O dom ou o carisma, como dádiva divina, está ajustado à guarda do corpo e da sociedade. Aquele que possui o dom de curar pessoas ou grupo sociais (líder, messias, benzedor, pajé, padre, médico etc.) deve ser obedecido e reverenciado (Eclo 38, 1-2).
A cultura judaica admite o sinal da deidade – o milagre – assumindo lugar de magna importância, porque é a prova da materialização do dom, isto é, a fuga do conhecido, do natural, do esperado. Esse conjunto seria meritório de aclamação e júbilo.
Os primeiros padres da cristandade fizeram uma fantástica reelaboração teórica dos sinais do Antigo Testamento. Os milagres de Cristo, em particular as curas, descritos pelos quatro evangelistas, assumiram grande importância na apologética da nova religião.
O tomismo entendeu a importância do milagre como ato de fé e fato extraordinário produzido por Deus. Os anjos bons e os santos poderiam ser agentes na promoção dos acontecimentos situados à margem das leis naturais. Por outro lado, distinguiu o milagre do prodígio. Este último, simples simulacro, não era fruto do poder divino.
No Ocidente cristão medieval, os santuários curadores de Compostela e Jerusalém viveram séculos de glória, recebendo peregrinos de toda a cristandade. Nos últimos anos, o de Fátima, em Portugal, o de Lourdes, na França, e o de Medjugorje, na Iugoslávia, são muito procurados.
Incontáveis curas foram anunciadas pelos fiéis que procuraram o santuário de Fátima. Como o número excedeu os limites aceitáveis, foi criada, em 1982, comissão de médicos e religiosos, para analisar a veracidade dos milagres. Apesar do entusiasmo dos peregrinos, a Igreja Católica anunciou, em 1990, o 65º milagre. Trata-se de uma jovem siciliana de 25 anos, portadora de câncer ósseo no joelho. Em 1976, depois de ela ter permanecido uma semana próxima ao santuário, um ano depois, houve o completo desaparecimento da lesão.
No Brasil, a majestosa basílica de Aparecida, um dois mais importantes centros de peregrinação cristã, abriga milhares de mensagens de agradecimentos dos doentes que alcançaram a cura milagrosas das suas doenças.
Pouco importa se a Medicina não compreende as relações biológicas entre a cura e a fé, os santuários continuam recebendo incontáveis crentes na veracidade do milagre, todos essencialmente agregados aos componentes de fé e religiosidade.