João Bosco Botelho, Doutor Honoris causa, Universidade Toulouse III-Paul Sabatier
Nada, em nenhum tempo, tem despertado tanto medo da dor incontrolável e da morte prematura do que as epidemias[1]. Muitos registros sagrados e profanos, assinalam essa evidência[2].
A impressionante descrição de Tucídides[3] da epidemia que assolou Atenas, entre os anos 430 e 427 a.C., na Grécia, constitui um dos primeiros relatos detalhado das relações do homem com a ameaça da sobrevivência coletiva por doença de causa desconhecida, onde homens e deuses não respondem ao clamor coletivo. Semelhante, Homero unindo sagrado e profano, atribui a peste ao castigo dos deuses, convocando todos à presença do sacerdote, para coordenar a rendição humana à vontade divina[4].
Ainda hoje, sob a perspectiva da medicina-oficial*, permanecem inúmeras dúvidas quanto à doença que determinou a terrível praga de Atenas e qual o ano em que começou a declinar[5]. Pelos sinais e sintomas descritos, alguns acreditam que se tratou e duas doenças[6], a gripe e a estafiloccocia; outros, um vírus semelhante ao da febre descrita, em 1930, no Sudoeste da África, que ficou conhecida como a febre do vale Rift, com quadro clínico semelhante ao escrito por Tulcídides[7].
De igual modo, a genialidade de Sófocles (495-406 a. C.), no Rei Édipo, no diálogo com o sacerdote, propõe a união entre o rei e os deuses para salvar todos, ricos e pobres, da peste que castiga e mata os habitantes de Tebas[8].
Nas linhas e entrelinhas, a extraordinária genialidade dos autores descreve com impressionante realismo o medo e a insegurança coletivas frente a ameaça da morte antecipada. Por outro lado, a claríssima ineficácia das medicinas divina, oficial e empírica em mudar o quadro devastador da doença, que ameaçava a vida de todos, aumentando a angústia determinada pela insegurança.
*É possível entender as práticas da medicina sob três expressões, sob as maiores influências:
oficial, poder laico dominante;
empírica, conhecimentos historicamente acumulados
divina, ideias e crenças religiosas.
Do mesmo modo, está transparente a vontade coletiva de buscar o culpado do mal, da tragédia, não só como uma alternativa de compensar a ausência de tratamento competente, mas também agindo como indicativo para que, no momento em que fosse conhecido o agente determinante da tragédia, seria iniciado o processo de combate frontal contra algo ou alguém.
O tempo não atenuou a forte marca desse aspecto das memórias sociogenéticas** ¾ a doença como mal ¾ oriunda de tempos muito anteriores às tragédias gregas, quando a ameaça da dor e o risco da morte prematura tornam-se fora de controle[9].
Em diferentes épocas, nos últimos milênios, como uma parte dos fatores imprevisíveis que podem interferir na sobrevivência do homem e da mulher, as epidemias apareceram ora de modo espontâneo, ora provocadas pelo próprio homem, e para sempre, deixaram os rastros da desolação, da morte e do medo coletivo à dor.
Durante longo tempo, como nos relatos bíblicos, no AT e no NT, as epidemias foram agrupadas em torno da palavra peste[10] atingindo tudo e todos, enviadas como castigo pelas transgressões cometidas contra a palavra de Deus. Do mesmo modo, encontram-se alguns registros, a partir do III milênio a.C., entre os egípcios[11] da ocorrência de diferentes doenças endêmicas, cujos tratamentos envolvia não só os remédios recomendados pelos médicos, como também complexos ritos de expiação, dirigidos pelos sacerdotes[12]. Concomitante, os povos assírio-babilônicos entendiam a doença, de qualquer natureza, como mal e o doente como pecador[13].
Nos últimos anos, o retorno atento da medicina-oficialàs crenças e ideias religiosas possibilitou, de certa forma, outras análises dos significados de certas palavras bíblicas, historicamente interrelacionadas com o medo da dor e da morte, quase todas descrevendo doenças que determinavam deformidades da pele causando a fealdade repulsiva[14].
Uma dessas palavras hebreia antiga – shechin – descreve certas inflamações da pele, sem incluir as determinadas pelo fogo, entendidas como michvah. Em três passagens bíblicas é possível aprofundar o quanto foi forte o medo do sofrimento descrito sob essa palavra[15]. A primeira, trata da sexta praga do Egito, descrita no Êxodos[16], sob a influência do rabino Shlomo bem Yitzchak, no século XI, foi traduzida como boil (fervura), em alguns textos no inglês.
**A proposta teórica das memórias sociogenéticas, interligando o meio vivido e as emoções sentidas à epigenética capaz de produzir mudanças no genoma, está publicado:
BOTELHO, JB. O deus genético. Manaus. Editora Universidade Federal do Amazonas. 2000. p. 11-146.
Por outro lado, o Talmude ao entender como algo seco por dentro e pustuloso por fora, sugere poder tratar-se de varíola ou varicela. A outra, a doença do rei Ezequias, de Judá[17], do século VIII a. C., como demonstração do poder do deus de Israel, foi curada, em três dias, com emplasto de pão de figo. A última, a aflição de Jó causada pelas úlceras que tomavam conta do corpo, dos pés à cabeça[18].
Dessa forma, desde tempos antigos, em muitas culturas, o aparecimento das epidemias é associado à vontade divina[19] nas três expressões das práticas médicas. Com variações, pode ter sido a alternativa para transpor o desconhecido para evitar transtornos significativos na coesão social[20], mas também como forma de aumentar o controle social, como resposta coletiva imediata aos determinantes para assegurar a vida e evitar a dor.
O corpo, visto e sentido como expressão de vida, por nós e pelos outros, impulsiona o homem, pensante e finito, a buscar explicação das mudanças produzidas nele, traduzidas no medo da dor,interpretando‑as como antecipação da morte.
Os curadores ou as pessoas próximas ao identificarem o homem doente portador de algo desconhecido, para diferenciá‑lo do sadio, poderia acontecer dupla emoção tanto na pessoa sã quanto no doente, determinada pelo choque entre o real, visto pelo curador e doente, e o imaginário envolvendo a doença nas muitas expressões dos conhecimentos historicamente acumulados e nas ideias e crenças religiosas.
A primeira visível, trazida e realçada no sofrimento do enfermo, está em relação à enfermidade em si mesma, (tumor, mancha, perda dos sentidos em área específica do corpo, etc.). A segunda, muito mais complexa, invisível para o curador e doente, forçando ambos ao exercício mental procurando interpretar a alteração sentida, mas não visualizada, como as dores na cabeça, no abdome e tórax, sem ferimentos nas peles e traumas.
As ações dessas emoções acionam as memórias sociogenéticas**, especialmente o medo de morrer, para procurar meios eficazes de atenuar ou acabar com a dor ou a ameaça à vida.
A experiência de sentir dor fora de controle é a mais significativa e serve como exemplo. O desconforto doloroso e o medo da morte são componentes reais dessa complexa interrelação entre o real e o imaginário.
A explicação da origem dolorosa, nascida no sofrimento, é profundamente mesclada pelas heranças social e genéticas, componentes fundamentais das defesas autoimunes, da própria interpretação do doente, dos acompanhantes e dos médicos.
** A proposta teórica das MSGs, interligando o meio vivido e as emoções sentidas à epigenética capaz de produzir mudanças no genoma, está publicado:
BOTELHO, JB. O deus genético. Manaus. Editora Universidade Federal do Amazonas. 2000. p. 11-146.
Esse complexo conjunto unindo conhecimentos historicamente acumulados e as memórias sociogenéticas, a partir de determinado momento, quando o perigo é identificado, trabalham intensamente com a intenção de sanar a dor eempurrar os limites da vida. Essa elaboração, traçada e em permanente mudança ao longo do processo ontogênico, lança mão de mecanismos cerebrais e neuroendócrinos capazes de engendrar respostas mentais e físicas intimamente relacionadas com o universo mítico do doente.
Organizado ao longo da ontogênese, desde os primórdios, o fantástico processo fisiológico de defesas inatas,determinado pelo medo da dor e da morte, invisível aos olhos, mas vivo e sentido na[21] intimidade do homem e da mulher, se entrelaça à mitopoese, onde a conjunção entre o social e o genético se expressam no cotidiano.
Entre as muitas respostas biológicas e sociais para superar o sofrimento, como um dos mais importantes produtos do processo ontogenético envolvendo o social e o genético, está a organização mental da dor como mal, sinônimo de doença, formando a objetividade da doença como precursora da morte. De maneira semelhante, o prazer, sinônimo de não-dor, como bem e significando saúde, em oposição frontal à doença e à morte.
Desse modo, em muitos mecanismos do corpo, notadamente, nos sistemas nervosos central e periférico, são viabilizadas respostas orgânicas de grande valia: a dor e o prazer, invisíveis aos olhos, tornam-se visíveis na intimidade do doente.
Desse modo, o mal como fator determinante de dor, é sempre o outro, localizado fora da ordenação desejada, que não o próprio doente. Os modelos culturais ligados à crença de divindades curadoras e/ou punitivas, com profundas marcas dessa herança social e genética, quando desconhecem a etiologia da doença, colocam o outro, o causador do sofrimento e determinante da morte, sempre absoluto e sobrenatural, acima e abaixo da terra, e por isso mesmo capaz de gerar a desordem, sinônimo de doença, como castigo às transgressões cometidas pelo sofredor.
A alternância entreordem (saúde) e desordem (doença) podendo produzir as doenças e a morte, é o ponto fundamental e o limite que continua permitindo a construção do saber médico. Foi assim que foi edificado o conhecimento do corpo, desvendando o escondido atrás da pele. Esse processo tornou indispensável a presença do agente especializado em curar, curadores de todos os matizes, para observar e interpretar o mal, tanto no espaço sagrado quanto no profano.
Os curadores, essencialmente normativos, historicamente tem se comportado como elo entre o mal e o bem. Como é por meio da cura que se dá a passagem de uma situação à outra.
Entretanto, quando a ligação se faz, é organizado simultaneamente o espaço ético de reciprocidade entre o agente da cura e o objeto da sua cura, o paciente. A capacidade de desvendar a doença, desse modo tornando‑a visível, dá ao ato a magia que alimenta as emoções causadas pelo subjetivismo do mal como antítese da vida.
Esse é o principal paradoxos da medicina, porque mesmo ainda desconhecendo em qual dimensão da matéria o normal se transforma em patológico, os agentes das curas das medicinas divina, empírica e oficial articulam interpretações, nas suas áreas de saberes, capazes de moldar materialidades do subjetivo, representado pela dor e pelo medo da morte.
A ambiguidade do saber dos agentes da curaem relação a doença é sempre mágica com o paciente, e, dessa forma concede à medicina o discurso bitonal, entre o real e o imaginário, capaz de ser utilizado também como instrumento de dominação e catequese.
Isto ocorre porque a doença, por mais insignificante que seja, representa sempre a antecipação da morte. O curador, como dono desse saber técnico, também compreendido como dom, se coloca entre a vida e a morte.
O principal instrumento legitimador do poder é o diagnóstico completado pelo tratamento. É a precisão para transformar o subjetivo em objetivo, o imaginário em material, que ampara a medicina. É assim que o poder médico, a serviço da dominação e da catequese, tem amplitude suficiente para explicar e validar a transgressão dos valores dominantes.
É por meio do diagnóstico que o agente da cura identifica o mal para, em seguida, por meio do tratamento, extirpá‑lo.
A medicina se consolidou como especialização social, nos quatros cantos do planeta, esforçando-se para decifrar os segredos do corpo em permanente transformação, tanto no espaço sagrado quanto no profano das relações sociais.
A maior valorização de um ou de outro segmento ¾ diagnóstico e a terapêutica ¾ depende do processo cultural prevalente nas memórias que ampara a luta pela vida sem dor, como uma das principais âncoras da sobrevivência humana, sempre empurrando os limites da morte.
O médico ao diagnosticar um câncer e o pajé reconhecendo o espírito malfeitor, representam duas práticas de curas que atuam com o mesmo objetivo: afastar o mal.
É por esta razão que a nova História da Medicina permite validar os saberes específicos a partir das semiologias de naturezas diversas: mítica e sociopolítica objetivando interpretar as doenças.
Sem considerar as particularidades temporais, no Antigo Testamento (AT), encontram-se numerosas citações de epidemias sob diferentes designações: calamidade,fome,dilúvio,fogo,doenças e outras. Todas simbolizando o absoluto poder de Deus sobre a vida e a morte de tudo e de todos.
Como um dos mais poderosos instrumentos das heranças sociogenéticas, também presente na estrutura teogônica das religiões politeístas, está contida nas regras invioláveis de mecanismos de controle da obediência e fidelidade aos deuses dominantes. Em contrapartida, o grupo dominante de certo grupo social, no caso do AT, o povo de Israel, protege os seus preferidos dos perigos,como demonstração de força frente ao inimigo causador de dor e morte fora de controle: dor, fome e morte precoce emgrande número de pessoas[22].
Nessas passagens bíblicas, o sentido da peste representa, invariavelmente, o castigo de Deus insatisfeito com a conduta dos homens.Os registros evidenciam que o homem, mesmo creditando a desgraça como castigo de Deus, de maneira clara, associando o aparecimento das epidemias com insetos e roedores, mosca, gafanhoto, mosquito e rato[23].
Esses registros acorridos na Assíria-Babilônia, Egito e outros povos do Médio Oriente, assinalaram a importância desses animais no aparecimento das doenças endêmicas, sugerindo forte interrelação entreas três práticas médicas, milhares de anos antes das demonstrações nas instituições de ensino amparadas pelo poder laico dominante, só tornadas públicas por meio do pensamento micrológico, no século XVIII, aclarando o invisível aos olhos desarmados.
No mundo grego, alguns surtos epidêmicos foram assinalados de modo transparente, tanto por médico quanto por administradores. Além da famosa epidemia, em Atenas, no ano 428 a. C., que teria se originado na Etiópia e alcançado o Egito em pouco tempo, identificada como a provável primeira manifestação coletiva do tifo exantemático[24], outras encheram de medo as populações urbanas e rurais. Entre as mais conhecidas, citam-se:
1. A do ano 490 a. C., em Roma, Denys de Helicarnasso cita as mulheres anunciando uma epidemia como sinal do furor divino;
2. A do ano 413 a.C., em Siracusa, descrita por Diodoro da Sicília, cuja descrição da febre intermitente, leva a suspeição de tratar-se de malária;
3. A do ano 396 a.C., em Cartago, a população sofre maciçamente de febre, dores no corpo e diarreia e pústulas;
4. A do ano 175 a.C., na Itália, uma epidemia atinge pessoas livres e escravos, com tantos mortos que é impossível sepultar todos;
5. A do ano 142 a.C., em Roma, após a conquista de Corinto, atinge mortalmente as legiões romanas.
6. A dos anos entre 14 e 37 a.C., na Itália, uma doença de pele, que alguns acreditam ter sido a lepra, acomete um grande número de pessoas;
7. A do ano 65, em Roma, Tácito descreve uma epidemia mortal que não respeita sexo, idade, ricos e pobres, matando mais de trinta mil pessoas em três meses.
A ocorrência das epidemias e o desespero frente à ameaça da morte antecipada e da dor fora de controle, acompanhou o homem na sua luta pela sobrevivência e de conquista dos novos espaços para garantir a vida e o conforto.
As fontes históricas não cristãs[25] reforçam o pensamento de que as relações entre a medicina-oficial e o cristianismo dos primeiros séculos se fizeram baseadas, principalmente, na herança cultural dos judeus e de outros povos dominados que viveram próximos do centro de influência da nova religião, todos admitindo, claramente, a doença como castigo de Deus.
A nova crença e ideia religiosa também representou uma das principais manifestações da crise social em curso, no Império Romano. No seu início, traduziu o protesto das massas populares contra a ordem vigente, promotora dos conflitos e da insegurança coletiva da maior parte da população. Esse sentido está claro no Didaqué (doutrina dos doze apóstolos) que exigia a libertação dos escravos e protestava contra os abusos romanos. Culminou com o tom inconciliável do Apocalipse de São João, que condenava o poder de Roma e previa o fim próximo.
É possível que as práticas médicas, no cristianismo primitivo, seguiram os preceitos do AT até a sua ruptura com o judaísmo. Esta nova fase pode ter sido influenciada a partir da recusa dos judeu-cristãos de se envolverem na guerra messiânica contra os romanos no ano 66.
Nesse conjunto denso dos eruditos, ligados à tradição monoteísta, predominava os ensinamentos do AT. A doença se apresentava como resultado do castigo divino pelas transgressões morais cometidas ou como aviso da cólera de Deus[26] ou como um mal que nas promessas escatológicas seria suprimido no novo mundo que o Deus da Nova Aliança oferecia[27].
Porém,no judaísmo pós-exílio, marcado pelo intenso sofrimento do povo judeu, aparece mais a ação dos demônios e espíritos maléficos como os grandes responsáveis pelo aparecimento das doenças.
Algumas citações de práticas médicas, no AT, reproduziram antigas preocupações encontradas no politeísmo assírio-babilônico e egípcio. As doenças que geravam insegurança e medo coletivos como a lepra, a loucura, a cegueira e as paralisias, descritas como sendo de origem divina, são as mesmas e com sentido idêntico as descritas nas sociedades que povoavam aquela região antes do judaísmo.
Do mesmo modo, a simples referência maliciosa de estar ocorrendo uma epidemia[28], em qualquer cidade, já era motivo para haver o esvaziamento populacional e comercial, gerando mais insegurança e medo.
A gradativa consolidação do cristianismo como nova religião, no mundo romano, também representou consequência das alianças políticas, na Roma enfraquecida internamente e ao longo das fronteiras. Inserido nesse conjunto sincrético, onde as crenças do universo mitológico greco-romano em torno da compreensão da saúde da e da doença, pouco a pouco, eram substituídas pelas do monoteísmo cristão.
Sem pormenorizar aspectos específicos do contexto dosevangelhos, Jesus apareceu como Deus feito homem e como Messias, o Salvador, anunciado pelos profetas do AT.A profecia rezava que a chegada do Messias redimiria o povo de Israel. Nada disso se materializou e a situação política dos judeus agravou-se durante e após as revoltas contra os romanos.
Após a segunda e última revolta dos judeus,sob a liderança de Bar-Kocheba,entre os anos 132-136,ocorreu o definitivo afastamento entre as duas religiões. Vencidos militarmente, cercado pelo poder militar romano, e excluídos da nova religião, os judeus perderam, definitivamente, as alianças de sustentação. Nessa condição, os vencedores ergueram, em Jerusalém, um templo para Júpiter no local do santuário de Iahweh.
Para que a separação entre judaísmo e o cristianismo iniciasse o processo de divórcio, começou a elaboração, por parte dos cristãos, do conjunto normativo de proibições de práticas sociais marcantes entre os judeus. Um dos primeiros ritos judaicos abolidos foi o da circuncisão. Para os judeus, a salvação só poderia ser alcançada com a obediência da aliança feita entre Abraão e Deus[29].
Em pouco tempo, quando Paulo enfrentou a resistência da sinagoga, seguiu-se o tom muito violento da Primeira Epístola aos Tessalonicenses marcando a acusação contra os judeus de terem crucificado Jesus[30].
Foi com base neste veredito que os representantes da Igreja,ao longo de diferentes períodos, perseguiram os judeus, identificando-os, sem titubear, como os responsáveis pelas epidemias da Idade Média e por todos as outras catástrofes ameaçadoras da vida dos cristãos.
Ao mesmo tempo, a separação da Nova Aliança do AT, onde Iahweh era muitíssimo mais severo e vingativo, se tornava cada vez mais nítida. Nesse sentido, a NT revela com transparência a outra concepção de um Deus indulgente e, essencialmente, bondoso, muito diferente do AT[31].
Esse conjunto sócio-político, que se estendeu à Idade Média, continuou revigorando as três práticas médicas: oficial, empírica, e divina, com a substituição dos curadores do panteão romano pelo Deus da Nova Aliança, a Trindade Cristã e muitas pessoas santificadas.
Foi sob esse contexto, no Medievo, com as três medicinas empurrando a dor e os limites da vida que os surtos epidêmicos de doenças infecciosas se sucederam, matando próximo de um terço da população na Europa Central;
REFERÊNCIAS
[1] Botelho, João Bosco. Sífilis e AIDS – a doença no lugar do pecado. Manaus: Jornal do Comércio. 17 mai. 1990. p. 4.
[2] Doyle, R. J.; Lee, Nacy C. Microbes, warfare, religionand human Institutions. Can J Microbiol 1986. v. 32, n.3. p. 193-200
[3] Tucídides. História da Guerra do Peloponeso. 2. ed. Brasília: Ed. Universidade de Brasília. 1986. p. 102-103: Subitamente ela caiu sobre a cidade de Atenas, atacando primeiro os habitantes de Pireu, de tal forma que a população local chegou a acusar os Peloponeso de haverem posto veneno em suas cisternas. Depois atingiu também a cidade alta e a partir daí a mortalidade se tornou muito maior. Médicos e leigos, cada um de acordo com sua opinião pessoal, todos falavam sobre a sua origem provável e apontavam causas que, segundo pensavam, teriam podido produzir um desvio tão grande nas condições normais da vida (…). As vezes a morte decorria de negligência, mas de um modo geral ela sobrevinha apesar de todos os cuidados. Não se encontrou remédio algum, pode-se dizer, que contribuísse para o alívio de quem tomasse – o que beneficiava um doente prejudicava outro – e nenhuma compleição foi por si mesma capaz de resistir ao mal, fosse ela forte ou fraca (…) Mas o aspecto mais terrível da doença era a apatia das pessoas atingidas por ela, pois seu espírito se rendia imediatamente ao desespero e elas se consideravam perdidas, incapazes de reagir (…)
[4] Homero. Ilíada (Canto I, 8-12). 3. ed. São Paulo: Ed. Melhoramentos. s/d. p. 43: Qual, dentre os deuses eternos, foi causa de que eles brigassem? O que de Zeus e de Leto nasceu, que, com o rei agastado, peste lançou destruidora no exército. O povo morria, por ter o Atrida Agamêmnon a Crises, primeiro, ultrajado, o sacerdote.
Homero. Ilíada (Canto I, 54-67). 3. ed. São Paulo: Ed. Melhoramentos. s/d. p. 44-5: Por nove dias, as setas do deus dizimaram o exército; mas no seguinte, chamou todo o povo para a ágora, Aquiles. Hera, de braços brilhantes, lhe havia inspirado esse alvitre, pois tinha pena dos Dânaos, ao vê-los morrer desse modo. Quando ao chamado acudiram e todos se achavam reunidos, alça-se Aquiles, de rápidos pés, condicionando desta arte: “Filho de Atreu, quero crer que nos cumpre voltar para casa sem termos nada alcançado, no caso de à Morte escaparmos, pois os Aquivos, além das batalhas, consome-os a peste. Sus! consultemos, sem mora, qualquer sacerdote ou profeta, ou quem de sonhos entenda – que os sonhos de Zeus se originam – para dizer-nos a causa de estar Febo Apolo indignado: se por não termos cumprido algum voto ou talvez, hecatombes, ou se lhe apraz, porventura, de nós receber o perfume de pingues cabras e ovelhas, a fim de livrar-nos da peste”.
[5] Hayman, David. The plague of Athens. N Engl J Med. 1986. v. 314, n. 13, p. 855.
[6] Morens, David M.; Chu May C. The plague of Athens. N Engl J Med 1986 v. 314, n. 13. p. 855.
[7] Langmuir, Alexander D. The plague of Athens. N Engl J Med. 1986. v. 314, n. 13. p. 856.
[8] Sófocles. Rei Édipo. Rio de Janeiro: Clássicos Jackson. v. 22. Ed. W. M. Jackson. 1953. p. 49-50: Édipo – Ó um filho, gente nova desta velha cidade de Cadmo, por que vos proternais assim, junto a estes altares, tendo nas mãos os ramos dos suplicantes? Sente-se, por toda a cidade, o incenso dos sacrifícios; ouvem-se gemidos, e cânticos fúnebres. Não quis que outros me informassem da causa de vosso desgosto; eu próprio aqui venho, eu, o rei Édipo, a quem todos vós conheceis. Eia! Responde tu, ó velho; por tua idade veneranda convém que fales em nome do povo. Dize-me, pois, que motivo aqui trouxe? Que terror, ou que desejo vos reuniu? Careceis de amparo? Quero prestar-vos todo o meu socorro, pois eu seria insensível à dor, se não me condoesse de vossa angústia. O Sacerdote – Édipo, tu que reinas em minha pátria, bem vês esta multidão prosternada diante dos altares de teu palácio; aqui há gente de toda a condição; crianças que mal podem caminhar, jovens na força da vida, e velhos curvados pela idade, como eu. sacerdote de Júpiter. E todo o restante do povo, conduzindo ramos de oliveira, se espalha pelas praças públicas, diante dos templos de Minerva, em torno das cinzas proféticas de Apolo Isménio! Tu bem vês que Tebas se debate numa crise de calamidades, e que nem sequer pode erguer a cabeça do abismo de sangue em que se submergiu; ela perece nos germens fecundos da terra, nos rebanhos que definham nos pastos, nos insucessos das mulheres cujo filhos não sobrevivem ao parto. Brandindo seu archote, o deus maléfico da peste devasta a cidade e dizima a raça de Cadmo; e o sombrio Hades se enche com os nossos gemidos e gritos de dor. Certamente, nós não te igualamos aos deuses imortais; mas, todos nós, eu e estes jovens, que nos acercamos de teu lar, vemos em ti o primeiro dos homens, quando a desgraça nos abala a vida, ou quando se faz preciso obter o apoio da divindade.
[9] Botelho, João Bosco. A doença como mal. Manaus: Amazonas em Tempo. 01 dez. 1990. p. 6.
[10] Ex 9, 3 – eis que a mão de Iahweh ferirá os rebanhos que estão nos campos, os cavalos, os jumento, os camelos, os bois e as ovelhas, com uma peste muito grave.
Ex 9, 15 – De fato, se eu já tivesse estendido a mão para ferir a ti e o teu povo com peste, terias desaparecido da terra.
Nm 14, 12 – Disseram-no também aos habitantes desta terra. Souberam que tu, Iahweh, estás no meio deste povo, a quem te fazes ver face a face; que és tu, Iahweh, cuja nuvem paira sobre eles, que tu marchas diante deles, de dia numa coluna de nuvem e de noite numa coluna de fogo.
Dt 28, 21 – Iahweh fará com que a peste se apegue a ti até que te elimine do solo em que estás entrando, a fim de tomares posse dele.
Dt 32, 24 – Vão ficar enfraquecidos pela fome, corroídos por febres e pestes violentas; porei o dente das feras contra eles, com veneno de serpentes do deserto.
2Sm 24, 15 – Portando, Davi escolheu a peste. Era o tempo da colheita do trigo. Iahweh mandou a peste a Israel, desde aquela manhã até o dia determinado. O flagelo feriu o povo, e setenta mil homens do povo morreram, desde Dã até Bersabéia.
Sl 91, 5-6 – Não temerás o terror da noite nem a flecha que voa de dia, nem a peste que caminha na treva, nem a epidemia que devasta no meio do dia.
Jr 14, 12 – Se eles jejuarem, eu não escutarei a sua súplica; se oferecerem holocaustos e oblações, eu não terei complacência com eles, porque pela espada, pela fome e pela peste eu os irei exterminar.
Jr 29, 17 – Assim disse Iahweh dos exércitos: Eis que lhes vou enviar a espada, a fome e a peste; e os farei semelhantes a figos podres que não podem ser comidos, de tão ruins que são.
Ez 5, 12 – A terça parte dos teus habitantes morrerá pela peste e perecerá de fome no meio de ti; outra terça parte cairá à espada em torno de ti; finalmente, a outra terça parte a espalharei a todos os ventos e desembainharei a espada atrás deles.
Ez 7, 15 – Por fora a espada, por dentro a peste e a fome. Aquele que estiver no campo morrerá à espada, enquanto aquele que estiver na cidade, a fome e a peste o devorarão.
Am 4, 10 – Eu vos enviei uma peste como a peste do Egito; matei pela espada os vossos jovens, enquanto os vossos cavalos eram capturados; fiz subir às vossas narinas o mau cheiro de vossos acampamentos, mas não voltaste a mim! Oráculo de Iahweh.
Hc 3, 5 –Diante dele caminha a peste, e a febre segue os seus passos.
Mt 24, 7 –Pois se levantará nação contra nação e reino contra reino. E haverá fome e terremoto em todos os lugares. Tudo isso será o princípio das dores.
At 24, 5 – Verificamos que este homem é uma peste; ele suscita conflito entre todos os judeus do mundo inteiro, e é um dos da linhagem de frente da seita dos nazareus.
[11] Ghalioungui, Paul. La Medicina en el egipto faraónico. In: Entralgo, Laín. Historia Universal de la Medicina. T. 1. Madri: Salvat. 1981. p. 119: Parece ter existido epidemias que se apareciam de tempos em tempos. O papiro de Ebers contém muitas descrições de doenças acompanhadas de exantemas, ainda que não se pode definir sua exata natureza.
[12] Castiglioni, Arturo. História da Medicina. São Paulo: Nacional. 1947. p. 60: O pairo de Ebers começa assim: “Aqui começa o livro da preparação dos remédios para todas as paredes do corpo de uma pessoa. Nasci em Heliópolis com os sacerdotes de Het-Aat, senhores da proteção, reis da eternidade e da salvação. Tenho minha origem em Sais com a deusa maternal que me protegeu. O senhor deTudo deu-me palavras para afastar as doenças de todos os deuses e os sofrimentos mortais de toda espécie.”
[13] Le Goff, Jacques. Pecado. In: Enciclopédia Einaudi. Mythos/ Logos. Sagrado/Profano. Porto: Imprensa Nacional- Casa da Moeda. 1987. p. 271: Assírios e babilônicos tinham uma ideia complexa da condição do pecador: caracterizavam-no como um ser privado de liberdade, angustiado, decaído, débil ou, então, como um agitado, um homem que não encontra paz, em rebelde, possesso pelo mal. O pecador é, essencialmente, um possesso pelos demônios (utukku) e também um enfeitiçado, um doente, a ponto de, nalguns textos, os termos “sortilégio”, “maleficio”, “pecado”, “doença”, “sofrimento” aparecerem praticamente como sinônimos.
Bottéro, Jean. La magie et la médecine règnent à Babylone. In: Les maladies ont une histoire. L’Histoire/Seuil. Paris: 1984. p. 12- 23.
[14] Goldman, Leon et al. White spots in biblical times. Arch Dermatol 1966. v.93, n. 6, p. 744-53.
[15] Hoenig, Leonar. The plague called “shechin” in the bible. Am J Dermatopathol 1985 v. 7. n. 6. p. 547-7.
[16] Ex 9, 8-9 – Disse Iahweh a Moisés e Aarão: “Apanhai mãos cheias de cinza de forno, e Moisés a lace para o ar, diante dos olhos de Faraó. Ela se converterá em pó fino sobre a terra do Egito e provocará, nos homens e nos animais, tumores que se arrebentarão em úlceras, por toda a terra do Egito”.
[17] A doença e o sofrimento de Ezequiassão narrados em dois livros do AT, onde estão claros a força do convencimento do poder do Deus de Israel, curando as doenças e protegendo dos inimigos,aos que lhe são fiéis e obedientes:
2R 20, 1-7 – Naquela época, Ezequias foi atingido por uma doença mortal. O profeta Isaías, filho de Amós, veio dizer-lhe: “Assim fala Iahweh: Põe ordem em tua casa, porque vais morrer, não sobreviverás.”. Ezequias virou o rosto para a parede e assim orou a Iahweh: “Ah! Iahweh, lembra-te, por favor, de como andei fielmente e com toda probidade de coração diante de ti, fazendo o que era agradável aos teus olhos.” E Ezequias chorou abundantes lágrimas. Isaías não tinha ainda deixado o pátio interno, quando lhe veio a palavra de Iahweh: “Volta e dize a Ezequias, chefe do um povo: Assim fala Iahweh, Deus de teu pai Davi. Escutei tua prece e vi tuas lágrimas. Vou curar-te: em três dias subirás ao templo de Iahweh. Acrescentarei quinze anos à tua vida, livrar-te-ei, a ti e a esta cidade, da mão do rei da Assíria, protegerei esta cidade por amor de mim mesmo e do meu servo Davi. Isaías disse: “Tomai um pão de figos”; tomaram um e o aplicaram sobre a úlcera e o rei ficou curado.
Is 39, 1-8 – Por esse tempo, Merodac-Baladà, filho de Baladã, rei da Babilônia, enviou cartas e um presente a Ezequiel, pois soubera que tinha estado doente e que estava restabelecido. Ezequias alegrou-se com isto e mostrou aos mensageiros a sua casa do tesouro, a saber, a prata, o ouro, os perfumes, o óleo fino, bem como todo o seu arsenal, tudo o que se encontrava entre os seus tesouros. Nada houve em seu palácio e no seu domínio que Ezequias não lhes mostrasse. O profeta Isaías foi ter com o rei Ezequias e lhe perguntou: “Que disseram estes homens e de onde vieram ter contigo?” Ezequias respondeu-lhe: “Vieram de uma terra distante, da Babilônia.” Tornou Isaías a perguntar: “Que viram eles no teu palácio?” A isto respondeu Ezequias: “Viram tudo o que há no meu palácio: nada há entre os meus tesouros que eu deixasse de mostrar-lhes.” Disse então Isaías a Ezequiel: “Ouve a palavra de Iahweh dos Exércitos: Dias virão em que tudo o que há no teu palácio, o que os teus pais entesouraram até este dia, será levado para a Babilônia: Nada será deixado, disse Iahweh. dentre os teus filhos, nascidos de ti, dos que tu geraste, todos eles para serem eunucos no palácio do rei da Babilônia.” Então Ezequias respondeu a Isaías: “Boa é a palavra de Iahweh, que acabas de pronunciar.” “Com efeito, dizia ele de si para consigo, nos meus dias haverá paz e segurança.”
[18] Jo 19-20 – Debaixo da pele minha carne apodrece e os meus ossos se desnudam como os dentes.
[19] Werner, Alfred; Werner, Hélène; Goetschel, Nicholas. Les épidémies: un sursis permanent. Paris: Atlande. 1999. p. 106-52.
[20] Botelho, João Bosco. O movimento mítico da coesão social no século XX: do comunismo às drogas. Manaus: Amazonas em Tempo. 10 ago. 1991. p. 4.
[22] Ex 7, 20-21: Moisés e Aarão fizeram como Iahweh lhes havia ordenado. – Ele levantou a vara, feriu as águas que estavam no Rio, aos olhos de Faraó e dos seus servos: e toda a água do Rio se converteu em sangue. Os peixes do Rio morreram. O Rio poluiu-se, e os egípcios não podiam beber a água do Rio. E houve sangue por todo o país do Egito.
Sb 10, 18-19: Fê-los passar o mar Vermelho, conduziu-os por águas caudalosas; ela afogou seus inimigos e os vomitou das profundezas do abismo.
Dt 6, 14-15: Não seguireis outros deuses, qualquer um dos deuses dos povos que estão ao vosso redor, pois Iahweh teu Deus é um Deus ciumento, que habita em teu meio. A cólera de Iahweh teu Deus se inflamaria contra ti, e ele te exterminaria da face da terra.
Ez 14, 21-22: Com efeito, assim diz o senhor Iahweh: Do mesmo modo, ainda que eu envie a Jerusalém os meus quatro castigos Terríveis, a saber, a espada, a fome, os animais e a peste, afim de extirpar dela homens e animais, sobrará nela um resto que conseguirá escapar – filhos e filhas -, trazidos de fora.
Is 24, 1-6: Eis que Iahweh vai assolar a terra e devastá-la, porá em confusão a sua superfície e dispersará os seus habitantes…A terra está profanada sob os pés dos seus habitantes; com efeito, eles transgrediram as leis, mudaram o decreto e romperam a aliança eterna. Por esse motivo a maldição devorou a terra e os seus habitantes recebem o castigo; por esse motivo os habitantes da terra foram consumidos: poucos são os que restam.
[23] Sournia, Jean-Charles; Ruffie, Jacques. As epidemias na história do homem. Porto: Ed. 70. 1984. p. 75: A propósito de ratazanas e de ratos, quisemos concluir que a sua representação nos quadros sobre a peste mostra uma notável presciência dos nossos antepassados, que teriam identificado o animal culpável pela transmissão, muito antes de o micróbio causal ser identificado. Na realidade, o bacilo de Yersin foi descrito em 1894, e o papel da pulga do rato para explicar a contaminação humana só foi demonstrado por Simond alguns anos mais tarde: a arte representou ratos e ratazanas, quer para permanecer fiel ao Antigo Testamento, quer para evocar o furou de Apolo, isto é, o infinito poder divino.
[24] Biraben,Jean-Noël. Les maladies en Europe: équilibres et ruptures de la pathocénose. In: Grmek, Mirko D. dir. Histoire de la pensée médicale en Occident. v. 1. Paris: Seuil. 1998. p. 295.
[25] Josefo, Flávio. Seleções de Flávio Josefo. São Paulo: Ed. das Américas. 1974. p. 198: Deus queria que Herodes sofresse o castigo de sua impiedade; sua doença agravava-se cada vez mais. Uma febre lenta, que não transparecia exteriormente, queimava-o e o devorava-o por dentro; ele tinha uma fome tão violenta que nada era capaz de saciá-lo…estavam de acordo em admitir que tudo aquilo era um castigo visível de Deus, para puni-lo pela sua crueldade…Mandou vir médicos de todos os países e, a conselho deles, foi para além do Jordão, à águas cálidas de Caliroé, que se despejam num lago cheio de betume e, não somente são medicinais, mas também agradáveis para se beber.
[26] Jó 16, 11-12: Deus entregou-me a injustos, jogou-me nas mãos dos ímpios. Vivia eu tranqüilo, quando me esmagou, agarrou-me pela nuca e me triturou. Fez de mim seu alvo.
SI 39, 11-12: Afasta a tua praga de mim, eu sucumbo ao ataque de tua mão! Castigando o erro tu educas o homem e róis os seus tesouros como a traça. Os homens todos são apenas um sopro!
[27] Is 35, 5-7: Então se abrirão os olhos dos cegos, e ou ouvidos dos surdos se desobstruirão. Então o coxo saltará como o cervo., e a língua do mudo cantará canções alegres, porque a água jorrará do deserto, e rios, da estepe. A terra seca se transformará em brejo, e a terra árida em mananciais de água. Onde repousam chacais surgira um campo de juncos e de papiros.
[28] Sournia, Jean-Charles. As epidemias na história do homem. Porto: Ed. 70. 1984. p. 74: Nessa época já se faziam correr boatos para desacreditar as cidades: desde 1350 antes da nossa era, o príncipe de Biblos queixava-se a Akhenaton que contrariamente as calúnias, o seu território não estava atingido pela peste e que, portanto, o seu soberano egípcio não tinha razão para não lhe enviar socorro contra um inimigo ameaçador.
[29] Gn 17, 9-14: Deus disse a Abraão: “Quanto a ti, observarás a minha aliança, tu e tua raça depois de ti, de geração em geração. E eis a minha aliança, que será observada entre mim e vós, isto é, tua raça depois de ti: todos os vossos machos sejam circuncidados. Fareis circuncidar a carne de vosso prepúcio, e este será o sinal da aliança entre mim e vós. Quando completarem oito dias, todos os vossos machos serão circuncidados, de geração em geração.
[30] 1Ti, 2, 14-16: Irmãos, vós fostes imitadores das Igrejas de Deus que estão na Judéia, em Cristo Jesus; pois que da parte dos vossos conterrâneos tivestes de sofrer o mesmo que aquelas Igrejas sofreram por parte dos judeus. Eles mataram o Senhor Jesus e os profetas, e nos têm perseguido a nós. Desagradam a Deus e são os inimigos de toda gente. Querem impedir-nos de pregar aos gentios para que se salvem; e com isto enchem a medida dos seus pecados, até que a ira acabe por cair sobre eles.
[31] 2Co 11, 20: Se alguém vos subjugar, se alguém vos devorar, se alguém se apoderar de vós, se alguém for arrogante, se alguém vos bater na cara, suporta-o.