Prof. Dr. HC João Bosco Botelho
Nos dias atuais, na terceira Revolução, a Eletrônica, com a moderna medicina tecnológica, temos concretamente a mediação de enorme aparato de novos recursos de diganóstico e de tratamento entre o médico e o paciente. Esta relação contribui para o maior articulação entre a Medicina e as determinantes sócio-econômico-político-cultural, já que o trabalho médico artesanal tende a ser absorvido e a desaparecer, para dar lugar no fortalecimento da clínica, o que pode reforçar de varias formas o atendimento diferenciado na ação médica.
Apesar deste fenômeno Ter ocorrido nos países da Europa nas primeiras décadas deste século, os mecanismo de controle e fiscalização do Estado reverteram esta realidade e hoje, como toda a tecnologia de ponta utilizada no diagnóstico e no tratamento das doenças, os diferentes grupos sociais tem no Hospitais Públicos da Europa a primeira opção na utilização dos serviços médicos aperfeiçoados para a utilização da ação médica coletiva, com a relação custo/benefício coberto por previdência social moderna e vigilante. Em conseqüência, e normal encontrar-se, lado a lado, nas enfermarias de dois leitos dos Hospitais Públicos na França , pacientes de diferentes estratos sociais, recebendo rigorosamente o mesmo tratamento, No Institut Gustave Roussy (Instituto de Câncer) da Universidade de Paris, em Villejuif, hoje considerado um dos maiores centros de pesquisa e tratamento de câncer do mundo, podemos todos os dias examinar e tratar operários ao lado de grandes milionários.
Na absurda diferenciação da ação médica que predomina nos países do Hemisfério Sul, e particularmente angustiante a afirmativa de Polack, J.C. no seu livro La Medicine du Capital, Paris, Maspere, 1971: “Se se considera mais de perto essa noção de ética, é possível dar-se conta de que o valor da vida humana sofre variações incessantes em torno de alguns momentos de reflexão histórica e política(…) A respeito do valor da vida humana e de suas flutuações, a inércia do sistema é essencialmente econômica e as mutações são político-sociais”.
A nova práxis médica deve estar assentada na consciência crítica do papel social da Medicina, da sua relação com o sócio-econômico-político-cultural e na idéia central da necessidade urgente de uma reforma geral nas instituições, inclusive nas atuais diretrizes caducas e retrógradas que norteiam as Escolas de Medicina.
Somente com esta nova práxis, a Ciência Médica poderá efetivamente participar, ao lado do Estado, na solução dos problemas que afligem e torturam a consciência nacional brasileira. Juntos poderão buscar, na discursão pluralista, novos rumos para a eliminação da miséria, do desemprego, do subemprego, da ausência de saneamento básico, de água potável e da luz elétrica, além de contribuir para resgatar as condições de sobrevivência digna para o brasileiro portadores de tuberculose, esquistossomose, doença de Chagas, hanseníase, doenças mentais, bócio, verminose, malária e principalmente dar a esperança de vida humana para as nossas mais de vinte milhões de crianças subnutridas e abandonadas.
Certamente, estou pronto a admitir que, esta crítica da ação médica predominante no nosso Brasil não contém toda a verdade, deve ao menor conter prenuncio da verdade e com isto, talvez, constituir uma revisão atualizada da axiologia da Ciência Médica, explicando, mesmo que parcialmente, o descrédito que os médicos enfrentam na atualidade como agentes de transformação social.