SUZY MOREIRA DO N. SOUZA
Doce e amável Manaus, terra da acolhida, dos peixes, do famoso e único encontro das águas no centro da Amazônia. Quem por lá passa, jamais esquecerá do tucumã, castanhas, tacacá, tambaqui e o famoso peixe jaraqui. “Quem prova do jaraqui, não sai daqui”, como diz o ditado popular.
A terra da acolhida também é a cidade que impera a desigualdade social, vistas pelas ruelas, hospitais, margens dos rios e organizações não governamentais – ONG. A história da dona Cida reflete o cotidiano de muitas manauaras, uma mulher de origem pobre, 43 anos e 6 filhos do seu casamento com Joaquim. Oriunda de uma família desestruturada, casou-se aos 15 anos. Seu marido, 10 anos mais velho, foi o responsável por sua vida amarga, marcada por vários tipos de violência (física, psicológica e sexual). Cidinha, como era chamada por seus familiares, aprendeu com seus pais que mulher só casa uma vez e sua principal função é servir seu marido, assim como sua mãe viveu durante décadas.
Com a ajuda do filho mais velho, Cidinha resolveu fugir do para o município de Autazes, onde recebeu apoio de uma grande amiga de infância, Maria. No auge de sua liberdade, ela conhece Antônio, um homem sozinho e com fama de trabalhador.
Em três semanas, já estavam compartilhando a mesma cama, comida e problemas. Ela estava encantada com as palavras, gestos de carinho e cuidado de Antônio. E assim nascia um novo capítulo na vida de Cidinha.
Desde o início do relacionamento, Antônio se queixava da sua perda de peso e excesso de diarreia, sempre justificando que trabalhava demais e fazia suas refeições de qualquer forma. Um belo dia ao amanhecer, diante daquele quadro de sintomas há meses, Antônio pediu que Cidinha o acompanhasse até o posto médico do município. Chegando lá, foi informado que o médico já teria partido para Manaus, depois de encerrar seus atendimentos. Uma enfermeira muito antiga e respeitada ouvindo as queixas daquele homem totalmente debilitado orientou que ele fosse para Manaus o mais rápido possível em busca de atendimento no Hospital Tropical.
Já internado no Hospital em Manaus, foi informado sua sorologia positiva para HIV. Inconformado com o diagnóstico, Antônio associava a doença ao castigo divino, pois no passado teve algumas experiências homossexuais. Cida não compreendia nada da doença, só falava repetidamente:
– Não posso perder você! Você é tudo para mim.
Foi então que o jovem médico que acompanhava aquele casal, percebeu que a esposa não tinha nenhum conhecimento do diagnóstico de seu parceiro. Foram longos dias naquele hospital e assim Cida foi compreendendo a grave doença de seu grande amor.
– Meu amor, nada irá mudar entre nós. Eu cuido de você e você cuidará de mim. E não me importo com seu passado, eu também tenho um passado.
Dizia Cida repetidamente.
E assim esse jovem casal segue sua vida. Ele seguindo seu tratamento e ela demostrando seu mais profundo ato de amor, ter relações sexuais desprotegidas.