MARIA EUGÊNIA SEFFAIR LINS DE ALBUQUERQUE CATUNDA
O ano é 2015. Estava ansiosa para viajar para escolher o meu vestido de casamento.
Afinal, após 2 anos de relacionamento, eu e Carlos estávamos ansiosos pela nossa
nova etapa.
Carlos era empresário, querido pela minha família. Morava sozinho pois os pais
continuaram no sul do país. Essa falta era preenchida pelos muitos amigos que tinha
feito. Sempre erámos convidados para festas populares.
No dia de minha viagem, entre tantas coisas que estava organizando, recebo a
ligação de Carlos. O laboratório confirmara que o exame de HIV havia sido positivo.
Fizemos esse exames há cerca de um mês, junto com outro solicitados para rotina
pré-nupcial. No primeiro exame, fomos chamados para repetir o exame de Carlos. Na
sala em que fomos recebidos estava uma psicóloga para nos dar a notícia. Eu não
estava preocupada. Poderia ter sido um erro, falta de reagente… um engano.
Quando o exame confirmou, naquele dia, perdi meu chão. Eu, profissional da saúde,
me vi tentando enganar todo conhecimento que tinha. Aquilo não estava
acontecendo. Seria pela tatuagem? Novamente erro do laboratório? Embarquei aos
prantos para São Paulo com minha melhor amiga que não sabia ao certo como me
confortar.
Passei aquela noite com pensamentos confusos. A melhor fase da minha vida
acabava de ser tornar um grande pesadelo. Tantas perguntas me perseguiam a
respeito de Carlos que não conseguia analisar como o meu exame teria dado negativo.
Consegui sobreviver aquela noite. Amanheceu o dia, tomei meu café, fiz meu
sanduiche, quando minha amiga, Sabrina apareceu ainda de pijama.
– Sabrina, estou pronta!
– Para onde vamos? Sabrina logo perguntou.
– Comprar meu vestido de noiva!
Vi na hora o espanto no rosto de Sabrina. Estava eu tentando esquecer tudo que
tinha passado? Comecei a ter pensamentos de que Deus poderia ter me dado essa
missão. Teria que cuidar, acompanhar e ficar com alguém que iria precisar muito de
mim.
Voltei de viagem querendo encontrar Carlos. Vamos iniciar “nossas“ consultas e
providenciar os medicamentos para iniciar o tratamento o mais rápido possível.
Na primeira consulta, me senti esperançosa. O sonho de casar ainda estava vivo em
mim. Os exames não estavam bons e por isso, decidimos adiar o casamento por mais
um ano.
Aos poucos comuniquei minha família, diferente de Carlos que não quis envolver
seus pais. Os dias se passaram e fui sentindo a cobrança de meus pais para ter alguma
atitude. Como iria continuar esse relacionamento? E o sonho de ter filhos? E a questão
religiosa veio novamente em pauta sob nova perspectiva. Fui abençoada por não ter
adquirido e Deus me dava nova chance para recomeçar.
Fiquei com Carlos, que dizia que eu não poderia abandoná-lo. Pediu para que me
afastasse da minha família e que poderíamos continuar nossos planos. E assim eu fiz.
Segui acompanhando o nas consultas, falamos para nossos amigos que iriamos ficar
mais em casa, deixamos de ir as festas que tanto gostávamos de ir. Avisei para minha
sogra que o casamento estava adiado por motivos financeiros. Carlos me dizia que sua
mãe jamais entenderia.
Alguns meses se passaram e percebi que Carlos não se aceitava. Aquele diagnóstico
nunca foi aceito por ele. Se sentia injustiçado pela vida, as pessoas se tornaram seus
inimigos, se desmotivou no trabalho e alternava entre início e abandono do
tratamento. Passou a dizer que precisávamos nos unir cada vez mais.
Liguei para minha mãe e avisei que precisava voltar para minha vida. Passados
meses tentando ajudar meu noivo, sentia que estava lutando sozinha. O amor de
minha família foi fundamental para que eu pudesse entender que tudo fazia sido feito.
Embora tivesse perdido contato, acompanhava a vida de Carlos. As festas voltaram
a ser frequentes, sempre regadas a muita bebida. Namoros que começavam e
terminavam rapidamente. Nesse tempo casei e tive minha filha.
Após dois anos recebo a ligação da irmã de Carlos que estava em Florianópolis.
Carlos havia falecido, sozinho em um hospital particular da cidade. Os familiares não
entenderam a causa da morte.
Vi a mãe de Carlos desolada. Soube após a morte o diagnóstico do filho. A aquela
altura… aquela doce senhora, mãe, não poderia mais ajudá-lo.