locomoção é prova contundente de que recebia alimentação e era auxiliado na locomoção por outros membros do grupo.
O conhecimento historicamente acumulado (CHA) foi o responsável pela aquisição de práticas médicas conservadoras utilizando o gelo, a água, o fogo, a fricção, a sucção, a saliva sobre a área ferida nos acidentes de caça ou de guerra e a imobilização do membro fraturado. O acesso ao corpo e aos seus processos primários de repetição, o nascimento, as mudanças no corpo com o passar do tempo, a menstruação e a morte impostos por uma natureza desconhecida, foram gradualmente compreendidos.
Por outro lado, as atitudes intervencionistas, uma espécie de cirurgia pré-histórica, estão comprovadas nas análises dos ossos longos, notadamente, úmero, fêmur e dedos com sinais de amputação. Contudo, a craniectomia ou trepanação pré-histórica, além de continuar intrigando os pesquisadores, é um marco da intervenção do homem sobre o homem.
Quaisquer que tenham sido os motivos que levaram o homem pré-histórico a praticar a craniectomia (abertura e retirada voluntárias de um segmento ósseo do crânio), em diferentes períodos da pré-história, não podem ser dissociados, sob nenhum argumento, do contexto social que os impulsionou para o conhecimento do corpo através da convivência do sagrado com o profano.
A trepanação foi realizada em duas circunstâncias distintas: seguramente, para reparar os acidentes violentos na cabeça com afundamento ósseo e, supostamente, obedecendo certos preceitos mágicos desconhecidos.
A craniectomia pré-histórica permanece como um marco nas atitudes do homem na busca dos enigmas do corpo, ligadas ao sagrado e ao profano. Muitos deles foram abertos cirurgicamente em diferentes lugares da Europa, da Ásia e da África. Alguns dos indivíduos submetidos à trepanação sobreviveram por longo tempo, o suficiente para que as bordas do osso cortado se regenerassem parcialmente
O local escolhido do acesso para cortar os espessos ossos cranianos parece ter tido uma significação específica, também ainda não esclarecida. Alguns povos faziam a craniotomia do osso temporal, outros do parietal, retirando pedaços com forma geométrica diferente, de poucos centímetros, até grandes aberturas, como a do crânio achado em Collombey‑Muraz, na Suíça, feito através da órbita direita, da qual provavelmente o doente não sobreviveu.
A diversidade de como foram feitas contribuiu para supor que elas foram muito difundidas e fizeram parte de um conjunto maior de intervenções do homem no corpo humano, assinalando um momento específico na convivência entre o sagrado e o profano. O agente da cura deixou de ser mero espectador e intermediário da vontade divina, para tentar mudar, com a sua ação, o curso de um acontecimento na saúde.
Não importa aqui qual tenha sido a principal motivação para que houvesse a concordância do especialista e do paciente, respectivamente, para fazer e aceitar a intervenção como necessária; o fato é que elas foram feitas e é muito pouco provável que tenham sido todas elas praticadas sob violência.
Os pesquisadores continuam a acirrada discussão acerca das indicações da cirurgia. Alguns acham que eram feitas com objetivo puramente religioso; outros, apostam que existiu realmente uma tentativa para sanar alguma queixa grave e permanente. Todavia, é indiscutível que em ambas as alternativas, tornava‑se necessário que a maioria dos membros do grupo aceitassem que o objetivo a ser alcançado estava alojado dentro da cabeça.
Essas práticas, feitas em grande número há mais de 10 mil anos, encontraram a força necessária para a sua reprodução a partir do momento em que o homem desejou mudar o curso da vida, depois de reconhecer a importância das funções vitais abrigadas na intimidade do cérebro.
Os depoimentos de viajantes, dos séculos XVIII e XIX, que estiveram nas ilhas do Pacífico, asseguram que o ritual da craniotomia entre aqueles povos era executada pelo feiticeiro para retirar os demônios e maus espíritos causadores de doenças.
É, no mínimo, pouco sensato não concordar que tenha ocorrido a profunda integração do sagrado com o profano na sedução oferecida pelas trepanações.
O fato que provavelmente nunca será completamente explicado é o porquê de a trepanação ter sido utilizada por diferentes povos da Europa, Ásia, África e, mais recentemente, pelas civilizações da América pré‑colombiana, sem que os grupos humanos tenham tido ligações étnicas.
Para quem já teve a oportunidade de ver a complexidade de uma craniotomia e observar a pulsação ritmada dos vasos sanguíneos da dura‑máter, logo abaixo do osso espesso que a protege, fica pensando como poderia uma cirurgia como esta ter sido executada há milhares de anos por diferentes povos em espaços e tempos tão diversos. A freqüência dela nas peças ósseas encontradas chega a surpreender. No sítio neolítico de Saint‑Martin‑la Rivière, na Áustria, foram desenterrados sessenta crânios dos quais cinco (8%) foram trepanados.
Nas culturas pré‑incaicas, notadamente a Tiawanaku, e na incaica as escavações arqueológicas não param de revelar as múmias, magnificamente conservadas, que foram submetidas à trepanação em vida.
A craniectomia pré-histórica serve para reforçar a tese do processo intervencionista do homem sobre o homem utilizando para este fim partes do corpo consideradas mais importantes e vitais. É claro que não é possível isola-las como práticas no Neolítico, já que foram praticadas nas civilizações americanas pré‑colombianas e nas ilhas do Pacífico, ha pouco mais de trezentos anos.
A crescente complexidade da fala substituiu pouco a pouco a ação. Conforme os recursos da linguagem foram processando novos léxicos, tornava‑se menos necessário a ação. A explicação era sinônimo de “não fazer”. Se considerarmos que o ato pode ter antecedido a explicação, os primeiros rituais simbólicos poderiam significar a expressão do invisível no sentimento coletivo. Nesse caso, a craniotomia dava a quem executava, o curador, o poder de mostrar o que estava escondido dentro da caixa craniana, sem qualquer explicação verbal.
A oposição entre o falar e o fazer é de fundamental importância para que possamos acompanhar o caminho do homem para penetrar nos inesgotáveis mistérios do seu corpo. A oposição entre o dizer e o fazer já fazia parte dos lugares‑comuns da civilização, da literatura e, da língua grega. A tal ponto que, em muitos textos, a expressão “ele disse” tendia a ser entendida, se não fosse imediatamente corrigida, como “ele não fez”.
Neste momento, torna‑se indispensável unir todos os elos disponíveis para ajudar no entendimento de como atuaram certas associações simbólicas no aparecimento da trepanação pré‑histórica.
O culto do crânio é uma das mais importantes. É possível que o conhecimento empírico acumulado já fosse suficiente para dar ao homem a importância do conteúdo do crânio, já que uma pancada na cabeça tinha conseqüências imediatas muito mais graves do que outra de semelhante intensidade na perna. O resultado do traumatismo craniano fazia com que ocorresse a imediata perda dos sentidos, seqüelas que podiam permanecer o resto da vida ou ocasionar a morte instantânea. Essa observação forneceu a sedução para que os nossos ancestrais iniciassem uma compreensão do crânio com o seu conteúdo como parte sagrada do corpo.
O começo da atenção do homem para o valor da massa encefálica na vida de relação é suficiente para justificar o culto da sua estrutura protetora ‑ o crânio ‑ e a intencionalidade de abri‑lo, através das craniotomias, para conhecer e tomar posse das suas qualidades
O segundo exemplo, que é bastante conhecido diz respeito a esqueletos encontrados do paleolíticos e do neolítico com fraturas da perna, fraturas do braço e que alguém colocou os ossos no lugar e mais, não só colocou o braço no lugar mas fez imobilização para o membro, seria impossível cicatrizá-lo da ferida de um úmero, não basta só retificar o osso, você tem que imobilizar e os esqueletos mostram calos de ossificação, pessoas que tiveram fraturas, formaram calo e morreram de outra coisa e alguém cuidou delas, claro! Por que que alguém cuidou delas, por uma questão de sobrevivência uma pessoa com a perna quebrada, um homem, ele não pode se deslocar para a caça, ele não pode se deslocar para comer, então alguém imobilizou, alguém reduziu, alguém imobilizou e alguém cuidou, claro, isso são registros pré-históricos, antes da escrita. Sem dúvida nenhuma no mesmo período os homens tiveram a imensa curiosidade de procurar saber o que estava escondido atrás da pele, é uma curiosidade de saber o que está escondido atrás da pele, sempre foi uma curiosidade, quais são os instrumentos que nós temos para afirmar isto, algumas pinturas rupestres, isto é, pinturas em pedras, escritas empedras e que mostram por exemplo uma criança na barriga de uma mulher, a criança de barriga para baixo, o que significa isso? Que alguém abriu a barriga de alguém e viu que a criança estava de barriga para baixo, aquilo não é obra do Espírito Santo, alguém pintou na caverna por exemplo o coração de um javali, a posição exata do coração de um javali e mostrando a flecha no coração, qual a significação simbólica disso? É o local mortal para você abater a caça, da mesma maneira numa época absolutamente difícil de precisar, os homens ou os nossos antepassados, o que nós chamamos de hominídeos, se relacionaram com o vegetal, com o verde, todos os vegetais, de que maneira? claro se tem uma comunidade nômade e um dos membros ou um animal, meche numa determinada planta, o animal anda, anda, cai e morre, a ingestão da planta é associada a morte, se alguém ingeri algum vegetal e se sente melhor, tem alucinação ou fica numa boa eles associam o vegetal à mudança de comportamento, isso é tão antigo quanto ao próprio homem, não se achem inteligentes excessivamente porque os nossos antepassados, os hominídeos eles povoaram o planeta não porque eles fossem burros, eles venceram os outros animais impondo normas de conhecimento suplementar, essa relação com os vegetais ela é tão antiga quanto o próprio homem.
Vocês ouviram falar do homem da neve, foi um fóssil congelado que foi achado na Áustria a coisa de dois anos atrás, saiu na televisão, uma pessoa esquiando na Áustria num ano de descongelamento, encontrou um fóssil e foi o maior achado da ciência nos últimos 50 anos sem a menor dúvida, esse fóssil ainda está sendo estudado, mas as primeiras publicações já começam, ele era um caçador, nômade, o corpo coberto de roupas de couro, usava sandálias de couro, o que significa isso? Ele abatia o animal e tirava do animal abatido o que lhe interessava para a sobrevivência, ele já tinha inteligência suficiente para vencer a destaque dizer o animal menos inteligente, o que é realmente impressionante, ele tinha uma coche-te assim como vocês usam de carregar documentos, chaves, cigarro, não tem uma pochetezinha? pois é ele também usava uma coche-te, só que não era coche-te da Zoomp, da Fórum, era uma coche-te de couro feita a mão e dentro da coche-te, dentro do bolsinho que ele tinha amarrado na cintura tinha ervas alucinógenas até hoje usadas no centro da Europa, tinha folhas de papoula, esse homem carregava plantas alucinógenas, claro ele não carregava para fazer crítica, nem conferência mas sim para usar, é claro que nós jamais saberemos a relação dele com aquela planta alucinógenas, ele era castrado, ele não tinha os testículos e a muito tempo se desconfiava-se que em pequenas populações da Europa Central, onde tinha-se poucas mulheres, alguns homens eram castrados para substituir o papel feminino na sociedade, esse estudo já esta se desenvolvendo há mais de 50 anos e o achado desse homem foi realmente de uma importância impressionante porque em todo grupo social tem homens mais fortes, e homens menos fortes, mulheres mais fortes e menos fortes, os homens menos agressivos a tendência deles e de se fazer substituir o papel feminino, esse é um estudo sociológico e ninguém tem a menor dúvida. Em populações de sinos, nós vamos ver isso em vídeo, em populações de sinos quando o macho está enfurecido algumas fêmeas ficam em posição de cópula, digo de quatro, em posição de cópula pois após o ato sexual o macho se acalma sempre, então uma das vias de acalmar o macho nas populações dos sinos que são nossos primos genéticos, não pensem vocês que nós somos muito diferentes por exemplo, dos chimpanzés, nós somos 91% geneticamente idênticos aos chimpanzés, 90% e alguns chegam a 96% a identificação genética cromossoma é absolutamente idêntica, são nossos primos na escala de evolução, quando o macho está enfurecido, nessa população de sinos quando o macho enfurecido ele tem um papel de fúria dentro de um grupo e quando as pessoas se amedrontam, as fêmeas ficam em posição de cópula chamando o macho à relação sexual e após a relação sexual ele acalma, quer dizer o ato sexual é um instrumento social de equilíbrio dentro da sociedade, dessas relações de conflitos quando as mulheres, as fêmeas demoram a ficar na posição de cópula, o macho fraco do grupo se oferece porque ele não tem estrutura de resistir a pressão, ele substitui a fêmea, são estudos antropológicos absolutamente discutidos, então é possível que dessas sociedades mais frágeis.
Atenção, aqui não é local de brincadeira, eu não estou brincando e nem isso é assunto de gracejo eu estou falando de estrutura teórica, sociológica da organização da sociedade, o fato de qualquer outra sociedade ter um homem, um macho não agressivo, não significa que ele seja melhor ou seja pior, isso é uma estrutura genética provavelmente genética que tem de ser compreendida e aprovada, eu não estou falando brincadeira na sala de aula, atenção.
Pois bem, esse homem achado nas neves, chamado homem das neves ele era castrado, estava coberto de uma roupa de couro, ele tinha espermatozoide no reto, ele tinha pouco antes de morrer tido relação anal, então essa análise está disponível para vocês, eu tenho fonte referencial, então ele fazia papel feminino dentro da comunidade, e o que é mais impressionante, algumas plantas que ele carregava dentro da bolsa, são até hoje utilizadas como plantas Medicinais. Então só para terminar o raciocínio nós temos, eu quero dizer com isso que nós temos um processo de especialização provavelmente genético, eu jamais consegui tocar qualquer instrumento, eu tinha, agora até já desisti, mas, eu tinha uma imensa vontade de aprender tocar violão, eu tentei pelo ao menos três vezes e na terceira o professor, um amigo meu me disse: João Bosco, pelo amor de Deus vê se você desiste porque você vai ficar “blem-blam” a vida toda, você jamais vai tocar. Eu não tenho sensibilidade auditiva, eu tenho amigos que eu fico assim babando, eles vão para minha casa, a gente sai para tomar uma birita ou coisa assim e eu digo Roberto, aquela música dos Beatles e pá! ele toca a música e uma música moderna. Vocês conhecem alguém assim.
Quer dizer, isso nasce com a pessoa, isso não é, claro se a pessoa vai para a escola ela faz um aperfeiçoamento, mas isso nasce, da mesma maneira pintar, vocês verão algumas pinturas pré-históricas absolutamente lindas, um animal em movimento, então essa sensibilidade, essa especialização nas populações neolíticas ela é expressiva, então alguém caçava, era bom na caça, outros eram bons em pintar, uns iam caçar e os outros ficavam pintando, isso ninguém tem menor dúvida.
Contudo tem um ponto fundamental, absolutamente fundamental dentro dessa discussão que é a sexualidade e o território, a guarda de um pedaço da terra e dizer: não, esse pedaço é meu! E a sexualidade, então nós vamos passar para a segunda parte da discussão e vamos abrir ao debate dessa primeira parte.
Você quer falar?
- É relacionado ao que o senhor acabou de colocar sobre o papel do homem na sociedade, o seu papel sexual e essa atividade de caçar sempre era atribuída aos mais fortes, a própria sociedade atribuía?
Contra o raciocínio, como é seu nome? José Carlos, o contra raciocínio é extremamente simples, na estrutura social eu não vejo como um cara frágil sair para caçar, o caçador tem que ser forte, rápido e ágil, nós estamos falando de cinco mil, sete mil anos, oito mil anos, quero dizer cinco mil anos mais dois mil anos da era cristã, sete mil anos e esse homem tinha pouca massa muscular, ele era castrado, ele era baixo, tinha um e cinquenta e dois metros, magro, pernas finas, corpo afeminado, as ancas largas, então fica difícil você imaginar uma pessoa dessa caçando por exemplo um …, então pode até que seja imaginação mas você não vê isso nas sociedades primitivas, ditas, sociedades de organização social simples mesmo hoje o caçador ele é sempre agressivo, não tem caçador como não tem cirurgião não agressivos, a natureza é agressiva, isso não quer dizer que seja grosseiro, não associem agressividade com grosseria, grosseria é uma coisa e má educação é outra coisa, eu estou falando de agressividade ao ar, pode até ser que ele seja caçador mas ele foi achado com nenhuma arma de caça, ele não carregava arma de caça, ele carregava a bolsinha com as ervas e plantas Medicinais, então pode até ser que você tenha razão mas na minha cabeça o caçador está relacionado ao poder físico.
Você quer falar alto por gentileza.
- Há o caso dos eunucos que guardavam as concubinas dos xeiques e eram altamente respeitados.
Sem dúvida, foi bem lembrado. Mas você sabe por que do ponto de vista sociológico, por que eles eram castrados? Para não tocar nas mulheres do xeique, é muito mais fácil você ter 200 mulheres, e se for um cara não castrado perto de 200 mulheres é difícil, realmente muito difícil mas se o cara é castrado, o perigo de você tocar na mulher do xeique é muito maior, mas eu sei que eles eram muito respeitados porque eles tinham um papel social que não era igual ao do caçador, o xeique não ia colocar um caçador ou um guerreiro perto das mulheres deles, realmente eu te garanto que não.
Então reforça de alguma maneira o papel social diferente, eu diria assim.
Mais alguma pergunta? Outra pergunta. Está turma é inteligente.
- Eles eram homens que tinham grande massa muscular, porque a gente vê nos filmes que eles eram umas caras trogloditas danados, mas na realidade?
Não existe eunuco de massa muscular, a massa muscular está relacionado com o hormônio androgênio, as mulheres tem ancas mais largas, a única diferença da mulher para o homem, é o corpo, é o físico, não tem diferença de capacidade, de inteligência, de agressividade, não existe, a única diferença é o músculo porque o androgênio, a testosterona atua no desenvolvimento muscular, é só isso e se ela tomar um pouquinho de hormônio masculino fica com um desenvolvimento muscular exacerbado, então aqueles eunucos é coisa de Hollywood, não corresponde à realidade, o castrado na infância, o que que você faz com o porco? Ele engorda, ele acumula gordura, não acumula músculo. Por que que se castra o porco dentro da veterinária? É para se retirar o hormônio masculino e dar formas femininas, teoricamente formas femininas.
- O colega falou sobre massa muscular, mas pelo que me parece além dessa colocação a expressão eunuco que é dado ao homem sem testículos, de um homem castrado, se era dados à generais militares.
Não, não! O eunuco era o cara que tirava os testículos, esse era o eunuco.
- É porque o senhor está falando sobre o papel social, mas me parece que a expressão eunuca também era empregada a generais militares, por exemplo: na Etiópia algum militar do exercício tinha esse posto de eunucos sendo que eles não eram eunucos, não eram castrados, sendo que eles tinham essa condição, e posição?
Eu não sei disso, se você leu traga o livro que a gente analisa em conjunto, eu não sei de nenhum general eunuco na história das guerras, a não ser que seja algum nome especial, não sei, realmente não sei. Você consegue e traga a referência para a gente vê.
General na antiguidade era o mais forte, era o que matava o maior número de pessoas, essa é a idéia geral da sociologia histórica.
- Não era que os generais fossem eunucos, castrados, mas era que a posição deles era chamada assim na Etiópia.
Não tenho conhecimento, você traz o material para nós vermos.
Mais alguma questão?
Bom, vista-se essa parte geral, nós vamos discutir duas coisas absolutamente fundamentais dentro história da Medicina: sexualidade e território.
II PARTE
Eu vou começar a segunda parte com uma afirmação muito banal e cheia de realidade.
Se fazer amor desse dor de barriga e diarreia o planeta não estaria super habitado, então fazer amor é uma coisa boa, da Patagônia ao Pólo Norte.
Então a organização do planeta o povoamento do planeta tem uma razão de ser biológica, isto é, fazer amor é bom. Claro, eu não estou falando das circunstâncias desagradáveis que uma ou outra pessoa teve na sua vida pessoal, na sua vida sexual pessoal, eu me refiro ao conjunto da população, sem dúvida nenhuma o planeta está superpovoado, no ano de 2050 nós seremos perto de 16 bilhões de pessoas mesmo com as guerras, com as doenças, existe a possibilidade do superpovoamento e se fazer sexo fosse desagradável isso não aconteceria.
O segundo ponto fundamental é a questão da territorialidade, do território, a pose e a guarda do território, então nós vamos trabalhar agora a sexualidade e território.
Imaginem um território A com uma população A, com um tempo as pessoas conforme nós falamos, é claro que não é preciso fazer um curso em Oxford conforme nós falamos para saber que a menstruação, a menarca significava: relação após a menarca significava a possibilidade de engravidar, de a mulher engravidar.
Existem registros de mais ou menos 5 mil anos antes de Cristo, escritos. Que fala disso. Relação antes da menarca não engravida, relação após a menarca engravida, isso é um conhecimento, e não esqueçam dessa frase, que nós chamamos de conhecimento historicamente acumulado, não tem registro escrito, mas é passado de geração a geração, vocês entendem o que é um conhecimento historicamente acumulado? É a identificação que mata o boi e o cara diz: você não pode comer aquela planta, aquela planta mata, não sabe quais são as substâncias, não sabe como que mata mas sabe que mata, isso é o conhecimento que nós chamamos historicamente acumulado, parteiras que quando aparece o braço da criança na vagina sabe que será um parto complicado, não sabe como é que passa mas sabe que quando vem a cabecinha vem e aparece o cabelo é um parto mais fácil de que quando aparece um braço, é um conhecimento historicamente acumulado, entendem o que é um conhecimento historicamente acumulado? Isso é muito forte em todas as populações até hoje, digam-me um exemplo de um conhecimento historicamente acumulado, tem um milhão, quero só um.
- Os índios e seus conhecimento.
A relação dos índios com a natureza circunstante, eles não fizeram curso em Oxford, nem na Universidade do Amazonas, mas eles sobrevivem na floresta, entretanto se eles vierem para o asfalto a sobrevivência deles vai ficar comprometida, se nós formos para lá a nossa sobrevivência vai ficar comprometida porque o nosso conhecimento tem uma territorialidade, o nosso conhecimento tem uma área de território. Essa população pode se dividir em PA1, PA2, PA3 e PAN, o que significa isso? são membros da sociedade com capacidades pessoais diferente, uns são bons no arco e flecha, outros são bons na lança, outros são bons na corrida, outros são bons em observar as plantas, outros são bons em outras coisas, em mil coisas e a sociedade se mistura nesse conjunto desarmônico de especializações sociais contudo ela se organiza, ela tem uma estrutura de organização, quem que vocês acham que poderia ser o chefe de uma comunidade de 10 mil anos antes de Cristo, o cara que manda é o cara delicado ou é o guerreiro? é o guerreiro, os livro sagrados estão cheios de guerreiros que foram reis que mataram exércitos, no Velho Testamento, nos livros sagrados do oriente, não existe rei que não seja guerreiro isso foi até século XVIII e há pouco tempo nos Estados Unidos teve um general que venceu uma dessas guerras que os Estados Unidos fazem e que ia se candidatar à Presidência porque ele tinha uma história de…, eu não sei o nome, era um desses militares do Vietnam porque a população, a massa da população associa poder à comando, com força, capacidade de decisão, entretanto o que que a população PAN tem que ter no território A? O que ela tem que ter no território? Sobrevivência, essa sobrevivência tem que vir da caça, da pesca e da natureza circundante, não tem outra alternativa, a população do Amazonas 95% não vive do açúcar do supermercado, nós vivemos numa cidade urbanizada, mas o Estado não é urbanizado então eu diria que 90%do interior do Amazonas não vive das coisas empacotadas do supermercado, eles tiram da água, da terra a fonte da sobrevivência, a caça, a pesca. Claro, o supermercado substituiu a caça, quando você vai com a grana no bolso e entra num supermercado do ponto de vista simbólico do seu sistema nervoso central é como você estivesse indo à caça e você vai tirar do supermercado a sua fonte de alimentos, quando você sai com a sua pastinha para ir ao trabalho, essa pastinha do trabalho a representação simbólica dela é o instrumento de luta da percolação de 10 mil anos quando você pega o seu carro e faz um trajeto uma vez, duas vezes, mil vezes, na vigésima vez você não fica tenso agora se você muda o caminho e vive uma situação nova você fica tenso porque a situação é outra, dentro desse conjunto que o território tem que dar alimento, tem que ter sobrevivência do doente, o que que pode acontecer, essa população ela se transforma de território A em N pessoas + Y, o número aumenta mas o território permanece o mesmo dando essas pessoas, qual é a tendência? Forçar a fronteira, ninguém força a fronteira sem uma resposta porque sempre tem um vizinho, todos nós temos uma casa, cercada, aqui este território é meu porque todas as leis feitas no espaço sagrado ou no espaço profano das relações protege a propriedade, quer dizer, a lei profana, a lei feita para os homens, te permite matar se alguém invade a tua propriedade, se entra um ladrão na sua casa e você dá um tiro nele a lei lhe protege, você vê como é forte a questão de propriedade inclusive a lei sagrada, um dos mandamentos da tradição judaico-cristã, tem um que protege a propriedade que diz: não roubarás, claro, quem rouba avança na propriedade de outro.
Então quando você avança um território, você avança para quê? Para aumentar o alimento ou antigamente há dez mil anos atrás em populações que tinham poucas mulheres eram excursões para trazer mulheres, matavam os homens e traziam as mulheres, isto quando acontece a expansão do território é claro ela está montada numa estrutura da sexualidade, a história está cheia de menções de homens que fizeram guerra para conquistar uma bela dama, uma bela mulher.
Professor, tem um que diz: não cobiçarás as coisas alheias.
Exato, inclusive é melhor do que o não matar, é mais específica, quer dizer, é o direito da propriedade, pois bem nesse conjunto, a relação do homem com a natureza e a relação do homem com os outros homens, você ocorre, o homem sofre lesões no corpo, se machuca e sem dúvida nenhuma nas populações pré-históricas sempre existiu alguém especializado em curar, ou lesões de guerras, ou lesões entre os homens, disputa entre os homens, ou as relações de caça. A expansão de território ela permite que uma população que cresça e se estabeleça em limites além do território anterior, o que acontece com isso do ponto de vista da Medicina?
São duas coisas fundamentais, a primeira delas é a necessidade sem dúvida nenhuma isto existe na história e a gente vê isso nos documentários, de tratar os aliados, quer dizer se ele é meu amigo, ou amigo do vencedor é tratado, o inimigo é morto. Então estabelece-se relações de aliança, nesse conjunto, território e sexualidade, aparece, emerge as relações com os mortos, isso as primeiras sepulturas datam em torno de 15 mil anos, isto é há 15 mil anos os hominídeos enterram e choram os seus mortos, a relação com a morte, essa relação dura com a morte ela é provavelmente um produto da organização social e eu chamo de memória sócio-genética, eu li um livro sobre isso, a relação com os mortos ela tem diferentes maneiras e nós veremos isso no vídeo nas próximas aulas, contudo ninguém ri da morte de um ante querido, ninguém, quando eu falo em chorar, não significa derramar lágrimas mas existe um sentimento de perda e esse mesmo monte Zarros que se achou um braço de 15 mil anos tem uma sepultura arqueológica, famosíssima de alguém entre 25 e 32 anos do sexo masculino que foi enterrado há 15 mil anos sobre um tapete de flores multicoloridas, como é que se sabe que é um tapete de flores multicoloridas, como é que se sabe que é um tapete de flores multicoloridas? Pela análise do pólen, pessoal da farmácia, o pólen fossilizado é analisado e você identifica qual é a flor e a cor da flor, então aquele homem morreu e foi posto sobre uma sepultura, sobre um tapete de flores multicoloridas e mais ao lado dele tinha um enorme saco de plantas medicinais, o que significa isso? Aquele homem tinha um papel importante naquela sociedade, ele provavelmente é o primeiro registro arqueológico do enterro de um curador, tinha uma quantidade, mais de uma centena de plantas Medicinais, mas por que o homem era enterrado com essas coisas, tinha pedaço de lebre, de carne, quer dizer, ele foi enterrado com utensílios como se fosse beber água, como se fosse comer, por que isso? O quê que isso nos suponho, nós supomos que aquele povo de 15 mil anos antes de Cristo, quer dizer há 17 mil anos já começou a enterrar os seus mortos com instrumentos, com coisas.
- Não seria porque eles tinham uma crença em outra vida, e que essas coisas poderiam servir?
Então, resumindo era crença, aqueles povos acreditavam na crença do renascimento, que aquela vida de alguma maneira ia renascer em algum local e o cara ia precisar comer, beber e usar os mesmo instrumentos que ele usava nesse mundo, quer dizer: essa relação mágica entre vida e renascimento ela provavelmente, ela é tão antiga quanto ao homem no planeta e se isso é certo ou se isso não é certo não cabe a gente discutir na disciplina história da Medicina, isso vocês verão em antropologia, eu pessoalmente não tenho nenhuma crença a esse respeito, eu pessoalmente acho que a minha vida é essa vida e quando eu morrer acabou, não tenho nenhuma crença em qualquer coisa depois dessa vida, não tenho nenhuma, absolutamente nenhuma relação com o sobrenatural e nem com o divino, então essa é a minha relação, mas a parte esmagadora da população acredita no renascimento. Quem acredita no renascimento aqui, o renascimento que significa você vai morrer…?
Os dois que chegaram agora, que não ouviram a exposição, eu sei que é fácil chegar as sete horas, mas a gente vai se esforçar para chegar as sete horas, está certo? Eu pedi isso na introdução que é para a gente ter uma continuidade.
Não é renascimento, é a vida após a morte, quem é que acredita, mas com sinceridade? Essa turma é interessante, menos da metade, é verdade isso, quem acredita que quando morreu acabou tudo? Quem está em cima do muro? Ué, e os outros, muita gente não levantou o braço.
- Bom a verdade é que uma parcela enorme da população acredita nessa possibilidade e a história está cheia disso, pessoas que… e até hoje nós enterramos os nossos mortos, pessoas que de alguma maneira existem cerimônias religiosas para proteger o morto, fazer com que as divindades das diferentes religiões acolham o morto no paraíso ou a ele o que seja o que for, porque a religião católica é uma dentre muitas do planeta, mas de uma maneira geral todas aceitam isso, qual a importância disso?
- Qual a importância disso na contextualização na história da Medicina? Aonde está o papel do curador nessa relação entre vida e morte? Onde se situa pela primeira vez dentro da história da Medicina, aonde se situa o curador entre a vida e a morte? Ele é o agente que evita a morte, claro, ele ajuda a currar, que durante toda essa relação do homem no planeta os curadores estão perto dos Deuses, são intermediários da divindade, eles são vistos como pessoas especiais no globo social, sempre toda história do homem quem curra, quem opera, quem ajuda a empurrar a morte ele é, ele tem o papel importante na sociedade, vocês entenderam isso pela primeira vez dentro da história da Medicina, dentro daquelas especializações, o curador sempre teve um papel especial, ele sempre foi associado a um poder mágico, religioso, místico, poder forte, sempre, sempre, em toda a história, antes do cristianismo e após o cristianismo nós temos curadores mágicos, quer dizer, curadores ligados a religião, qual é o Grande Curador do ocidente cristão, o maior de todos? Cristo. Cristo é o maior curador de toda a história do planeta, ele está no poder como o Grande Curador a quase 2000 anos, 1300 anos porque na realidade o cristianismo avança a partir do século IV, para quem não sabe direito. Então, o Cristo, a figura máxima da religião é do ocidente o maior curador até hoje, claro, hoje!
“Ha, eu fiquei bom, fiquei bom graças …” E a pessoa fala o nome da divindade, ou da divindade auxiliar porque tem o nome da divindade principal e as divindades auxiliares na estrutura do pensamento tem a principal divindade e seus auxiliares, então nós estamos entrando na história da Medicina, a Medicina como especialização social, ela está ligada a uma cura, a uma relação de rejeição à morte sem dúvida nenhuma, então aqui termina a nossa segunda unidade de exposição e vamos para o debate porque tem muita coisa para falar, alguém tinha pedido a palavra e eu já esqueci.
Alguém quer falar alguma coisa?
- É sobre esse fato, a morte, ela provavelmente é um fato mais de crença religiosa desde do começo dos primeiros homens.
A gente suponho, vamos trabalhar com suposições, agora no momento nós podemos fazer uma análise sociológica mais certa mas há 15 mil anos, a gente supunha que não era diferente, pode continuar, é que eu não quero que você comece o seu raciocínio com uma linha de afirmação de 10 mil anos, está legal?
- Eu queria saber qual a influência dessa provável religião teve sobre esse fato que é a morte e a Medicina da época?
De 10 mil anos? Eu não tenho como saber isso, isso é pré-histórico, você sabe a diferença entre pré-história e história, pré-história não tem registro escrito e a história tem, só se eu me transportasse e não tem como. A gente suponho pelos registros arqueológicos, a sua pergunta é interessante, muito interessante mas vai ser o assunto da 3ª parte, nesse momento nós estamos em discussão a relação do curador com o sagrado.
- Antes o senhor falou sobre pernas em pedaços, mobilizáveis, agora o senhor falou de terra, eu acho que se dá de dizer que as pessoas não sabiam daquilo, mas de muita gente morrer de perna quebrada para se chegar a saber e a conclusão do mobilizados.
Perfeito, sem dúvida nenhuma e isso nós chamamos de espaço de conhecimento historicamente acumulado, claro. Alguém observou que se ele se movimentasse morria mais rápido. Continua.
- Então essa experiência acumulada não tem nada a haver com a religião? Com o religioso ou será só experiência acumulada?
Mas é claro que tem, nós não afastamos a nossa relação de subjetividade com a objetividade do mundo, nós não conseguimos fazer isso, aquela antiga ideia da cara cientista ser imparcial não existe, não existe pesquisa imparcial, as nossas pesquisas estão misturadas com um conjunto de crenças pessoais.
- Você disse que enterraram alguém com ervas, com matos porque eles acreditavam em vida após essa vida?
Nós supomos, deixa eu repetir, nós supomos, não coloca palavra na minha boca porque é isso que a gente pensa.
- Mas hoje em dia a gente, eu acho que tem muita gente que coloca alguma coisa no caixão, mas não que pense que a pessoa vá usar.
Mas tem, eu entendi o que você quer dizer, mas tem respostas mais ou menos parecidas simbólicas, por exemplo: a missa do 7º dia, a missa de um mês, a missa de um ano pede para que a pessoa viva bem lá no outro mundo, então isso do ponto de vista simbólico, eles não tinham missa lá mas qual é o objetivo do alimento, nós temos que pensar de uma maneira mais ampla, não exatamente o alimento, temos que ampliar mais um pouco o pensamento na simbologia do ato, então eu acho que a simbologia é semelhante.
- Professor, hoje não se faz nem por religião, mas por exemplo quando enterraram um dos integrantes do “Mamonas Assassinas”, enterraram a guitarra com o corpo dele.
Jóia essa, essa sua foi ótima, enterraram o menino lá dos “Mamonas”, aquilo foi um acidente estupido, com a guitarra dele, muito, muito bem lembrada, ele vai tocar a guitarra? Não sei, mas é a simbologia, é a simbologia na massa, no coletivo.
- Existem religiões que até hoje enterram com essa simbologia, como a dos índios, o budismo.
Sim, sem dúvida nenhuma, muitas.
Aonde se encontra o curador nisso, é o agente que evita a morte, evita a morte, ele adia a morte, e isto eu quero que vocês me olhem e me ouçam com muita atenção o que eu vou dizer agora, o poder do médico é um poder exagerado na minha leitura nos países do 3ª mundo, mesmo nos países do 1º mundo, é um poder exagerado, ele tem poder sobre a vida e sobre a morte indiscutível, ele, somente agora a sociedade começa discutir de maneira mais ampla mas até pouco tempo atrás o médico era o senhor da vida e da morte. Por que que a sociedade aceita isso? Porque tem um conjunto das mentalidades ao longo de milhares de ano que dá esse poder à pessoa, não é o mesmo, por exemplo de um engenheiro, não é.
Tem umas histórias, eu tenho vida acadêmica, não vou dizer a quantidade porque se não vocês vão pensar que eu estou novo, mas eu já faço vida acadêmica há algum tempo e opero e de vez enquanto eu tenho um aluno que quer fazer especialidade, ele é doutor e tal e as vezes eu ligo para a casa dele. O “Zezinho “está aí? O Dr. José está sim, senhor, um momento. E ele é estudante do 3º ano, do 4º e com essa relação de poder de chamá-lo de doutor dentro de casa é muito forte, principalmente nos países do 3º mundo, quer dizer a mãe orgulhosa de o filho ser estudante de Medicina, ser odontólogo, de ser farmacêutico, fazer ciências farmacêuticas, se está gripada, a vizinha está gripada, ela diz: venha cá, o menino da um remédio para a D. Mariazinha.
Quer dizer, aquilo é um poder de curar, é uma relação muito forte, e tem mais uma coisa, tem alguns meninos que acreditam nisso, isso que é pior, ainda no 3º ano e no 4º acreditam nisso, é necessário e a disciplina vocês leram isso, é dentro da ementa da disciplina, relação da Medicina com a sociedade, cabe a disciplina chamar a atenção para este fato que isso tem que ser visto com muita moderação, mas está relacionado a um conjunto das mentalidades que associou durante um período que se perde, o curador com o bafo de vida.
- Mas o curador também não tinha o papel de que depois que a pessoa morresse a alma tivesse um bom caminho?
Nós vamos falar isso adiante, entre espaço profano e espaço sagrado. Nós estamos falando da relação médica.
- Isso que você está falando, até hoje tem uma placa dos formandos de Medicina que tem um médico que está segurando uma mulher que está caindo e tem uma caveira embaixo puxando ela.
Esse simbolismo dele, que ele está falando é hipocrático, apareceu na escola de Cosmo, que significa aquilo é a morte e o estudante, ou o médico está evitando que a morte se estabeleça. Agora, veja bem que essa relação de poder é uma relação social efetiva, clara, absolutamente clara, se vocês observarem na família de vocês, o que eu vou falar eu não tenho a intenção de fazer gracinha, eu sorrio porque é engraçado, o estudante que vai com amostra grátis para casa, pô você trousse amostra grátis! Para que é esse remédio?
Isso eu já vi, é claro que na hora eu fico absolutamente passivo, mas aquilo fica na minha consciência para uma crítica com os meus alunos, eu não identifico o santo de modo que eu posso falar tudo. E ele está rindo muito, isso já aconteceu com você?
- Já.
Eu fico feliz que você tenha essa sinceridade porque isso reforça, você fez um gesto de sorriso e eu posso dizer a vocês que eu tenho uma boa relação acadêmica, quer dizer, eu passo a vista no auditório, eu estou olhando para vocês e eu conheço de algum modo quem está dormindo e quem não está dormindo, eu tenho 25 anos que eu dou aula para alunos de Medicina e já é tempo suficiente para conhecê-los e você fez agora um gesto de identificação com o discurso, eu lhe agradeço, quem já viveu essa situação com a família. A de felicidade de ver o filho trazendo a amostra grátis para casa e dar para a vizinha, para airam, para a empregada.
Olha menino, ela está com dor de barriga, vem cá menino, vem cá a Maria está com dor de barriga.
- Lá em casa a gente vive muito isso porque a gente trabalha com farmácia, drogaria.
Não veja bem, nós falamos de ciências da saúde, não é Medicina, esse curso é história da Medicina porque tinha que se dá um nome, mas na realidade é história do curador e a relação da farmácia, com a droga, com o medicamento, com o instrumento de cura é talvez mais forte num determinado período que a própria medicina.
Mais alguma pergunta?
- Professor, é a respeito da liderança, em uma comunidade a gente vê que muitas vezes a liderança é feita pelo curador no caso indígena, o pajé. Oswaldo Cruz que até exerceu cargos políticos. Quer dizer eles tomam decisões políticas e não tem esse fato por exemplo de ser guerreiros, mas sim eles vão ficando até mais respeitados quanto mais velhos.
São papeis importantes, mas não de comando nas sociedades primitivas, o comando vem com a modificação da estrutura social, é verdade, um quarto dos prefeitos do nosso país são médicos ou donos de farmácia, ou são médicos, ou são farmacêuticos, ou são donos de farmácia, um quarto. Em Manaus tem seis Vereadores médicos porque é muito forte, agora não é mais importante que guerreiro não, nas sociedades primitivas, não é, nós mostraremos isso com a documentação.
Mesmo ele no exército, os serviços médicos, são serviços auxiliares, o médico nunca chega num posto de general ou comandante.
Mais alguma pergunta, para nós passarmos adiante.
- Professor, em relação de nós sermos chamados de doutor, na família as vezes a mãe é uma ignorante e não sabe que nível é preciso para se chamar de doutor e de outro lado eu até me orgulho de ser chamada de doutora.
Sim, eu não acho ignorância, sabe? a minha relação com essa parte do social é uma relação de muita compreensão, mas eu acho que é o orgulho porque na realidade para você ser um doutor você tem que ter residência, mestrado e doutorado, quer dizer, são mais sete anos de estudo além dos seis, ai vai ser doutor, normalmente você é médico como na França o médico é chamado de senhor, não é chamado de doutor, doutor se ele for professor-doutor, fora disso é senhor, monsieur, agora eu acho que isso é compreensivo, o economista é chamado de doutor, ele gosta de ser chamado de doutor, tem gente que é chamado de professor e não é professor, tem autoridades que adotaram o título de professor e nunca foram.
Então essa é uma questão social que isso não é grave e isso não é ignorância, é uma relação complexada do social, mais alguma pergunta?
- Eu acho que é uma relação cultural.
Sim, a palavra é mais adequada, é uma relação cultural, plenamente de acordo, os estudantes que formam em qualquer universidade do mundo são doutores se fizerem o doutorado, doutorado em economia, doutorado em engenharia, doutorado em Medicina.
- São tantas as dificuldades nos países do 3º mundo que muitos só fazem até a universidade.
Sem dúvida o meu departamento…, bom, mas é especial no Amazonas, por exemplo na UNICAMP 80% dos professores são doutores e quem não é, quem não quer fazer o doutorado ele sai, eles pressionam, pressionam e o cara sai. No meu departamento tem 40 professores, tem 4 doutores, tem um pós-doutor, fica difícil, mas de qualquer maneira é necessário que nós tenhamos essa crítica, porque os outros podem até chamar, mas a gente, nós temos a obrigação de saber que doutor está relacionado com doutorado, você pode até aceitar o título de doutor por uma questão cultural, mas você sabe que você não é doutor.
- Professor, há os cartões de crédito que já vem impresso doutor para o médico.
Eu nunca vi isso, não, mas tem escrito doutor. Bom, mas não deixa de ser cultural também, na realidade ele não é doutor, ele é médico, você está de acordo comigo? Leonardo, você não acredita que a pessoa que forma é doutor realmente, você não está defendendo isso?
- Não.
Não deve, você tem que ter a crítica pessoal e pode até aceitar por conveniência vindo documento escrito ou não vindo, não interessa, interessa o que é, então se você não aceita dentro de você é um meio de você fazer seu doutorado.
Mais alguma pergunta?
III PARTE
Bom, esse conjunto complexo da organização social do território, da sexualidade, eu vou dar uma pinça que alguém falou entre a parte sagrada e o osso quebrado, as sociedades se organizaram em duas vertentes que se interacionam de maneira absolutamente forte a tal ponto de nós não sabermos onde termina uma e começa a outra, são as relações entre o sagrado e o profano, isto é, o sagrado e o não sagrado, fica difícil nós sabermos onde termina um e aonde começa o outro.
Quais são as leis sagradas? São as leis principais da religião, na tradição judaico-cristã são 10, quais são as leis profanas? São as leis dos homens, se vocês tiverem a curiosidade de ler o Código Penal e comparar os 10 mandamentos, elas são extremamente parecidas, o que é proibida numa é proibida na outra, o que que nós estudamos em antropologia cultural? é provável que as leis dos homens tenham uma ação tão intrínseca forte com as leis sagradas, que não tinha outra maneira de organizar as sociedades, aquela sociedade de cresce, ela tem que ser organizada, quer dizer: eu estou aqui como professor, eu sou professor e estou professor, eu não faço política partidária e há vinte anos que eu luto contra a política partidária na Universidade do Amazonas, eu acho absolutamente inaceitável uma universidade discutir no seu amago política partidária, política sim, mas política universitária e não política partidária, já me aborreci muito, já briguei muito, já de alguma maneira tive graves aborrecimentos por causa disso, quer dizer, eu sou uma pedra no sapato dos professores que utilizam a universidade como instrumento político, eu não sou professor político, eu sou professor, sou, estou e assumo, não passo a mão na cabeça de aluno a minha função para vocês é passar 5 horas e transformar este curso em uma coisa útil para a profissão de vocês, qualquer dos três cursos que eu tenho no curso de Medicina, tanto na graduação, quanto no mestrado e no doutorado que eu também sou professor, então eu assumo o meu papel de professor, é importante, aluno meu, temos hora para entrar e temos hora para sair porque eu procuro também obedecer as regras.
Pois bem, essa confluência entre o sagrado e o profano é extremamente forte nas sociedades, nós não sabemos aonde termina uma e aonde começa a outra, não sabemos, definitivamente não sabemos, todos nós temos os nossos medos, todos nós, um pouco mais, um pouco menos. Quem está usando um amuleto, um aqui está visível, essa fitinha é um amuleto, a relação simbólica é de amuleto, quem carrega o seu santinho protetor, 1,2,3, 4, só quatro! Você tem um trevo de quatro folhas.
A minha velha avó morreu há pouco tempo, era um portuguesa, tenho dela uma lembrança muito doce e durante toda a vida dela, quando eu era menino ela me deu um anos dei, não sei se vocês se lembram, o anos dei são coisas sagradas do cristianismo que você cobre e usa como proteção, mas chamam aquilo de amuletos e eu carreguei aquilo dentro da minha carteira até a morte dela e tinha dito a mim mesmo que depois que ela morresse eu tiraria e ela sabia das minhas idéias e minhas idéias não são de agora, eu fui o único filho da minha família que não fiz a minha primeira comunhão, com aquela roupa branca, eu com onze anos me recusei e não fiz e ela me obrigava a carregar o amuleto porque ela acreditava que aquilo me protegia, a maior parte das pessoas desse planeta acreditam que podem afastar o mal e trazer o bem, essa relação de proteção o médico está inserido nela, a história da Medicina insere o curador nesse conjunto e vou dar um exemplo para vocês dessa relação sagrado e profano atual, imaginem vocês que um gerente de um banco, que tem um filho doente atropelado, vai à um hospital e o médico opera, a criança está à morte e se não houvesse ação médica a criança morreria, tem umas coisas que vive com o médico apesar de o médico ser o médico mas tem outras que não. Vamos imaginar uma insuficiência respiratória, uma traqueostomia, o doente sai e faz a relação médico, paciente e médico, família. Três meses depois o médico vai no banco pedir o empréstimo, qual é a tendência do gerente? É de ceder, claro! Isso é humano, isso nos faz humanos, é essa relação de doçura, que nos faz humanos, nós não somos máquinas. “Esse cara não tem saldo devedor, eu não vou dar a grana para ele”, nunca, isso não acontece nunca.
Quantos meninos se aproveitam das meninas para tomar nota da aula, o namorado fica em casa dormindo e a namoradinha por amor, Oh! Fica copiando, essa é a relação entre o real e o transcreva, sagrado, profano.
Então o médico se situa dentro deste contexto que é extremamente complexo entre o real e o transcreva.
Alguém quer acrescentar, essa é a terceira parte da exposição.
- É sobre os símbolos, não só as imagens dos santos, os terços, a figa, como a ferradura.
Sem dúvida, nós estamos na fase do cristal, quem tem um cristalzinho aqui, uma pirâmide? A simbologia, a essência é a mesma e veja isso não é coisa de país de terceiro mundo, não, veja eu acabei de passar 70 dias em Paris dando aula, eu retornei agora, terça-feira e uma das conversas nós tivemos uma reunião sobre isso, eu estava com um auditório de pouco mais de 70 pessoas e fiz a mesma pergunta, quem tem um amuleto? E o que dominou foi o cristal e a pirâmide, quer dizer, a Europa está passando um período de cristal e de pirâmide, mas já teve a figa, já teve o rabo do coelho.
- Esses amuletos, esses rabos de coelho, de raposa, eles estão entre este espaço sagrado e profano?
A sim, é uma mistura, por que que é uma mistura? E nós vamos ver isso durante o curso porque quando a pessoa se convence que ela está protegida a defesa humanitária dela sobe e ela gripa menos, ela vive melhor, hoje a tendência da Medicina é valorizar, o médico inteligente que tem uma noção geral de ciência ele valoriza no doente a fé do doente. Foi publicado na revista Science do mês de setembro do ano passado o estudo duplo, sério, feito na Universidade de Washington entre doentes safenectomizados, com ponte de safena, um grupo rezava e o outro grupo não rezava, o grupo que rezava sai mais rápido do hospital, se recuperou mais e tomou menos remédio, isso é mágica? É claro que não é mágica, é uma relação com a intimidade dele fazendo a imunidade dele, quais são esses mecanismos? Nós não sabemos mas para mim não é mágica, não é obra do Espirito Santo, é uma obra da relação dele com a própria imunidade, qual é a grande prova que eu tenho disso? Qual é a grande prova? Quando você entra num baile, numa festa, vai lá no bote Tropical numa sexta-feira. Você é casado? Não, eu não uso e sou, de modo que esse negócio de me mostrar a mão, eu nunca usei nenhum símbolo e sou casado.
Bom, você entra no bote do Tropical na sexta à noite e está de paquera com uma menina e quando você entra ela está de agarro com um amigo seu, os dois estão com o coração, tam…m! Dá uma contração na barriga, uma vontade de fazer xixi, uma dor de cabeça forte, no dia seguinte aparece o herpes, altera o ciclo menstrual, altera o sono, você não consegue dormir, a imunidade faz isso…, você pega aquelas griponas assim de 15 dias, de 20 dias, agora se você está com a namoradinha e você está legal com ela não tem gripe, não tem mal humor, você está de bem com o mundo, essa relação é a que as religiões utilizam para a catequese, para aproximar, para trazer, mas é uma relação física, nós vamos ver isso quando dermos cabeça e pescoço, cirurgias de cabeça e pescoço e … pulmão. Falar nisso há 50 anos atrás era uma loucura, os caras iam dizer: esse cara está louco, porque o que era valorizado era só a cirurgia, hoje o médico que tem uma noção de ciência ele valoriza a fé e o respeito com o transcendente cada doente.
“Doutor, eu tenho um santinho, poço colocar na minha mesa? ”
Claro, traga o seu santinho e coloque na mesa. Então, só para terminar, é uma relação com o sagrado e o profano.
- O senhor fez uma pergunta?
Não pode continuar.
- Qual o grande exemplo utilizado para salvar as pessoas que é muito utilizado atualmente pelos religiosos?
Estou gostando dessa turma.
Vocês já viram a televisão, tem uma televisão que a partir da meia noite tem curas coletivas.
- É a Assembléia de Deus?
- É a Universal? É uma histeria coletiva.
É um negócio impressionante. Não! Não simplifique dessa forma, é muito forte o que você está falando, não assuma esse papel na Universidade, ele é um papel…, não! Veja, a minha função aqui com vocês, eu tenho 25 anos de vida acadêmica, o meu papel com vocês é tentar mostrar para vocês de evitar os raciocínios preconceituosos, os raciocínios.
Ele falou que é estria coletiva, não, pode ser vista desta maneira, ninguém pode rotular a fé das pessoas, eu estou tentando ser professor com você, me ouça, com atenção, esse é meu papel na sala de aula. Nós devemos raciocinar num conjunto maior, entender aquilo como um mecanismo social, não rotular de maneira forte, não! veja: Eu vou falar da minha pessoa, eu procuro evitar isso mas isso é uma coisa muito pessoal e nós chegamos num ponto importante no nosso curso e isso sempre acontece, todos os semestres, é necessário intervir para manter a discussão a nível acadêmico, isto é, a nível de 3º grau, eu sou professor, doutor há mais de 15 anos, no momento sou pós-doutor, na época eu estava esquiando na França e fui fazer uma coisa que não estou acostumado a fazer e tive uma queda e fiquei imobilizado com uma lesão de coluna torácica e fui aéreo transportado, foi uma confusão desgraçada e eu fiquei com uma lesão da hipófise transversa da oitava, então eu não podia fazer determinados movimentos porque o calo ósseo tocava na raiz nervosa e eu não podia, é uma dor insuportável, a minha relação com a cirurgia é uma questão de vida, ela faz parte do meu cotidiano, quer dizer, eu não conseguia operar, eu não conseguia ficar de pé na sala de cirurgia, os residentes que trabalhavam comigo esses anos, eles viam, ficavam comigo, do meu lado e diziam: senta um pouquinho, João.
Aquilo para mim era um desespero, eu consultei tanto na França, no Rio, em São Paulo, os principais especialistas e não tinha tratamento porque era uma consolidação óssea e eu ouvi falar de alguém que curava e eu fui, não curou e eu quero dizer a você que eu não estava histérico, eu não curei. A cura realmente foi a fisioterapia, foram 3 anos de lento trabalho de fisioterapia para perder peso, fortalecer a musculatura pareô vertebral, eu fui, peguei o avião e fui para o interior de São Paulo, marquei por telefone.
O cara fez lá uns troços, agora, eu fui sem fé, mas eu fui e vou te dizer alguma coisa, existe alguns casos descritos na literatura internacional acreditada e vou te dizer alguma coisa, de curas absolutamente sem explicação, absolutamente sem explicação! E não foram publicadas em Manacapuru, não, a Universidade de Washington, a Universidade de Oxford pelo ao menos uma dúzia de caos publicados que não tem absolutamente nada, eu não acho que seja obra do Espírito Santo, continuo dizendo a você, eu acho que é uma modificação no sistema imunológico por uma crença maior, você muda a sua defesa, se cura, numa crença muito grande, não é obra do Espírito Santo, mas como isso se produz? Nós não sabemos e por que recusar isso? Por que simplesmente dizem assim, tem malandro? Tem e muitos. Tem pessoas safadas? Tem, mas eu não falo deles. Eu falo das pessoas que acreditam e que procuram uma melhora dentro da história da Medicina, isso é história da Medicina.
Eu vou descrever para vocês dois casos publicados nos últimos três anos, uma doença de (…? Holefil …?) Que foi diagnosticada no Mazda Hospital em Londres, ela era da ilha de Bali, uma moça de 18 anos com doença de (…? Holefil…?) fez radioterapia, fez quimioterapia e estava fazendo medicação para dor, os pais chegaram e disseram: “olha a nossa filha vai morrer mesmo e nós vamos voltar para a ilha de Bali”, que é uma ilha do Pacífico, muito famosa essa ilha e chegaram na ilha de Bali e isso foi publicado e digo a você que foi publicado no Brith Journal of Medicine, o conceituadíssimo jornal de 300 anos, ele não publicariam se não tivessem a investigação do fato, foi para a ilha de Bali e ficou por conta de um dos curadores populares da ilha e voltou para Londres e está lá, ah! O tumor tinha desaparecido completamente desde a publicação da revista, eu não sei o que aconteceu depois.
São raros? São raros, e raríssimos, eu pessoalmente nunca vi ninguém curar uma cárie, eu gostaria de ver alguém, eu nunca vi, mas eu acredito na publicação científica, isto é, história da Medicina.
Aqueles caras que ganham dinheiro com isso, são safados? São safados, mas eu não falo deles, eu falo de quem procura ajuda para curar coisas que a Medicina, aonde eles habitam são incompetentes porque para curar braço quebrado ninguém procura igreja porque sabe que colocar o braço no logar. E o gesso durante 30 dias está curado, só se procura essas curas milagrosas numa área de sombra da Medicina, numa área de incompetência e angústia. Quais são elas? São as doenças psiquiátricas, principalmente as doenças crônicas degenerativas, artrites, artroses, doenças do colágeno, neoplasias malignas, neoplasias benignas, eu espero ter contribuído para consolidar uma abertura e uma discussão acadêmica.
- Já teve um professor nosso que falou de acupuntura.
Sim, mas nós não sabemos como ela funciona, mas ela é absolutamente física, eu fiz durante o período da dor que era uma dor, realmente muito garante, tomei analgésico durante um período e depois vi que a acupuntura resolvia a dor e fiz acupuntura durante seis meses por causa da dor torácica.
Mais alguma pergunte?
- Professor, é importante a gente lembrar sobre este espaço sagrado que se está falando que o homem tem como se livrar disso, ele tem que acreditar em alguma coisa, então o transcendente…
Espera, aí, você por duas vezes está fazendo afirmações e novamente é minha função como professor, você está partindo de um pressuposto, eu vou repetir a sua frase: “O Homem tem que acreditar em alguma coisa, não é possível…”, foi a frase que você disse, veja eu sou humano e não tenho crença no sagrado e não é por isso que eu deixo de ser isso ou aquilo.
- Atenção! É necessário que vocês aprendam a discutir de modo acadêmico, eu suponho, nesse momento eu acredito, essas afirmações brutais, elas doem tanto no meu ouvido, elas doem, porque nós estamos essas no 3º ciclo, nós estamos na universidade, nós supomos que nós podemos discutir sem sofrer perseguição, sem sofrer calúnias, patrulhamento biológico, a gente suponho.
- Eu não estou me referindo a crença, apenas o transcendente, vamos dizer assim.
Mas de qualquer maneira, eu não posso adivinhar o seu pensamento, eu tenho que entender o que você está falando.
- Então no caso essa crença em alguma coisa quer seja ela transcendente ou não, é uma coisa que faz parte de todo homem, todo homem que eu conheço crer em alguma coisa, pode ser transcendente ou não, então nós temos que lembrar a importância da crença em alguma coisa para que se possa alcançar os seus limites maiores, superar limites, o homem para superar um limite, ele tem que ter esperança no mínimo esperança, é isso que eu estou frisando para o senhor, você não pode privar o homem de uma crença seja ela qual for.
Você quer repetir a sua última frase, “nós não podemos privar o homem das suas crenças”, essa é a quarta parte da nossa exposição.
IV PARTE
Ao longo desses anos que eu tenho dado aula de história da Medicina, claro, não é que eu dirija o auditório mas há toda uma reação que eu conheço dos meus alunos e nós chegamos exatamente isso, o que nós chamamos de memória sócio genética que é a quarta parte da exposição, muito bem colocado, eu acho que você não precisa falar mais nada, foi ótimo, você realmente falou coisas muito, muito importantes.
Mais alguma coisa para finalizar essa última parte?
Fala alto por gentileza.
- Desde que se entende, o homem tem a necessidade de crer em alguma coisa e é mais fácil o homem crer numa coisa transcendental que em uma coisa mais física, por exemplo no caso da morte, é mais fácil acreditar numa vida após a morte que acreditar em nada após a morte, quer dizer é uma necessidade do homem, da religião colocar coisas que eles não sabem, coisas que são dúvidas, que antigamente você acreditava uma coisa mas quando a ciência descobriu como era a religião pulou desta parte que estava totalmente numa linha para outra e vai ser sempre assim, a religião nunca vai deixar de existir.
E nem eu disse que ela vai deixar de existir.
- É justamente isso, é o acumulo de todas essas crenças
- É uma forma de se conseguir…, é bem mais fácil manipular.
Vocês estão ouvindo? Eu não sei se é mais fácil, mas de qualquer maneira é isso que acontece ou parecido.
- A vida toda trabalhar, trabalhar, depois eu morro e não vou ter nada para receber, então eu me sacrifício a vida toda e após a morte eu não vou ter nada. Você já pensou o clima da religião? Então é para se apegar a alguma coisa após a morte, é a esperança.
Alguém mais quer acrescentar?
- Se diz respeito a fenômenos sobrenaturais, porque eles existem.
Sem dúvida, estou plenamente de acordo com você, eles existem e é uma tolice você duvidar deles porque eles existem e são fisicamente detectáveis, mas eu não falo disso porque não é o momento, e virão, eu tenho vídeo feito na Universidade (…?…) nos Estados Unidos e virão no momento certo mas você sem dúvida nenhuma os fenômenos paranormais existem em tempo, espaço diferente, sem dúvida você tem razão, agora como os outros dois disseram isto está incluído numa margem de conhecimento que é um elo de uma aculturação muito pequena, então como nós não conhecemos a origem, acaba-se se atribuindo uma natureza adversa pela questão das curas e o fato de não se utilizar 30%, 70% de isso ou aquilo, acabou porque com as tomografias, com as ressonâncias magnéticas você tem o estudo de diferentes áreas cerebrais, por exemplo você pede para o paciente deitar, o próprio cara que gosta de comer muito, o prazer dele é oral, então o examinador, o pesquisador diz assim: olha, pensa numa coisa que você mais gosta, ele só pensa em bife suculento, acebolado, um copo de Coca-Cola geladinho, então é uma determinada área do sistema nervoso que é ativada, e uma menina vai fazer o exame e pensa num rapaz com a barriga bem lisinha, como é o nome?
- Abdome dividido.
O abdome dividido é outra área cerebral que é ativada, eu estou brincando sobre esse assunto de barriga dividida porque nos temos uma aula que se chama moda, modelo, valores, quer dizer o modelo de beleza hoje não é o mesmo do séc. XV, então uma das meninas pode me dizer, professor, meu modelo de beleza é um homem de 1,90m, musculoso, cabeludo, com a barriga dividida, bem reto o abdome, deixa eu seguir porque o tempo. Para encerrar você pode falar.
- A relação desses povos pobres, eles se localizam mais, tem um pensamento mais no espaço sagrado?
Olha, eu tenho um amigo pessoal, ele é doutor em física molecular por Hayward, ele é budista, anda de bata, é um chato de galocha, é meu amigo pessoal de muitos anos e nós nos encontramos de vez em quando para tomar um uísque e eu digo para ele, olha hoje você não me vem com esse papo de budismo que hoje eu não quero saber de budismo, é um físico molecular, um cara extremamente holístico, eu não acho que isso esteja com relação com pobreza ou com riqueza, é isso que eu vou discutir, é isso que eu chamo de memória sócio-genética, eu não faço essa diferença, você me fez a pergunta e eu estou lhe respondendo, eu não acredito, seria a minha resposta.
Um dos anseios do professor deve ser, eu acredito que deve ser, é falar sobre a sua própria produção e não repetir a produção dos outros, vocês entendem o que eu quero dizer, quer dizer, a essência de um professor é falar sobre os seus livros, da sua produção, dos seus doentes operados, das suas estatísticas porque vir aqui para abrir um livro para dar aula não precisa de um professor, você compra um livro e quem tem mais de três neurônios lê o capítulo do livro e não precisa de professor, não, eu falo sério, não precisa mais de três neurônios, por exemplo para ler um livro de obstetrícia, não precisa ter mais de três neurônios, por exemplo para estudar a forma, a anatomia, quer dizer, não precisa. Porque a forma é mais ou menos ali, essas questões claro, eu falei para vocês nesses primeiros 15 minutos, acho que mais de 15 minutos, são questões que me incomodam, eu tenho uma relação com o mundo da ciência, eu tenho uma relação forte com o mundo da ciência, não é só com o mundo da ciência, é também com o mundo da ciência, não quero lhe vocês façam idéias distorcidas, uma parte da minha vida eu estou acordado e uma parte é dedicado ao mundo da ciência e a outra parte é dedicado a muitas outras coisas, isso me incomoda é claro, eu não tenho essa técnica.
Você quer que eu fale mais baixo? Você deu uma bocejada agora que eu vi a sua úvula, e terceiro molar, posso continuar com o mesmo tom? Ok, vocês estão tão desacostumados com a vida acadêmica, essa Universidade está tão desestruturada nessa relação acadêmica que vocês fazem as coisas como se fossem as coisas mais naturais do mundo, ah…….! E o professor? e dizem eu estou ouvindo professor, quer dizer, são relações muito fortes acadêmicas que eu não abro mão delas, isso me incomoda, eu não acredito que eu vou morrer e vai me ter alguma coisa que vai me complementar, eu não consigo acreditar nisso, me incomoda, é claro, eu não tenho a paz de deitar, eu sou um homem angustiado, desesperado, eu acordo três horas da manhã e vou para o computador, e vou escrever, coisa desse tipo, minha relação com a produção é uma relação muito angustiante, eu necessito, eu preciso escrever, eu preciso buscar explicações, pois bem eu escrevi a quatro anos atrás o livro que chama “Arqueologia do Prazer”, esse livro está sendo publicado em francês, na realidade os três estão sendo publicados em que eu discuto uma categoria social, sociológica nova que eu chamo de memória sócio-genética, eu acredito neste momento que a nossa relação como o sagrado e com o profano é tão genética quanto a cor de nossos cabelos, como isso se daria, é por isso que eu chamo de sócio genética, é a relação entre o social e a genética, nós acreditamos no transcendente, é por isso que eu não aceito estereotipar, comedido, não aceito estereotipar de maneira rude um comportamento que não é aceito entre aspas pela academia, pela universidade, eu acho que as pessoas agem da maneira que agem, não é porque seja pessoal aquilo faz parte de um coletivo, os mecanismos simbólicos eles são coletiva dos de tal modo que nós fazemos e repetimos e não sabemos exatamente porquê.
Então a memória sócio-genética estaria embutida num conjunto muito largo e muito complexo que eu discuti e o livro trouxe a discussão a relação do prazer, do ponto de vista genético não só o homem mas todos os animais do planeta eles acolhem o prazer e fogem da dor, toda a nossa organização pessoal e coletiva é em torno disso, acolher o prazer e recusar a dor, toda a nossa estrutura de pele de mucosa rejeita dor e acolhe o prazer, qualquer animal, se você tem um gatinho em casa, você coça a cabeça do gato e no dia seguinte ele está na sua perna, agora, dá um chute no gato para ver se ele volta na sua perna no dia seguinte, nunca, por isto que as relações de bondade e de bem querência fazem bem ao homem, por isso que as religiões pregam a bondade e a bem querência porque isso dá prazer no interior, você se sente bem, as pessoas que são articuladas com conflitos, com coisas de pensamentos ruins em referente as pessoas, agressivas, elas não tem esse referido de bem querência, o que a religião faz? Ela transforma de um lado e de outro, claro, isso é aproveitado do ponto de vista político sem dúvida nenhuma, mas nós somos geneticamente preparados para acolher o prazer, para recusar, e quando eu falo em prazer, eu já te vi, te vi a primeira vez que você levantou o braço, já vou te dar a palavra. Como é que nós vamos discutir isso, quando eu falo em prazer não é exclusivamente o prazer do corpo, prazer sexual e o prazer oral, do alimento, eu falo exclusivamente das duas maiores fontes de prazer, o oral e o sexual. Você quer sair?
- Não, professor, é uma barata.
Mata a barata. Bom, eu falo do prazer maior, agora eu vou pinçar algo que você disse, nós não podemos limitar as crenças do homem, qual é o prazer? é o prazer de você poder exercer aquilo que você acredita, que não precisa ser a vida toda, são crenças temporárias, teve um imbecil, eu raramente sou agressivo dessa maneira mas realmente é um imbecil, na realidade eu gostaria de dizer outra coisa, um imbecil da Albânia, que era o líder do PC do B do Amazonas um ditador comunista da Albânia que um dia esse imbecil escreveu um decreto que dizia, a partir desse dia o Estado Albanês é ateu, não tem religião, fecha sinagoga, fecha templo cristão, fecha. Transformou em galinheiro, em viveiro de pato, de rãs, ele conseguiu abolir a crença da população? é claro que não, as pessoas continuavam fazendo os seus cultos escondidos, os judeus continuavam rezando, os cristãos continuavam rezando, matou padre, mandou para campo de extermínio, o prazer da resistência, quer dizer quando o poder bate na memória sócio-genética do suportável você reage e procura vencer, aquela frase que você disse que é a pinça dessa última parte diz que nós não podemos deter o homem nas suas paixões e crenças e a memória sócio-genética está embutido nisso veja e o terceiro mundo festejou, e eles agora até estão rezando missa, agora, porque é a questão da adaptação do Poder, alguém falou em adaptação, agora é necessário que a gente critique? É claro, como alguém politicamente de você exercer as suas crenças, de andar, de sair, eu quero sair do país, eu quero ver o meu primo do outro lado, não pode porque o Estado lhe proibi, quando eu falo em prazer é isto, é o prazer do ir e vir, é o prazer da liberdade de expressão, é o prazer de ter a comida, a casa, não basta só comida, roupa lavada e alimento, o homem não quer só isso e eu introduzo o meu livro em uma música dos “Titãs”, vocês conhecem? “nós não queremos só….nós queremos fazer amor, nós queremos livro, nós queremos cultura,” o livro é introduzido pelas músicas dos Titãs, é uma das músicas mais inteligentes que eu conheço, eu fui conhecê-los em São Paulo, é porque eu me esqueci de trazer os livros mas na próxima aula nós vamos discutir isso, “nós queremos mais” quando eu falo em prazer é esse prazer de você poder ir e vir, é esse prazer de você ter um alimento na sua casa, de você ter um território, claro, a nossa casa é a memória sócio-genética dos territórios dos nossos ancestrais, a significação simbólica é a mesma, a significação simbólica da proteção do frio, do calor, da chuva, da fome, da dor, então essa é a memória sócio genética, então eu acredito que essa relação espaço sagrado, espaço profano está dentro de uma contextualização ampla, genética, isso é uma teoria, eu não posso demonstrar, não me peçam demonstrações porque não dá para demonstrar mas eu espero viver, como o meu projeto de vida são 125 anos eu espero, ah, sim se eu puder viver mais eu viverei cada dia mais, intensamente.
Você primeiro.
- Com relação ao que o senhor fala, que faz afirmação um pouco forte, mas eu acho que existe isso também, o senhor falou como se isso fosse em toda a humanidade, girasse em torno disso.
A memória sócio-genética.
- Sim, é.
Eu não tenho menor dúvida, é uma teoria, eu expus para você, não é eu acho, eu escrevi um livro de 300 folhas e estou mentalizando um raciocínio teórico, eu acredito nisso.
- Eu não discordo totalmente até por opinião minha, vamos dizer, agora eu falo isso porque eu já andei estudando um pouco sobre regiões, li assim mesmo sem compromisso e algumas crenças mais paradoxais que possam parecer, eu disse parecer apenas, elas fazem que o homem se submetam por vontade própria, o senhor falou prazer, prazer biológico, até psicologicamente.
Agora, veja bem, as religiões sobrevivem porque elas ensinam coisas agradáveis, por que que aquele pseudo comunismo, aquela ditadura na Itália, aquela ditadura de esquerda do leste da Europa, e só tem aquele barbudinho em Cuba que está insistindo em ser um chato, mas aquelas ditaduras como a do exército comunista do leste da Europa, por que que elas ruíram como um castelo de cartas? porque elas não tinham nada, não tinham nada dentro de um conjunto maior de valores, elas tinham casa, comida, roupa lavada e trabalho, a gente não quer só isso, olha eu estive em Techslováquia em 1970, eu fui conhecer o Centro Lenin, lá tudo era Max ou era Lenin e lá tinham alguns intelectuais que andavam de sandália, ligas de capitão no braço e o que eu observei era um hotel coletivo fiscalizavam a mulher que você estava, o homem que você estava, eles dividiram o Estado em quarteirão, cada quarteirão tinha 3, 4, 5 informantes e aquilo era uma cascata de Poder como é em Cuba, se o vizinho faz alguma coisa imediatamente o comitê é acionado, quer dizer, é uma paranoia, é uma coisa absolutamente indescritível, pois bem, que quer dizer, inclusive eu escrevi sobre isso no meu romance “Sedução”. É um grande Estádio com um monte de cama e o cara chegava com a namorada, na porta recebia um lenço, dois lençóis, colocava ali, fazia amor levantava, agora, 50 camas uma do lado da outra, agora as pessoas ficam até ressentidas se a privacidade, os povos mais primitivos do planeta querem privacidade, tem sentido nisso? Os povos mais primitivos do planeta fazem sexo debaixo de cobertas, há privacidade do corpo, ninguém quer perder a liberdade, nem a privacidade, por que que caiu o castelo de cartas em seis vezes, não é só por isso, é por outras coisas, eu estou pegando a sua frase, ninguém pode dominar essa vontade do homem, são vontades genética, sabe eu quero fazer umbanda ele tem que ser respeitado, claro, a minha liberdade termina onde a sua começa, a gente tem que ter liberdade, eu quero falar mal do comunismo, falo porque eu não acredito mas não é de agora que eu falo isso, eu falo isso há 20 anos quando era moda ser comunista na Universidade do Amazonas.
Entendeu, então essa é a sua pinça que você deu para essa parte, foi perfeita, nós não podemos impedir o homem de tocar nas fronteiras, de avançar.
Eu tenho que dá a palavra para outras pessoas.
- O que Cuba tem de melhor, levando em conta que é pequena?
Não tem nada. Agora veja bem, com uma mesada de 5 bilhões de dólares por mês, Cuba fez o que fez porque tinha uma mesada da União Soviética de 5 bilhões de dólares por mês, tinha uma ditadura, quer dizer você tem que fazer, agora isso não resiste porque nós não queremos isso.
- Vamos para o nosso caso, do povo do Amazonas, o povo não tem saúde, não tem educação mas tem um bom estádio, mas é isso que o povo quer?
Não, eu não estou falando da desonestidade dos políticos, nós podemos ter uma organização social.
- Não, eu não estou falando disso, eu estou falando que o povo necessita de prazer, quer ver voc6e diz para eles, eu vou te dar o melhor hospital e o melhor colégio, mas eu vou tirar o direito de você sair e nem de ir ali, o povo não quer.
É a música dos Titãs, nós não queremos só isso, isso é importante, educação é importante, comida é importante, trabalho digno é importante, tem muitas coisas importantes. Mas nós temos que ter o estádio, o cinema, o teatro, nós temos que ter a liberdade para amar ou desamar quem nós queiramos, é isso a essência da memória sócio genética.
- O senhor falou de prazer e privacidade, nós sabemos que no sexo é mais ou menos assim se o cara gosta de fazer sexo, ou vê uma calça jeans bem azulzinho ai pão! Mas se não?
É aí é meio complicado isso, você pode até fazer num aperto, rapidinho por uma questão excepcional, mas normalmente não. Os livros e as pesquisas apontam que você pode até fazer uma rapidinha assim, em um local inapropriado por uma questão circunstancial, agora, normalmente não. Deixa eu passar adiante.
- A crença pode ser mutável?
Os valores simbólicos da memória sócio genética são substituídos, sim, mas a essência simbólica é a mesma.
- O senhor estava falando antes sobre Cuba, mas nos países subdesenvolvidos nem isso tem, nem educação tem, como é que uma pessoa pode amar, sem dinheiro e sem saúde.
Está certo, eu adiantei o problema, eu continuo dizendo que aquele barbadinho tem que fazer é eleição entendeu, com educação, sem educação, ele tem que entender que ele não é o senhor da vida e da morte, tem que fazer eleição.
- O senhor estava falando sobre crença e a gente observa que com a chegada dos portugueses, holandês e outros que eles usaram os índios, que eles impuseram o deus de cada um e até hoje a gente vê o reflexo disso, nas aldeias e no interior, pelo povo dito civilizado.
Nós vamos ver isso e discutir, o papel do pajé, a destruição do pajé pelos missionários católicos, não é o civilizado, é o ganhador, quem ganha manda essa é a história do mundo, não existe substituto para a vitória ou você ganha ou perde, mas bem lembrado, você me cobre isso quando nós estivermos na quinta unidade, Amazônia, não vai precisar me cobrar não que eu vou falar.