Há muito tempo, sabe-se da estreita relação entre doença e a organização social. Hoje, basta comparar o tipo de enfermidade, no mesmo período, nos países industrializados e nos subdesenvolvidos, para perceber a importância da saúde como indicador social.
Especialmente, depois da publicação dos trabalhos do pesquisador Susumi Tonegawa, o ganhador do prêmio Nobel da Medicina de 1987, esclarecendo algumas dúvidas de como ocorre a variação dos aminoácidos dos anticorpos produzidos pelos linfócitos B. O pesquisador demonstrou que quando o linfócito B se desenvolve, segmentos do seu material genético são selecionados e misturados para formar novos genes, dando origem a milhões de sequências variadas de aminoácidos, capazes de efetuar com mais ou menos competência a defesa do corpo humano contra as agressões micro e macroscópicas vindas do exterior.
Como consequência imediata dessas pesquisas, é possível afirmar que pelo menos parte da estrutura genética do homem é móvel e capaz de desenvolver, durante a vida, infinidade de combinações gênicas adaptativas. Para que este mecanismo biológico ocorra na sua plenitude é indispensável que o corpo disponha da mais importante fonte de energia – o alimento adequado.
Desse modo, caíram por terra, por meio da demonstração científica, os pressupostos étnicos racistas alimentados pelos interesses dos diferentes matizes ideológicos. Isso significa que as crianças subnutridas dos países pobres não poderão competir, em igualdades de condições, com outras dos países industrializados, onde a oferta de alimentos, indispensável para a maturação do genoma, é feita em níveis calóricos adequados.
Essa leitura da ciência também encontra suporte na História. A certeza da importância do sociocultural produzindo doença no homem já estava presente nos livros sagrados, escritos há milhares de anos.
Naquelas épocas, os legisladores utilizaram os poderes disponíveis e interferiram nos hábitos coletivos das populações. Assim, conseguiram determinar, ao longo dos séculos, modificações na cadeia epidemiológica de muitas doenças. O exemplo histórico de fácil verificação é o câncer do colo uterino, com baixa prevalência entre as judias. A atual explicação é dada pela cirurgia da fimose realizada, obrigatoriamente, nos homens judeus no sétimo dia após o nascimento. Com isto, o prepúcio do pênis fica livre, facilitando a higiene e impedindo que o vírus Epstein Baar, relacionado com a etiologia do câncer do colo uterino, se aloje na secreção que está presente na glande.